domingo, 7 de março de 2010

MENINOS DE RUA USAM DINHEIRO DE ESMOLAS PARA COMPRAR DROGAS...

FONTE: Bruno Menezes, CORREIO DA BAHIA.
“Consiga 5 reais e garanta seu reggae”. A dica é de um menino de aparentes 10 anos de idade para outro da mesma faixa etária, recém-chegado do interior do Estado. A quantia: uma pedra de crack vendida na Roça da Sabina, invasão que fica na avenida Centenário. O objetivo: conseguir o dinheiro, trocar pela droga e consumir num dos pontos usados pelos meninos de rua no Chame Chame e na Barra, área nobre da cidade.
Os garotos aprendem a montar estratégias para conseguir o dinheiro na escola da vida. A tática mais adotada inclui o maior supermercado na região. É entre as gôndolas do Bom preço que os meninos abordam os clientes. “E pedem leite em pó, biscoitos, latas de cereais e até sanduíches prontos. Tudo isso vira droga minutos depois”, conta uma caixa do supermercado, que, por medo de represálias dos meninos, pede para não ser identificada.
Não é só entre as gôndolas que os garotos imploram pelos pacotes de alimentos. Muitos se fazem passar por empacotadores. “Acho um absurdo. Somos submetidos aos olhares de constrangimento de todos quando negamos pacotes de leite em pó ou biscoitos.Como eu não pago comida para o menino se eu estou levando cerveja para casa? É um questionamento das pessoas e se torna desagradável para o cliente”, diz Marcela Falcão, 32 anos, que, acompanhada do filho, acabou pagando R$ 2 pelo serviço do ‘empacotador’.
SACIS
No térreo, os meninos parecem sacis. Pulam por todos os lados, na tentativa de distrair os seguranças. “Se a gente der uma brecha, eles sobem correndo. Já recebemos ordens pra não deixar subir”, conta um dos homens contratados pelo supermercado. “E eles ficam gritando que são menores e que não podemos tocar neles. Por isso, temos que ter cuidado”, completa.
Durante a semana, o CORREIO acompanhou os meninos. No elevador do supermercado, que só funciona para descer, há um truque. “Enfiam um pedaço de papel entre as portas e os sensores destravam o elevador. Aí eles sobem”, diz o segurança.
Dona de uma lanchonete no térreo, Maria (nome fictício) teve o celular roubado por um dos meninos na terça-feira. “Liguei para meu número de volta e o aparelho já havia sido vendido para um homem, no posto de gasolina aqui do lado. Num piscar de olhos”. Maria lembra que, no mesmo dia, uma cliente pagou um lanche para um deles. “Ele queria que eu devolvesse o dinheiro da cliente para ele e aceitasse o lanche de volta. Disse que não e ele se revoltou. Sentou-se na calçada e vendeu o lanche por R$ 2”,lembra ela que sempre briga com os meninos e os coloca para fora da lanchonete.
LEITE
Após conseguirem o dinheiro, o destino é a Roça da Sabina. Se o lucro do dia vier em produtos, todos aos pontos de ônibus que ficam em frente ao mercado, onde as mercadorias são vendidas a preços mais baratos. “Eles vendem leite e biscoitos que custam bem mais caro a R$ 5 para conseguir a pedra. Às vezes, quando estou no ponto, indo para casa, eles tentam me vender as mercadorias”, revela a caixa. Para o segurança, a tarefa é também ingrata. “O pior é chegar em casa e dormir pensando que, no dia seguinte, vou fazer tudo de novo. Eles vêm todo dia”, diz.

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