FONTE: Carlos Vianna Junior, TRIBUNA DA BAHIA.
Ele malha mais que os colegas de
academia. Seus amigos estão sempre apontando que ele “cresceu”, mas ele não se convence. Deixar de
malhar um dia que seja, na sua cabeça, é como se os músculos que tanto lhe
custaram fossem desaparecer. Como o espelho não confirma o que todos reparam,
ele acaba por usar de artifícios químicos para alcançar um objetivo que, se
depender do seu senso crítico, nunca será alcançado. Se você conhece alguém com
essas características, saiba que ele pode ser portador de um distúrbio
psicológico conhecido como vigorexia.
Tássio Araújo, estudante de
18 anos, admite ter os sintomas do transtorno. “Preciso ir à academia todos os
dias, até mesmo nos feriados. É muito importante estar com o meu corpo bem”,
revela. Ele pratica atividades físicas há alguns anos, mas a intensidade dos
exercícios e cargas na academia aumentou subitamente nas últimas semanas.
Tássio revela que não consegue viver sem atividade física e nunca está
satisfeito com o seu corpo. “Malho todos os dias, inclusive nos feriados, me
olho no espelho sempre, vejo treinos na internet e tomo suplementos”, diz.
Estudo feito com 1.307
adolescentes e publicado no jornal americano “Pediatrics”, em novembro de 2012,
constatou que 90% deles se exercitam para ganhar músculos. Até aí,
tudo bem. O problema é quando a busca por músculos vem acompanhada de uma
insatisfação irremediável com o corpo, o que já foi detectado por diversos
estudos. Um exemplo é a pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina,
citada pelo jornal Folha de São Paulo. A pesquisa mostra que entre 641 jovens
entrevistados, de 11 a 17 anos, 54,3% dos garotos se declararam insatisfeitos
com sua imagem.
Segundo o psiquiatra Celso Alves
dos Santos Filho, do Programa de Atenção aos Transtornos
Alimentares da Unifesp, em entrevista para o mesmo jornal paulista, “muitos
pesquisadores consideram a vigorexia um subtipo de dismorfofobia que é uma
alteração na autoimagem". No espelho, a pessoa se enxerga de forma negativa,
o que não condiz com a realidade, levando o portador do distúrbio a enfrentar
também problemas sociais.
De acordo com a psicóloga do
Hapvida Saúde, em Salvador, Lívia Vieira, o que
permite diferenciar a vigorexia de uma busca sadia pelo bem-estar é justamente
quando o exercitar passa a afetar a qualidade de vida do indivíduo. “O
indivíduo se afasta dos parentes e amigos, tendo sua atenção toda voltada para
a prática de exercícios”, explica. A psicóloga salienta, ainda, que os
vigoréxicos raramente admitem seu acometimento. Por isso, o diagnóstico e o
início do tratamento, muitas vezes, costumam ser iniciados tardiamente.
Entre os principais sintomas da vigorexia
estão uma mudança brusca de comportamento, quando a pessoa passa a se preocupar
ostensivamente com o corpo, demonstrando sentimentos de inferioridade e de
insatisfação com a aparência. Dedicação excessiva aos exercícios físicos,
passando a comprometer outras atividades sociais como, por exemplo, evitar
convites de lazer para não perder um dia de treino na academia.
O tratamento é multidisciplinar, envolve
psicoterapeuta, médico, nutricionista, professores de educação física,
preparador físico. Aconselha-se a busca pela abordagem da terapia
cognitivo-comportamental por ser recurso eficaz para o paciente identificar as
distorções do comportamento e restaurar a autoimagem e a autoconfiança. Em
alguns casos, pode ser necessário ministrar medicação para controlar a depressão,
ansiedade e os sintomas obsessivos-compulsivos.
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