Imagine que você está
em casa, meio solitário, e abre sua rede social preferida para se distrair um
pouco. Eis que entra a foto de duas grandes amigas, juntas, no que parece ser
uma festa animadíssima. Não que elas tivessem obrigação de te convidar, mas, lá
no fundo, bate uma certa mágoa, não bate?
Você pode não ter
passado pela situação acima, mas, segundo pesquisadores, a maioria das pessoas
experimenta a sensação de exclusão social ao navegar no Facebook ou em
plataformas similares. E quase diariamente. A questão é que as pessoas adoram
publicar suas selfies em festas ou encontros, mas ninguém convida todos
os amigos para tudo. No fim das contas, tem sempre alguém que pode se sentir
rejeitado ao visualizar a foto.
Pesquisadores da
Universidade de Buffalo, nos EUA, fizeram experimentos com quase 200 usuários
do Facebook e seus contatos, simulando cenários de exclusão social. Eles
constataram que a sensação é tão perturbadora que chega a atrapalhar o
raciocínio das pessoas, a ponto de torná-las mais vulneráveis aos anúncios
publicitários que pipocam na rede. A conclusão foi publicada no periódico Social
Science Computer Review.
A explicação da equipe,
coordenada pelo professor de comunicação e pesquisador Michael Stefanone, é que
a exclusão social, mesmo quando não intencional, é algo que as pessoas não superam
fácil. Imediatamente após a emoção negativa aflorar, há um esforço mental de
regulação. Explico melhor: se a foto incômoda era num bar lotado, por exemplo,
a reação da amiga excluída pode ser procurar desculpas, como pensar "eu
nem queria ir, odeio lugares cheios". Ou então caçar na memória quantas
vezes, nos últimos meses, as mesmas amigas fizeram algo que não a agradou.
Lembro que existem muitas outras situações capazes de gerar essa sensação de
não pertencimento, que nem sempre é tão clara para quem sente.
Esses pensamentos
automáticos podem ocupar uma parte considerável dos recursos mentais da pessoa
naquele momento, o que, para os pesquisadores, deixaria o usuário sem sobra
para questionar um discurso persuasivo, como o publicitário. Ao brigar com os
próprios sentimentos, mesmo os mais inteligentes ficariam mais propensos a
acreditar que um perfume ou roupa podem deixar alguém mais atraente.
Podemos extrapolar os
resultados da pesquisa e imaginar o impacto que essas emoções negativas podem
gerar diante do próprio conteúdo de outros usuários. Adolescentes tímidos,
diante de gente que parece muito bem acompanhada com álcool na mão. Adultos
infelizes com o próprio corpo, diante de sugestões de emagrecimento fácil que
colocam a saúde em risco, e assim por diante. Ter consciência da
vulnerabilidade pode ser o primeiro passo para se proteger da mágoa e também de
falsas promessas.
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