Algumas pessoas são capazes de doar o que tiverem na carteira para um
estranho na rua, enquanto outras chegam a inventar desculpas até para um
parente próximo a fim de não emprestar dinheiro. Você pode imaginar que essas
diferenças têm a ver com valores individuais, caráter, religiosidade ou até,
quem sabe, com herança genética. Mas, para um grupo de pesquisadores da
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, a generosidade das pessoas é
determinada pelos seus vizinhos.
A equipe que faz afirmação passou seis anos estudando o comportamento de
um grupo étnico de caçadores-coletores da Tanzânia chamado Hadza, um dos poucos
a viver de forma muito semelhante ao estilo de vida experimentado durante
milhares de anos, por nossos antepassados. Os resultados, publicados no
periódico Current Biology, demonstram que as pessoas que vivem ao nosso
redor exercem uma influência enorme quando o assunto é ser, ou não, mesquinho.
Os Hadza vivem em pequenos agrupamentos temporários, e mudam de
vizinhança periodicamente, para tentar conseguir mais comida, sem carregar o
resto do grupo consigo. Os pesquisadores descobriram que os níveis de
generosidade dos homens de cada acampamento eram muito semelhantes entre si.
Mas, ao mudar para outro grupo, os integrantes se ajustavam aos novos vizinhos.
Não foi verificada qualquer preferência pelos grupos que exibiam maior
espírito de cooperação, como muita gente pode imaginar. Os integrantes apenas
moldavam suas atitudes de acordo com o que prevalecia em cada local. Se num
acampamento era comum as pessoas ajudarem umas às outras, o novo habitante
fazia o mesmo. Já se no grupo seguinte a turma era mais egoísta, o
comportamento era modificado para seguir a tendência.
É como se uma pessoa vivesse num bairro em que todo mundo dá esmolas aos
mendigos na rua, mas, ao mudar para uma região em que a norma é ignorar os
pedintes, ela passasse a copiar a atitude. Mas os valores não deveriam
permanecer os mesmos, independente do bairro escolhido para viver? Segundo o
estudo, não é assim que funciona.
Mais de 90% das calorias consumidas pelos Hadza provêm de caça ou coleta,
por isso a preocupação com a falta de comida é constante entre esses nômades.
Para lidar com a escassez, é comum que os integrantes dividam aquilo que
encontram com o resto do grupo. A cooperação tem sido fundamental para a
sobrevivência dos Hadza ao longo de milênios, mas os pesquisadores que a
disposição variava entre os 56 acampamentos visitados.
Em cada local, os pesquisadores selecionavam alguns adultos para receber
quatro porções mel, a guloseima mais apreciada pelos Hadza. Eles tinham que
decidir se dividiam toda a comida com os vizinhos ou não. A equipe ficou
surpresa ao confirmar que a tendência a distribuir ou não a guloseima não era
estável, mas determinada pelas pessoas que estavam ao redor do sujeito da
pesquisa.
Pelo jeito, o ser humano é bastante flexível quando se trata de cooperação.
Pode-se concluir, portanto, que não há mocinhos e bandidos. Por outro lado, se
a generosidade é contagiosa, tomar a iniciativa pode fazer diferença na sua
vizinhança.
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