sábado, 6 de março de 2010

JANIO LOPO...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).
Não poderia escrever hoje neste espaço sobre outro tema que não fosse, com sentimento profundo e difícil de expressar – pois reside no coração, onde é mais percebido que na mente, sedes da escrita e da fala – o colega Janio Lopo, morto durante a sua terceira grande crise cardíaca, pois outras menores já haviam ocorrido.Às duas primeiras ele resistiu. Mas a terceira o levou. Não saberia dizer o que mais terá contribuído para isso, se o chamado que sempre chega, mas só em casos extremamente raros se tem previamente conhecimento do momento, se o cigarro do qual se afastava após cada crise e ao qual voltava após pouco tempo de abstenção.Discutir porque ele fez neste momento, com 52 anos ainda incompletos, a passagem que leva à outra realidade, invisível para nós, mas tão ou mais real do que esta – a mutação da crisálida que ganha a liberdade das borboletas – talvez seja menos importante ou menos útil, agora, do que lembrar um pouco do que ele foi e representou no jornalismo baiano. Tenho uma razão muito especial para fazer isto. É que a função de Editor de Política da Tribuna da Bahia, que ele exerceu com dignidade, coragem e independência (acumulando-a com a de colunista político), foi antes, em dois períodos – o primeiro, de 14 anos, o segundo, de cinco anos – ocupada por mim. Posso dizer, com satisfação – a única que sinto nesta ocasião – que os critérios de seriedade, verdade e competência que humildemente sempre busquei imprimir à Editoria foram por ele mantidos. E a isso acrescentou qualidades outras que ao meu alcance não estavam. Mas falar da competência profissional de Janio Lopo seria chover no molhado. A mim, colega e amigo seu, como tantos outros, obrigatório é – pois profunda injustiça seria não fazer este registro – assinalar algumas características do seu caráter ou modo de ser fora da profissão. Janio foi sempre um ser prestativo e desapegado do ter e do mandar, um daqueles seres humanos que não vieram para serem servidos, mas para servir, que vieram para fazer sorrir e não para se queixar, chegando em certos momentos não profissionais a dar a impressão de que não levava a vida muito a sério, que brincava com ela e seus problemas.No jornalismo baiano – com o fim dos seus 30 anos de carreira, 20 dos quais no jornalismo político – e no coração de seus colegas e amigos, sua morte produz um vazio difícil de preencher. Mas, para ele e para nós, tenho certeza, a vida continua.
Lá e cá.
A Deus, Janio.

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