sábado, 1 de junho de 2013

NEM SEMPRE A MALHAÇÃO FAZ BEM...

FONTE: Carlos Vianna Junior, TRIBUNA DA BAHIA.

Ele malha mais que os colegas de academia. Seus amigos estão sempre apontando que ele “cresceu”, mas ele não se convence. Deixar de malhar um dia que seja, na sua cabeça, é como se os músculos que tanto lhe custaram fossem desaparecer. Como o espelho não confirma o que todos reparam, ele acaba por usar de artifícios químicos para alcançar um objetivo que, se depender do seu senso crítico, nunca será alcançado. Se você conhece alguém com essas características, saiba que ele pode ser portador de um distúrbio psicológico conhecido como vigorexia.

Tássio Araújo, estudante de 18 anos, admite ter os sintomas do transtorno. “Preciso ir à academia todos os dias, até mesmo nos feriados. É muito importante estar com o meu corpo bem”, revela. Ele pratica atividades físicas há alguns anos, mas a intensidade dos exercícios e cargas na academia aumentou subitamente nas últimas semanas. Tássio revela que não consegue viver sem atividade física e nunca está satisfeito com o seu corpo. “Malho todos os dias, inclusive nos feriados, me olho no espelho sempre, vejo treinos na internet e tomo suplementos”, diz.

Estudo feito com 1.307 adolescentes e publicado no jornal americano “Pediatrics”, em novembro de 2012, constatou que 90% deles se exercitam para ganhar músculos. Até aí, tudo bem. O problema é quando a busca por músculos vem acompanhada de uma insatisfação irremediável com o corpo, o que já foi detectado por diversos estudos. Um exemplo é a pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, citada pelo jornal Folha de São Paulo. A pesquisa mostra que entre 641 jovens entrevistados, de 11 a 17 anos, 54,3% dos garotos se declararam insatisfeitos com sua imagem.

Segundo o psiquiatra Celso Alves dos Santos Filho, do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Unifesp, em entrevista para o mesmo jornal paulista, “muitos pesquisadores consideram a vigorexia um subtipo de dismorfofobia que é uma alteração na autoimagem". No espelho, a pessoa se enxerga de forma negativa, o que não condiz com a realidade, levando o portador do distúrbio a enfrentar também problemas sociais.

De acordo com a psicóloga do Hapvida Saúde, em Salvador, Lívia Vieira, o que permite diferenciar a vigorexia de uma busca sadia pelo bem-estar é justamente quando o exercitar passa a afetar a qualidade de vida do indivíduo. “O indivíduo se afasta dos parentes e amigos, tendo sua atenção toda voltada para a prática de exercícios”, explica. A psicóloga salienta, ainda, que os vigoréxicos raramente admitem seu acometimento. Por isso, o diagnóstico e o início do tratamento, muitas vezes, costumam ser iniciados tardiamente.
Entre os principais sintomas da vigorexia estão uma mudança brusca de comportamento, quando a pessoa passa a se preocupar ostensivamente com o corpo, demonstrando sentimentos de inferioridade e de insatisfação com a aparência. Dedicação excessiva aos exercícios físicos, passando a comprometer outras atividades sociais como, por exemplo, evitar convites de lazer para não perder um dia de treino na academia.

O tratamento é multidisciplinar, envolve psicoterapeuta, médico, nutricionista, professores de educação física, preparador físico. Aconselha-se a busca pela abordagem da terapia cognitivo-comportamental por ser recurso eficaz para o paciente identificar as distorções do comportamento e restaurar a autoimagem e a autoconfiança. Em alguns casos, pode ser necessário ministrar medicação para controlar a depressão, ansiedade e os sintomas obsessivos-compulsivos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário