Segundo dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a infertilidade atinge de 15% a 20%
dos casais que desejam engravidar no Brasil. A taxa é um pouco menor que a
mundial: estudos da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam que 25% dos
casais em idade reprodutiva no mundo têm problemas de infertilidade.
Os números da OMS
apontam, ainda, que há um equilíbrio entre os sexos: a causa da infertilidade é
30% feminina e 30% masculina; em 25% dos casos os dois estão com algum problema
de infertilidade e nos 15% restantes a causa é desconhecida (mesmo depois de
muita investigação – é a chamada ISCA-Infertilidade Sem Causa Aparente).
Mesmo assim, é comum a
mulher se sentir culpada pela infertilidade até que se prove o que realmente
acontece com o casal. Sobram mitos e “certezas absolutas” a respeito da
responsabilidade feminina sobre a gravidez que não vem.
Para esclarecer o que é
mito e o que é verdade, conversamos com três especialistas sobre o
assunto: Karla Zacharias (ginecologista e especialista em
reprodução humana do Huntington Medicina Reprodutiva), Mario Cavagna (diretor
da Divisão de Reprodução Humana do Hospital Pérola Byington e integrante da
equipe médica da Genics Medicina Reprodutiva) e Ricardo Luba (ginecologista
e obstetra especialista em reprodução humana, parceiro da Genics Medicina
Reprodutiva). Tire todas suas dúvidas (e as caraminholas da cabeça).
Usar anticoncepcional
hormonal por muitos anos aumenta a dificuldade para engravidar.
Mito.
Anticoncepcionais hormonais, sejam eles em pílula, adesivo ou DIU, bloqueiam a
ovulação apenas momentaneamente, impedindo a rotura do folículo e a liberação
do óvulo. Quando deixam de ser usados, a ovulação é restabelecida e a gravidez
pode ocorrer. A regularização pode ser imediata ou levar até três ciclos
(aproximadamente três meses).
Mulheres com ovário
policístico não conseguem engravidar.
Mito.
O que acontece com frequência em casos de ovários policísticos é a anovulação
crônica: em alguns ciclos, mesmo havendo menstruação, nenhum óvulo é liberado.
Mas em outros ciclos a ovulação ocorre normalmente. É essa infrequência que torna
a fecundação uma “loteria” um pouco mais difícil de ganhar, mas a chance de
engravidar nos meses em que o óvulo sai é a mesma que qualquer mulher que não
tenha ovário policístico.
Quanto mais avançada a
idade da mulher, mais difícil engravidar.
Verdade.
O número de óvulos diminui progressivamente com o passar dos anos. Aos 25 anos,
a mulher tem 20% de chance de engravidar todo mês; aos 35, cai para 15%. A
partir dos 40 anos, a chance de engravidar naturalmente gira em torno de 5% e
7%.
Mulheres que já sofreram
aborto têm dificuldade para engravidar.
Mito.
Abortos naturais são comuns, principalmente depois dos 40 anos. Uma mulher pode
sofrer um aborto em um mês e no mês seguinte engravidar e levar a gestação
adiante.
Alguma dificuldade pode
surgir quando ocorrem dois abortos seguidos: a condição passa a ser considerada
aborto de repetição e requer investigação da genética do casal e de doenças
sistêmicas, funções endócrinas e outros elementos tanto da mulher quanto do
homem. E, mesmo assim, pode ser que a causa não seja descoberta – lembre-se dos
15% de ISCA que mencionamos ali no começo.
Mas, voltando ao
assunto inicial, o fato de ter havido um aborto não é sinônimo imediato de
dificuldade para engravidar.
Mulheres que pegam
pesado na malhação têm mais dificuldade para engravidar.
Verdade.
Exercícios físicos intensos, principalmente os aeróbicos (corrida, por exemplo)
podem diminuir a ovulação por causa da alta liberação de endorfina. Este
hormônio pode inibir a hipófise, que controla glândulas de secreção endócrina
do organismo. O fato de a gordura corporal ser muito reduzida também dificulta
o processo, pois a conversão dos hormônios ligados à ovulação ocorre no tecido
gorduroso.
A endometriose impede a
gravidez.
Há controvérsias.
Karla considera verdade, uma vez que o fato de o endométrio (o
tecido que reveste a parede interna do útero) crescer nas tubas uterinas e/ou
em outros órgãos pélvicos pode impedir o encontro do óvulo com o espermatozoide
e dificultar o processo da implantação.
Mario e Ricardo, porém,
veem a situação como mito: eles reconhecem que a endometriose pode
ser uma das causas da infertilidade, mas lembram que um tratamento clínico ou
uma técnica de reprodução humana pode resolver o problema, e que é discutível
se a doença prejudicará os resultados dos tratamentos.
Mulheres que ficam
muito nervosas com os resultados negativos de exames de gravidez acabam tendo
mais dificuldade para engravidar de fato.
Verdade.
Quando a ansiedade fica excessiva, o desequilíbrio emocional pode interferir
nos níveis hormonais e dificultar a fecundação.
Mulheres com apenas uma
trompa e um ovário não conseguem engravidar.
Mito.
Se o ovário produzir óvulos e a trompa não estiver obstruída, a mulher
engravida.
Uma rotina estressante
atrapalha as chances de engravidar.
Verdade.
O estresse pode causar disfunções hormonais, alterar o ciclo menstrual e a
ovulação e diminuir as chances de sucesso para uma gestação.
Ter o útero
retrovertido impede a gravidez.
Mito.
Útero retrovertido ou invertido é apenas uma possibilidade natural de
posicionamento do útero, e cerca de 15% das mulheres nascem assim. A posição do
útero não interfere na fertilidade: os espermatozoides conseguem chegar às
tubas e fecundar os óvulos normalmente.
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