Plantas carnívoras
alimentam a imaginação. Por isso, estão em novelas de ficção científica
("The Day of the Triffids"), em peças da Broadway ("Pequena Loja
dos Horrores") e na pesquisa recente que concluiu que as dioneias, ou
vênus papa-moscas, podem contar.
Não em voz alta,
claro. E ninguém está dizendo que as plantas têm consciência de que estão
contando. Mas, mesmo assim, essa é a primeira vez que alguém demonstra a
capacidade de contar de uma planta, segundo o pesquisador que liderou a
experiência, Rainer Hedrich, da Universidade de Wurzburg, na Alemanha.
Hedrich, Jennifer
Bohm e Sonke Scherzer, todos de Wurzburg, e uma equipe de outros cientistas
relataram sua pesquisa na revista Current Biology.
As dioneias são
plantas carnívoras. Vivem em terra pobre e tiram os nutrientes de que precisam
de insetos que apanham e dissolvem. Sua armadilha é um par de folhas que agem
como mandíbulas e estômago.
Quando um inseto
pousa e toca nos pelos que servem de gatilho na superfície das folhas, elas se
fecham. À medida que as enzimas digestivas penetram na armadilha, ela se torna
o que Hedrich chama de "estômago verde", e a presa gradualmente se
transforma em uma sopa nutritiva.
Os cientistas sabiam
que um inseto teria que bater nos gatilhos mais de uma vez para fazer com que a
armadilha se fechasse, provavelmente para evitar gastos de energia ao responder
a gotas de chuva aleatórias e aos fragmentos trazidos pelo vento.
Em uma experiência
recente, os pesquisadores estudaram como a planta respondia aos movimentos dos
pelos e determinaram que ela estava contando os impulsos elétricos que vinham
deles.
As plantas não têm
sistema nervoso para transmitir esses impulsos como os animais, mas um aumento
na eletricidade produzida pelas mudanças bioquímicas pode viajar pela
superfície das células.
Os pesquisadores
estimularam os gatilhos enquanto gravavam a atividade elétrica da planta. As
células motoras que fecham as folhas sobre as presas agiam apenas quando
recebiam dois sinais em cerca de 20 segundos. Isso significa que, de alguma
maneira, as células se lembravam do primeiro sinal por um curto período. Depois
de 20 segundos, esse primeiro impulso elétrico era esquecido, essencialmente
reiniciando o processo.
Mas fechar a
armadilha sobre o inseto é apenas o primeiro passo. A dioneia precisa também
dissolver a presa. Mexer duas vezes nos pelos que servem de gatilhos não foi o
suficiente para iniciar o mecanismo. Foi preciso mais de três estímulos no
gatilho para avisar às células que era hora de produzir enzimas digestivas para
começar o processo.
Na natureza, os
gatilhos são ativados várias vezes enquanto a presa se debate na armadilha.
Esse frenesi também dá à planta uma maneira de julgar a quantidade de enzimas
digestivas necessárias. Hedrich e seus colegas descobriram que mais sinais
elétricos vindo dos gatilhos se traduziram proporcionalmente em mais enzimas
despejadas no estômago verde.
O doutor David
Chapham, de Harvard, que estuda a bioquímica de como as células dos animais
geram sinais elétricos de modo a transmitir informações para seus sistemas
nervosos, disse que ficou intrigado pelo que pareceu ser um sistema que
funciona "na hora certa" de fornecer os sucos digestivos. A dioneia
gasta energia para produzir as enzimas apenas quando necessita delas e faz
somente a quantidade necessária, um mecanismo eficiente para uma planta que
vive em ambientes pobres.
O processo é lento se
for comparado com o que acontece em animais, diz ele, mas "as plantas têm
muito mais tempo para reagir".
Hedrich disse que os
sinais elétricos são produzidos a partir de mudanças bioquímicas e que esse
processo evoluiu muito cedo na história da vida. "Uma simples célula pode
ser excitada eletricamente", afirma.
Perguntado sobre
animais primitivos, como o verme C. elegans, estudado em vários laboratórios em
todo o mundo por muitos e muitos cientistas, ele brincou: "Acho que a
dioneia é muito mais inteligente do que o C. elegans". Depois, rapidamente
acrescentou com uma risada: "Não diga que fui eu que falei isso".
Nenhum comentário:
Postar um comentário