O
simples fato de associação de medicamentos está sujeito a neutralizar, diminuir
ou aumentar o efeito de uma ou mais drogas usadas no tratamento de doenças com
consequências imprevisíveis, porém reais.
Atualmente, existe
preocupação quanto ao uso de medicamentos que podem causar problemas no
organismo humano se usados com outros medicamentos ou com drogas ilícitas. O
chamado risco de interação medicamentosa.
Fui proferir uma
palestra cujo título era "Acidentes de trânsito por drogas ilícitas e
álcool". Porém, achei que faltava uma abordagem maior em função dos
acidentes causados por uso e interações de medicamentos de uso farmacológico em
doenças crônicas. Sendo assim, criei o exemplo do senhor Hipertensivo (nome
fictício): homem de 60 anos de idade, hipertenso em uso de
anti-hipertensivos, mas, irregularmente. Hipertensivo, às vezes esquecia de
tomar os remédios na hora certa e, muitas vezes, tomava todos de uma vez só,
pensando que podia ser assim. Durante um período, usou grandes doses do
diurético. O resultado foi uma série de episódios de cãibras, motivo do
acidente em que ele quase atropelou um ciclista e hoje se recupera de um
traumatismo oriundo desse episódio. A causa maior foi uma queda excessiva do
potássio sanguíneo devido ao diurético em alta quantidade, o que promove o
aparecimento de cãibras.
O outro exemplo foi o
de dona Tireoidinia (nome fictício), condutora profissional de van escolar e
que precisa usar hormônio tireoidiano por causa do seu hipotireoidismo. Estando
um pouco acima do peso, resolveu fazer uso de uma fórmula de emagrecimento. No
entanto, essa fórmula continha quantidades expressivas de hormônios da
tireoide. Resultado: Tireoidinia aumentou excessivamente o seu metabolismo,
apresentou uma reação de aumento das batidas do coração e teve palpitações. Ela
pensava que ia morrer e entrou em pânico. Bateu a van no fundo de um carro
parado no sinal vermelho.
Essas são estórias
fictícias. Foram elaboradas para ilustrar para o público da palestra que o
risco de acidentes de trânsito causados por interações medicamentosas pode ser
comum entre os condutores de veículos.
O simples fato de
associação de medicamentos para diminuir a pressão arterial, o diabetes, o
hipotireoidismo, insuficiência cardíaca, mal de Parkinson, estados ansiosos,
depressivos, angina e muitas doenças mais, está sujeito a neutralizar, diminuir
ou aumentar o efeito de uma ou mais drogas usadas no tratamento dessas doenças
com consequências imprevisíveis, porém reais.
Temos vários exemplos
dessas interações, tais como: antialérgicos (anti-histamínicos) com inibidores
da ansiedade (benzodiazepínicos) causando sonolência, falta de atenção,
incoordenação motora, tontura e, às vezes, confusão mental.
Psicoestimulantes com
inibidores de apetite à base anfetaminas podem levar a agitação,
desconcentração, estados ansiosos e, algumas vezes, experiências do pânico.
Outro exemplo é
anti-hipertensivos com analgésicos tendendo a aumentar a pressão arterial do
indivíduo por neutralização da ação anti-hipertensiva pelo analgésico gerando
ansiedade, palpitações e irritabilidade.
No fim da palestra,
mostrei o seguinte cenário: as cidades crescem, o número de carros aumenta, a
idade dos motoristas tende a aumentar e também contamos com a pouca idade dos
jovens habilitados. Nos idosos, a progressão natural das doenças geriátricas
com consequente aumento do uso de medicamentos, bem como a introdução de outras
substâncias lícitas, ilícitas e consumo de álcool representam aumento dos
fatores de risco para as interações medicamentosas e os acidentes de
trânsito.
Está lançada a
provocação para a discussão sobre esse problema urbano pouco estudado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário