FONTE: Fabrício Marques, (noticias.uol.com.br).
Um workshop
programado para acontecer entre os dias 13 e 14 de julho, em Botucatu, interior
paulista, vai reunir pesquisadores de universidades e instituições do estado de
São Paulo, uma delegação da Universidade de Keele, do Reino Unido, e
provavelmente um representante da fundação de apoio à pesquisa biomédica
britânica Wellcome Trust para discutir como ampliar colaborações científicas no
campo das doenças tropicais.
O encontro acontecerá
em Botucatu porque ali surgiu um fruto pioneiro dessa cooperação: a parceria
entre os biólogos Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia (Ibtec) da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Julien Pelletier, do Centro de
Entomologia e Parasitologia Aplicada da Universidade de Keele, no âmbito de um
acordo de cooperação celebrado entre a Fapesp e a universidade britânica em
2013. "O objetivo é que, ao fim dos dois dias de discussão, saiamos dali
com algumas ideias consolidadas para projetos de pesquisa em parceria que
possam ser submetidos a agências de fomento do Brasil e do Reino Unido",
diz Souza-Neto.
A parceria estabelece
visitas anuais de cada um dos pesquisadores ao laboratório do parceiro, ao
longo de um período de três anos. Atualmente, Souza-Neto está passando uma
temporada de três meses em Keele. Lá, aprende com Pelletier a trabalhar com uma
ferramenta criada recentemente, denominada CRISPR-Cas9, que permite silenciar
genes específicos de vetores e já resultou, por meio da manipulação de
embriões, na criação de insetos mutantes. Um dos focos da pesquisa de Pelletier
é compreender, analisando o comportamento de insetos mutantes, como genes
ligados ao sistema olfatório dos insetos influenciam a atração pelo ser humano.
Atualmente, ele está
desenvolvendo colônias de mosquitos mutantes, dos tipos que transmitem malária
na África (Anopheles gambiae), para realizar ensaios funcionais. Ao mesmo
tempo, o brasileiro compartilha sua expertise sobre respostas imunes do
mosquito da dengue com o colega, cuja experiência é mais calcada em vetores
como o mosquito causador da malária. Vai ajudá-lo a estabelecer, em seu
laboratório em Keele, um sistema de infecção de Aedes aegypti com vírus da
dengue. Em breve, Pelletier deverá passar uma temporada no Brasil. "Do meu
ponto de vista pessoal, a cooperação entre a FAPESP e a Universidade de Keele
representa uma grande oportunidade de desenvolver um programa de pesquisa
ambicioso combinando expertises do Brasil e do Reino Unido", diz
Pelletier. "Ao reunir dois componentes da biologia de vetores, que são o
olfato e a imunidade, acredito que podemos realmente contribuir para uma melhor
compreensão de como patógenos são transmitidos para os seres humanos. A rede
também se beneficiará com o compartilhamento de tecnologias entre o meu
laboratório em Keele e o do doutor Souza-Neto em Botucatu", afirma.
Intercâmbio
de conhecimento.
A chamada de projetos
no âmbito do acordo de cooperação entre a FAPESP e a Universidade de Keele
previa o recrutamento de um pesquisador brasileiro, atuando na área de doenças
tropicais, para trabalhar em sinergia com um grupo de Keele – a dupla seria
precursora de colaborações mais amplas no futuro. "A ideia era encontrar
dois grupos com linhas de pesquisas sólidas e complementares", diz
Souza-Neto. Os nomes de Souza-Neto e Pelletier despontaram justamente porque
atuam em áreas com bom potencial para intercâmbio de conhecimento. Nascido na
França, Pelletier estuda a fisiologia de insetos desde que se graduou na
Universidade Paris 6. Doutorou-se em biologia no Institut National de la
Recherche Agronomique, em Versailles, trabalhando com a caracterização de
proteínas olfatórias envolvidas com a recepção de feromônios pelas antenas da
mariposa do bicho-da-seda. Em 2013, depois de fazer pós-doutorado na
Universidade da Califórnia, Davis, nos Estados Unidos, e na Sveriges Lantbruks
Universitet, na Suécia, recebeu um convite para trabalhar em Keele.
Também em 2013, Jayme
Souza-Neto foi contemplado pelo programa Jovens Pesquisadores em Centros
Emergentes, da FAPESP, depois de ter feito um pós-doutorado de três anos no
Instituto de Pesquisas em Malária (JHMRI) da Johns Hopkins Bloomberg School of
Public Health (JHSPH), onde se dedicou a estudos com foco nas respostas imunes
dos mosquitos vetores a patógenos como dengue e Plasmodium. Como Jovem
Pesquisador da Fapesp, retornou à Unesp, onde concluiu o doutorado em genética
em 2006, para montar um laboratório voltado para estudos sobre o Aedes aegypti,
com foco na interação entre as bactérias que habitam o intestino dos mosquitos
e o vírus da dengue. O Laboratório de Genômica Funcional e Microbiologia de
Vetores (Vectomics), liderado por Souza-Neto, é dotado de aparelhos para
aplicações básicas em biologia molecular e câmaras para criação e infecção de
mosquitos. Também irá trabalhar com um sequenciador de nova geração Illumina
MextSeq recém-adquirido pelo Ibtec. Agora, vai ganhar uma plataforma de
mutagênese para manipular embriões de mosquitos.
Souza-Neto vai usar
essa tecnologia para nocautear genes do Aedes aegypti relacionados ao processo
de infecção, na tentativa de torná-lo refratário ao vírus da dengue. Sabe-se
que algumas respostas naturais do Aedes ao vírus são mediadas de alguma maneira
por bactérias presentes no intestino dos mosquitos. "A microbiota
intestinal influencia o desenvolvimento do patógeno no intestino do mosquito.
Queremos entender quais são essas relações entre o sistema imune do inseto, a
microbiota e o vírus da dengue e como isso afeta o desenvolvimento desses
patógenos do mosquito", diz o pesquisador.
Além de semear novas
colaborações, a dupla também vai envolver-se com o ensino de graduação, com o
objetivo de estimular o fluxo de estudantes entre os dois países.
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