FONTE: *** Camila Neumam, do UOL, em Porto Alegre, (noticias.uol.com.br).
Uma série de drogas
sintéticas são vendidas legalmente pela internet como incenso, sais de banho,
fertilizantes e pílulas. Essas substâncias imitam a maconha, a cocaína e o LSD
e escondem riscos ainda maiores à saúde, por serem até cem vezes mais potentes
e causarem efeitos drásticos como surtos psicóticos, alucinações e danos
cerebrais que podem levar à morte rapidamente.
O consumo destas
substâncias se tornou alarmante na Europa e nos Estados Unidos, onde já são
encarados como problema de saúde pública, e está crescendo na América Latina. No
Brasil, algumas destas drogas já estão na lista de substâncias proibidas pela Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária).
O problema é que, por
serem feitas em laboratório e misturadas as substâncias lícitas não
classificadas como entorpecentes, seu comércio é difícil de ser fiscalizado. Soma-se
a isso o fato de algumas destas drogas nem serem detectadas em exames
toxicológicos, o que não ajuda a criar prognósticos.
Sem muitas
informações sobre como elas são feitas e sobre seus consumidores, fica a
difícil tarefa de combater sua entrada nos países e de estudar todos os seus
efeitos.
Maconha
sintética.
A maconha sintética,
conhecida como spice (pimenta, em inglês), K2, Hi-5 ou incenso do diabo é
vendida na internet como odorizador de ambiente, geralmente com a frase
'impróprio para consumo humano'.
Ela tem como base
moléculas produzidas em laboratórios clandestinos, que imitam e potencializam o
efeito do THC (composto encontrado na maconha) e são aplicadas em folhas secas,
semelhantes a temperos.
"Os laboratórios
clandestinos produzem uma substância altamente potente em forma de gotinhas.
Elas são espalhadas em um material herbácio, como ervas finas parecidas com um
orégano, para serem fumadas. Assim a substância é diluída e faz efeito no
usuário", explica o psiquiatra Leonardo Paim, membro do Departamento de
Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, que fez
um levantamento sobre três novas categorias de drogas sintéticas descobertas
nos últimos anos.
Além de mais potente do que a versão natural, a maconha sintética causa efeitos devastadores na saúde de quem a usa e aumenta em 30 vezes a chance de internação.
"O que se vê com
a maconha sintética são quadros mentais e físicos muitos intensos como infarto,
derrame cerebral, convulsões, alucinações, crises de pânico e psicose porque
ela é feita com substâncias que não se sabe como são produzidas. Isso é muito
grave porque as pessoas não sabem o que estão consumindo", explica a
psiquiatra Fernanda de Paula Ramos, diretora do centro de tratamento de
dependência química de álcool e drogas Villa Janus, no Rio Grande do Sul, que
fez o levantamento junto com Paim.
Órgãos internacionais
de repressão às drogas já notificaram pelo menos 134 tipos de canabinóides
sintéticos no mundo, com base em apreensões, mas acredita-se que o número
comercializado seja bem maior.
Drogas
vendidas como sais de banho.
Outro tipo de droga
sintética que se popularizou são os cristais feitos à base de catinona,
composto estimulante extraído de uma planta africana chamada khat (Catha
edulis), usada em vários países como agrotóxico e repelente, mas que tem efeito
alucinógeno.
A droga é vendida
como cristais de sais de banho ou em pó, dizendo-se ser um fertilizante.
Conhecidas como "salt baths", "vanila sky", "miau
miau" e "flakka" são cheiradas, fumadas ou injetadas. Podem ser
vendidas como cocaína, causando efeitos semelhantes à droga clássica, como
euforia e excitação sexual, porém de formas mais exageradas. Crises paranóicas,
alucinações, agressividade e sentimento de perseguição também são efeitos
ligados ao uso das catinonas.
"As catinonas
mimetizam os efeitos da anfetamina, do ecstasy e da cocaína, substâncias
estimulantes que podem ser até cem vezes mais potentes do que essas drogas
originais. Já foram detectadas mais de 40 tipos", explica a psiquiatra.
Pior que LSD.
Já o NBOMe, uma
metanfetamina vendida em ampolas, pílulas ou em blotters (um papel embebido com
um líquido alucinógeno) tem efeito mais mortal do que o LSD. Pode ser
diferenciada pelo usuário pelo gosto do líquido, muito amargo, enquanto o LSD
não tem gosto.
"As drogas
conhecidas popularmente como NBOMe é da categoria das fenetilaminas, uma
família de substâncias com características alucinógenas potentes, consumidas de
modo semelhante ao LSD, mas com efeitos muito mais tóxicos e diversos relatos
de óbitos ligados a essa substância", explica Paim.
Essa foi a mesma
substância encontrada no sangue do estudante Victor Hugo Santos, 20, que
se afogou na raia olímpica da USP, após uma
festa. Segundo relatos de amigos, ele tinha saído para comprar uma cerveja
antes de sumir.
Outra morte de
brasileiro motivada pelo uso de drogas sintéticas foi a do empresário
catarinense Dealberto Jorge da Silva Júnior, 35, que
caiu acidentalmente de um prédio na região de Cancún, no México, em janeiro, após sofrer delírios de perseguição. Segundo
seu irmão, Fernando Luís da Silva, 33 que o acompanhava, ambos usaram drogas
que acreditavam ser ecstasy. Em surto, Dealberto telefonou para familiares e
amigos dizendo passar por uma ameaça de sequestro.
"O que mais
assusta nestas drogas são as gravidades dos efeitos. Há muitos relatos de
alucinações, gente fugindo de furação, tendo quadros delirantes e de
agressividade, além de quadros físicos muito graves como a overdose, infarto,
AVC, insuficiência renal e crises convulsivas", diz Ramos.
*** A jornalista viajou a convite do Congresso do Cérebro,
Comportamento e Emoções.
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