sexta-feira, 5 de março de 2010

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS DA CAPITAL PREOCUPA ALUNOS, PAIS E PROFESSORES...

FONTE: *** Bruno Menezes e Jorge Gauthier, CORREIO DA BAHIA.
Desde 2007, a dona de casa Nancy denuncia à direção do colégio Rotary, em Itapuã, uma série de irregularidades que ocorre na instituição. Segundo ela, mãe de aluno que cursa o ensino médio, ali há tráfico e uso de drogas e uma série de casos de violência tão cruéis que ela optou por transferir o filho de turno. “O que me deixou mais inquieta é que ele saiu da manhã para a noite e estamos vendo que é mais tranquilo, apesar de a sensação de segurança ser menor sem a luz do sol”, explica a dona de casa, que pede para não ser identificada.
PARA NANCY - o nome é fictício -, o problema mais grave enfrentado pelo filho foi a convivência com os criminosos, que chegam a pular o muro da escola para vender drogas. Ela lembra que um dos amigos do filho, também vizinho no bairro onde moram, acabou se envolvendo com bandidos. “Ele devia aos traficantes e teve que fugir. A mãe dele morreu logo depois e nunca mais tivemos notícias. É triste saber que isso aconteceu no lugar onde deveriam estar estudando”, completa.
Os casos de violência estão espalhados na cidade. Esta semana, dois casos chocaram pais, alunos e educadores. Na terça-feira, um aluno da 5ª série da Escola Estadual Padre Palmeira, em Mussurunga, foi baleado no pátio do colégio.
O estudante, de 15 anos, foi ferido no braço e na barriga. O garoto, que foi atendido no Hospital Geral do Estado, segue internado. Segundo a equipe médica, apenas uma bala atingiu o jovem.
De acordo com alunos, amigos da vítima se envolveram numa briga com outros estudantes. Um deles, revoltado, saiu da unidade e, quando voltou, armado, disparou.
Já na manhã de quarta-feira, um aluno de 15 anos invadiu a sala durante a chamada e desferiu um golpe de faca no pescoço do professor de artes Marcos Nonato Santos Costa, 44 anos, que leciona no Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia, em Cajazeiras IV.
MARÇO.
Assim como no ano passado, os crimes acontecem na volta às aulas. Em 2009, foram três crimes só em março. E os casos não param de acontecer, seja qual for a ação, dentro ou fora das escolas. No mesmo dia em que o aluno esfaqueou o professor, na quarta, um estudante teve a carteira furtada no colégio Suzana Imbassay, no Barbalho. Tudo aconteceu na hora do intervalo, quando o aluno, de 16 anos, saiu da sala para beber água. “Ela estava na mochila. Nunca pensei em tirar de lá porque pensei que a escola era segura”, disse o estudante da 6ª série, se referindo à carteira. Os alunos chegaram a ser revistados, mas o autor do crime não apareceu.
O sofrimento continua para registrar a ocorrência. “Ligamos para o 190 e mandaram a gente ir a qualquer delegacia. Viemos na Derca, mas não conseguimos fazer a ocorrência porque a delegacia estava cheia. Os policiais mandaram fazer pela internet, na delegacia digital, porque era um crime comum”, disse uma tia do garoto sobre o tratamento que recebeu na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente.
“A escola fica próxima da comunidade Pela-Porco. Os traficantes circulam pela escola, vendem drogas e roubam as pessoas”, completa a tia, que já pensa em mudar o sobrinho de escola. No colégio, ano passado, teve vários roubos de celulares, segundo ela.
MENINAS.
Um militar, que trabalha nas Rondas Escolares em Cajazeiras, conta que os alunos esperam a passagem da viatura pela escola para poder agir. “Alternamos o horário da ronda, mas quando a gente sai eles aprontam. A direção das escolas sempre liga pedindo apoio quando nós saímos, mas não podemos ficar o tempo todo em uma escola só”.
Outro militar das Rondas Escolares lembra que é constante o envolvimento das meninas nos delitos. “Antes era muito raro fazermos a condução de meninas para a delegacia”, conta o policial que há dois anos trabalha no grupo especial da PM, que conta com 430 policiais por mês. O grupo realiza um rodízio de PMs. Na semana passada, mais de 520 policiais concluíram curso que habilita para a ronda escolar.
CÂMERA NAS ESCOLAS.
Representantes da Secretaria da Educação se reuniram na quinta-feira (4), pela manhã, com a diretoria do Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia para garantir o funcionamento e discutir novas ações e medidas para aumentar a segurança da escola. De acordo com a secretaria, a unidade já está iniciando o processo de compra, por meio de licitação, de um sistema de monitoramento por câmeras. “Não é algo que acontece na escola, foi um acidente, um caso isolado. Temos uma boa relação na escola e mantemos um diálogo permanente com a comunidade que vive no entorno”, informou a diretora, Firmina Azevedo.
A escola conta com 2.993 alunos e 86 professores. O professor de artes Marcos Nonato já recebeu alta do Hospital Geral do Estado (HGE) e se recupera em casa após receber a facada. A direção da escola afirma que acionou a ronda escolar assim que o crime foi cometido.
Os policiais conduziram o garoto para a Delegacia do Menor Infrator (DAI), onde ele foi autuado e encaminhado para a 2ª Vara da Infância e Juventude. “Ficamos perplexos, a comunidade não é violenta. A escola desenvolve um trabalho em parceria com a comunidade, grêmio estudantil e colegiado escolar para promoção da cultura de paz”, diz a diretora. Ela informou que vai discutir com familiares e o colegiado sobre a vida escolar do aluno.
RONDAS ESCOLARES COMBATEM O CRIME.
Responsável pelo esquema de segurança pública especial para o período de aulas, o comandante do projeto Rondas Escolares, capitão Ubiracy Vieira, afirma que os casos de violência ocorrem, principalmente, nas unidades que compõem a Rede Estadual de Ensino. “As unidades da rede estadual acabam sendo as que apresentam maior demanda, principalmente em função do público que atende, com muitos jovens. Não são todos, mas muitos já possuem em sua história algum problema de estrutura familiar e financeira que contribui para isso”, conta.


Filiada ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), a professora Elza Melo garante que, de fora para dentro, a violência é ainda mais intensa. “A droga influencia muito, principalmente nas relações interpessoais. Fora os muitos problemas que os alunos trazem de casa, como conflitos familiares in tensos e que interferem no dia a dia dos colégios”, conta a professora.
Para ela, é complicado para o professor exercer sua função de educador quando o grupo de alunos já chega à sala de aula com famílias desajustadas. “Eles transferem esses problemas para os professores, que também, muitas vezes, já chegam com a sua própria gama de problemas pessoais. Ele acaba se tornando um psicólogo”, diz.
Tanto a professora Elza quanto o capitão Ubiracy concordam em mais um ponto: não existe zona de risco. “Não tem as piores. Acontece em qualquer uma. Na área nobre ou na periferia. Extrapolou as questões geográfica e de classes sociais. Recebemos muitas denúncias de professores esfaqueados, agredidos e ameaçados”, revela a professora, acrescentando que muitos são obrigados a pedir remoção da escola.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 05/03/2010 do CORREIO.

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