quinta-feira, 11 de março de 2010

LULA EXPLICA OBRA...

FONTE: IVAN DE CARVALHO (TRIBUNA DA BAHIA).

Ora, no dia 9 foi publicado aqui um artigo meu, sob o título “Lula falou sério”. Começava com alguma ironia:“Bravo. O presidente Lula falou sério.Aconteceu ontem.
Ele não disse que o estado de saúde de seu amigo, o comandante Fidel, é ótimo.Nem que a Venezuela é uma democracia, quer dizer, continua sendo, apesar da investida caudilhesca e até agora incontida do coronel-presidente-ditador Hugo Chávez.
Tampouco não afirmou que sua visita ao Irã para retribuir a visita do “presidente” Mhamoud Ahmadinejad tem objetivo básico de “negócio”, ao invés do objetivo político e diplomático de dar alento a um dos governos mais aloprados do mundo – avaliação que quase todo o mundo faz.”E seguia mais um pouco nessa linha o artigo, até referir comentários sérios e por mim elogiados de Lula a respeito do déficit da Previdência Social.Mas, por favor, esqueça o leitor o que escrevi antes para abrir mais espaço ao que acaba de dizer o presidente, que desta vez – mais esta – não falou sério.A mais recente viagem de Lula a Cuba coincidiu com a morte, em consequência de uma greve de fome de 85 dias do preso político Orlando Zapata Tamayo. Na ocasião, o presidente do Brasil julgou por bem desaconselhar greves de fome, alegando que, quando sindicalista, fez uma, não gostou e desistiu. Em defesa da atitude de Zapata, dos direitos humanos e da luta por eles, dos outros prisioneiros políticos cubanos e de crítica às leis e ao governo que os prende, nem um pio.
Pegou mal. Muito mal. Terrivelmente mal. E desde então o presidente e o governo vêm tentando encobrir a estranha “obra”, explicar a declaração aloprada. Mas quanto mais mexe, mais fede.
Ontem fedeu insuportavelmente, por conta de uma entrevista exclusiva concedida pelo presidente à agência de notícias Associated Press. Lula comparou o herói Zapata aos presos comuns brasileiros. “Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de deter as pessoas em função da legislação de Cuba. A greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.”
Guillhermo Fariñas, um dos dissidentes em greve de fome, passou a mensagem de que Lula é “cúmplice da tirania dos Castro”. Eu não o contestaria. E como pode ele ser cúmplice da tirania em Cuba, ou na Venezuela, ou no Irã, e defensor da democracia no Brasil? Só faria sentido e ganharia seriedade se aceitarmos a tese do jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, que, ontem, em seu blog, sugeriu um epitáfio: “Aqui jaz uma vítima dos aloprados de todas as ideologias”. Suponho que o epitáfio seja para Zapata, mas caberia como uma luva para o discurso do presidente Lula neste episódio.Ah, em Cuba existe uma “lei de periculosidade” que permite prender e manter preso um “cidadão” – em Cuba, cidadão deve ser escrito entre aspas – que não haja cometido delito algum, mas apenas por supor a autoridade que ele poderia cometê-lo.É a Polícia do Pensamento, imaginada por George Orwell em “1984”, operando.

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