Uma combinação de
duas drogas conseguiu diminuir tumores em cerca de 60% de pacientes com
melanoma em estágio avançado, de acordo com uma nova pesquisa coordenada por
médicos britânicos.
Um teste
internacional com 945 pacientes descobriu que o tratamento com ipilimumab e
nivolumab fez com o câncer parasse de avançar por quase um ano em 58% dos
casos.
Médicos britânicos
apresentaram os dados na conferência anual da American Society of Clinical
Oncology, em Chicago.
A instituição Cancer
Research UK disse que as drogas eram um "golpe poderoso" contra uma
das formas de câncer mais agressivas.
De acordo com o Inca
(Instituto Nacional do Câncer), embora o câncer de pele seja o mais frequente
no Brasil (25% dos casos), o melanoma - que é mais grave, devido à
possibilidade de metástase - representa 4% dos tumores malignos de pele...
Sistema imunológico.
As duas drogas estão
ligadas ao campo da medicina que tenta aproveitar o próprio sistema imunológico
para combater o câncer - um campo que está se desenvolvendo rapidamente.
O sistema imunológico
é uma defesa importante contra infecções. Mas existem diversos mecanismos que
agem como freios para impedir o sistema de atacar nossos próprios tecidos.
Como o câncer é uma
versão modificada de um tecido saudável, ele se beneficia desses
"freios" e não é alvejado pelo sistema imunológico.
Mas o ipilimumab e
nivolumab desativam esses mecanismos.
Testes realizados com
945 pessoas mostrou que a combinação dos dois medicamentos levou a uma
regressão do tumor em ao menos um terço em 58% dos pacientes - com o tumor
permanecendo estável ou diminuindo por, em média, 11 meses e meio.
Tomar apenas o
ipilimumab levou a uma regressão do tumor em 19% dos pacientes durante 2 meses
e meio, de acordo com os dados publicados na revista científica New England
Journal of Medicine.
'Grande futuro'.
"Ao receitar as
duas drogas juntas você está de fato desativando dois mecanismos que impedem o
sistema imunológico de agir em vez de só um. Então esse sistema consegue
reconhecer tumores que não estava reconhecendo antes e reagir a isso
destruindo-os", disse James Larkin, um consultor no Royal Marsden Hospital
e um dos mais proeminentes pesquisadores em câncer do Reino Unido.
"Para
imunoterapias, nós nunca havíamos visto regressões de tumor acima de 50%, então
esse resultado é muito significativo."
"Essa é a
modalidade de tratamento que acho que terá um grande futuro no tratamento do
câncer."
A primeira análise
dos dados recebeu grande atenção na conferência em Chicago, mas a informação
mais importante - expectativa de vida dos pacientes que passaram pelo
tratamento - ainda é desconhecida.
"Esperamos que
essas respostas preliminares durem por mais tempo, mas no momento não é
possível dizer", disse Larkin.
Efeitos colaterais
como cansaço, irritação na pele ou diarreia também geraram dúvidas. Mais da
metade dos pacientes que passaram pelo teste tiveram efeitos colaterais na
terapia com os dois medicamentos, ante cerca de um quarto entre os que tomaram
apenas o ipilimumab.
Também não se sabe
por que algumas pessoas responderam excepcionalmente bem ao tratamento enquanto
outras não mostraram reação.
'Efeitos colaterais
sérios'.
"Essa pesquisa
indica que podemos dar um golpe violento contra o melanoma avançado ao combinar
esses dois tratamento de imunoterapia", diz Alan Worsley, do Cancer
Research UK.
"Juntas, essas
drogas podem desativar os freios do sistema imunológico e prejudicar a
capacidade do câncer de se esconder dele. Mas combinar os tratamentos também
aumenta a probabilidade de efeitos colaterais sérios", completou.
O ipilimumab é dado
de forma intravenosa a cada três meses e chegou ao Brasil em 2013. O nivolumab
é dado a cada duas semanas até parar de fazer efeito.
As duas drogas foram
desenvolvidas pela Bristol-Myers Squibb.
Muitas farmacêuticas
estão desenvolvendo medicamentos semelhantes para ter os mesmo efeitos no
sistema imunológico. Outro líder na área é o Pembrolizumab, da Merck.
Mas a grande
esperança é que essas imunoterapias se mostrem efetivas para outros tipos de
câncer.
'Me sinto ótima'.
A inglesa Cait
Chalwin, de 43 anos, começou o experimento após ser diagnosticada com câncer em
2013.
A princípio, os
médicos disseram que o tumor que ela tinha no rosto era benigno, mas depois ela
descobriu que era cancerígeno e havia se espalhado para seus pulmões. Os
médicos disseram que ela teria entre 18 e 24 meses de vida.
Ela foi tratada no
The Royal Marsden e o câncer está estável; mas ela largou o teste devido aos
efeitos colaterais.
"Estou me
sentindo ótima agora. Levou muito tempo até eu voltar ao normal, me sentir como
antes do diagnóstico, mas eu acredito que, se o tratamento não tivesse
funcionado, eu não estaria aqui agora."
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