FONTE:, http://www.isaudebahia.com.br
Conheça
as causas, sintomas e tratamentos da Amiloidose Cardíaca.
Criado pela Federação
Mundial do Coração (World Heart Federation), o Dia do Coração, celebrado
anualmente em 29 de setembro, tem o objetivo de divulgar os perigos das doenças
do coração e prevenir sua ocorrência e do acidente vascular cerebral. Segundo a
entidade, essas enfermidades são a causa de 17 milhões de mortes por ano, em
todo o mundo.
Entre as medidas
preventivas, a Federação destaca a promoção de um estilo de vida saudável e
eliminação de hábitos nocivos a exemplo do tabagismo e do sedentarismo e o
controle de doenças crônicas como a hipertensão e o diabetes.
Pela passagem da data
especial, o iSaúde Brasil procurou abordar um tema incomum: a amiloidose
cardíaca, mais conhecida como síndrome do coração rígido. Para isto,
conversamos com o cardiologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública, Dr. Mário de Seixas Rocha.
iSaúde Brasil - A
amiloidose cardíaca, também conhecida como síndrome do coração rígido, é uma
doença rara. O que é essa enfermidade e quais são os seus sintomas?
Mário de Seixas Rocha
- A amiloidose cardíaca é de fato uma condição incomum
causada pela deposição anormal de um composto a base de proteínas no coração. A
deposição ocorre nos átrios, ventrículos, vasos coronarianos, sistema de
condução e válvulas cardíacas. Em função destes fatos, existe aumento da
espessura da parede miocárdica sem a presença de hipertrofia, resultando em
ventrículos não dilatados associados a alargamento dos átrios. Sintomas de
falta de ar, retenção hídrica e de baixo debito cardíaco como fraqueza, fadiga,
sincope e intolerância ao exercício podem ocorrer. A presença de dor torácica
ou angina não é incomum e está relacionada à redução, por motivo desconhecido,
da reserva do fluxo coronário. Arritmias atriais estão comumente associadas ao alargamento
atrial. A infiltração do nó sinusal e nó atrioventricular podem levar a
bradiarritmias (alterações da frequência e/ou ritmo cardíaco) e bloqueios
cardíacos completos.
iSaúde Brasil - Existe
algum grupo de risco que possui maior probabilidade de desenvolver a doença?
Mário de Seixas Rocha
- A amiloidose familiar hereditária é mais comumente
transmitida por traço dominante e autossômico. Mais de 70 mutações já foram
descritas e geralmente acomete pessoas na terceira década de vida. Uma das
mutações mais comuns é a substituição do aminoácido isoleucina pela valina na
posição 122 condição esta que ocorre principalmente na população negra. Das
proteínas descritas como possíveis formadoras de amiloide, duas predominam no
envolvimento cardiovascular: a transtirretina (TTR) e a de cadeias leves de
imunoglobulina (AL). A TTR está associada a amiloidose cardíaca senil que
acomete predominante indivíduos com idade próxima dos 70 anos.
iSaúde Brasil - Como a
doença é diagnosticada?
Mário de Seixas Rocha
- A amiloidose pode ser suspeitada de forma não
invasiva por meio de um ECG característico com baixa voltagem. A doença é
evidenciada mais claramente por achados característicos à ecocardiografia como
aumento da espessura biventricular de distribuição concêntrica em indivíduos
com alto nível de suspeição clínica. Os átrios estão invariavelmente dilatados.
Existe uma textura granular característica que afeta o miocárdio.
Adicionalmente outras modalidades de imagem como ressonância magnética cardíaca
são utilizados para descrição morfológica e caracterização tecidual. Exames de
medicina nuclear são altamente específicos. Compostos isotópicos podem
localizar seletivamente infiltrados amiloides e ajudar com o diagnóstico. O
diagnóstico definitivo é estabelecido por biopsia miocárdica.
iSaúde Brasil - A
síndrome do coração rígido leva ao aparecimento de outras enfermidades?
Mário de Seixas Rocha
- Os paciente com amiloidose podem ter envolvimento
localizado e sistêmico como cordas vocais, globo ocular ou ainda acometer os
rins acarretando a síndrome nefrótica. Os indivíduos podem ainda cursar com
síndrome de má absorção, disfunção hepática, insuficiência autonômica e
neuropatia periférica.
iSaúde Brasil - Como
ocorre o tratamento da amiloidose cardíaca?
Mário de Seixas Rocha
- Habitualmente tratamos indiretamente os sintomas de
insuficiência cardíaca com diuréticos em alta dose. Os inibidores da enzima
conversora da angiotensina (ECA) e da angiotensina II podem ser introduzidos
com extrema cautela devido a pobre tolerância. Nos casos avançados, inibidores
da aldosterona podem ser úteis. Devido a maior sensibilidade a intoxicação
devem ser evitados os digitálicos. Mais recentemente uma droga intervencional
chamada de tafamidis foi utilizada em pacientes com mutação da proteína
transtirretina (TTR) e se mostrou promissora na redução de mortalidade de todas
as causas, hospitalização cardiovascular, além de melhora funcional e da
qualidade de vida dos pacientes.
iSaúde Brasil - Nos
casos em que a síndrome do coração rígido se apresenta em estado crítico é
indicado a realização do transplante de coração, quais os sinais de que a
doença já se encontra em situação grave?
Mário de Seixas Rocha
- O manejo da amiloidose cardíaca está profundamente
associado a controle dos sintomas de baixo débito. A progressão da doença
sistêmica leva a quadros dramáticos de insuficiência cardíaca que não são
responsivos às medicações disponíveis. Devido ao pobre prognóstico destes
indivíduos é indicado o transplante cardíaco.
iSaúde Brasil - Quais
os tipos de amiloidose e qual variação da enfermidade é a mais perigosa?
Mário de Seixas Rocha
- A forma amiloide senil tem uma evolução
consideravelmente mais lenta que as formas hereditárias que são mais
agressivas. Historicamente pacientes com formas cardíacas e de acometimento
autonômico são as de pior prognóstico. O envolvimento renal e periférico são
relativamente menos malignos.
iSaúde Brasil - Existe
alguma maneira de prevenir o aparecimento da amiloidose cardíaca?
Mário de Seixas Rocha -
Não existe forma conhecida de prevenir a amiloidose cardíaca.
Autor(es).
Mário de Seixas Rocha.
Professor Adjunto
Doutor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Coordenador da Unidade
Coronariana do Hospital Português. Diretor Técnico do Hospital Português
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