FONTE: Thamires Andrade, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Com a chegada do
verão, surge a vontade de emagrecer e, para alcançar este objetivo, muita gente
opta por seguir alguma dieta da moda. A última da vez é a "A dieta dos 2
dias" (Editora Sextante), criada pelo médico e produtor Michael Mosley e a
jornalista Mimi Spencer, que propõe dois dias de "jejum" – homens
devem consumir 600 calorias, mulheres 500 – e uma alimentação normal, mas sem
exageros, nos outros cinco dias.
Com os termômetros
marcando temperaturas elevadas, é preciso ter cuidado redobrado para seguir
essa dieta no verão, já que, segundo nutrólogos ouvidos pelo UOL, há riscos de
seguir uma dieta restrita nesta estação.
O jejum prolongado
associado ao calor, por exemplo, pode provocar queda de pressão. "Ao
adotar uma dieta com baixa quantidade de sódio em dias mais quentes, a pessoa
pode ter queda de pressão no meio da rua e até mesmo ter uma queda grave",
diz a nutróloga Liliane Oppermann.
Um dos principais
problemas para Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira
de Nutrologia), é que o calor promove uma perda significativa de água e
eletrólitos, como potássio, magnésio e sódio, portanto é necessário ficar
atento para repor os líquidos.
Os idealizadores da
dieta pregam que o jejum acelera o metabolismo, fazendo com que organismo
queime mais gordura. No entanto, esse choque metabólico não é consenso entre os
especialistas. "O ser humano não foi programado para perder peso. Quando
um paciente faz uma dieta muito drástica, o corpo cria um mecanismo de
armazenar calorias para proteção e isso deixa o metabolismo mais lento.
Portanto, nem sempre o jejum ajuda a acelerar a queima calórica", diz a
nutróloga.
Compulsão e outros riscos.
Nos dias de jejum, a
dieta recomenda fazer apenas duas refeições ("mini-almoço" e jantar),
já que a quantidade de calorias disponíveis no dia é pequena - - para ter uma
ideia, 500 calorias correspondem a um sanduíche com queijo cheddar e 600
calorias é um milk-shake de chocolate. Ainda assim os nutrólogos recomendam
fracionar as refeições mesmo nesses dias.
"Fracionar as
calorias é fundamental, pois é um mecanismo fisiológico para evitar a fome. O
ideal é não ficar mais de três horas sem comer, mas para isso é preciso buscar
alimentos com baixo teor calórico para montar o cardápio", afirma Filho.
Segundo a professora
da academia Bio Ritmo Larissa Kussano, a indicação é não praticar nenhum tipo
de atividade física nos dois dias de jejum. "É arriscado praticar algum
exercício, pois o glicogênio já está sendo usado para manter as funções normais
do corpo. Fazer um dia de jejum e ainda ir para academia pode resultar em
tontura e hipoglicemia (baixa concentração de glicose no sangue)", alerta.
Além de afetar o
corpo, o jejum também pode causar problemas no trabalho e nos relacionamentos.
"Como a dieta é drástica alguns sintomas podem atrapalhar o dia a dia,
como a visão ficar turva, ter taquicardia, ficar muito mal humorado, estressado
e irritadiço. Não há risco de desnutrição, mas de ter alguns sintomas que vão
deixar o paciente incapacitante provisoriamente", diz Opperman.
Para quem tem
tendência a compulsão alimentar, jejuar pode ser o gatilho para ter episódios
compulsivos. "O jejum é agressivo fisicamente e emocionalmente. O paciente
pode acabar tendo uma crise, comer em excesso, desenvolver arrependimento e
provocar bulimia", afirma a nutróloga. O episódio de compulsão se
caracterizada quando a pessoa, mesmo saciada, continua comendo. "Nosso
corpo dá sinal de saciedade, mas mecanismos emocionais confundem isso e a
pessoa come para preencher o 'vazio'. Às vezes acaba até vomitando por uma
questão de espaço, ela já comeu tanto que não cabe mais nada", afirma.
Questão matemática.
Quem resolver adotar
a dieta precisa ter atenção ainda nos outros cinco dias em que deve se
alimentar normalmente. Os criadores recomendam seguir um plano alimentar
de 2.000 calorias durante esses cinco dias, mas defendem que não é necessário
ficar contando calorias o todo tempo.
Para Filho, a questão
é matemática, já que para emagrecer um quilo é necessário eliminar de 7.000 a
9.000 calorias, é preciso tomar cuidado com o que vai ao prato diariamente para
não colocar a dieta a perder.
"O paciente deve
fazer uma análise com um médico para detectar a quantidade de calorias que
necessita para passar um dia. Por exemplo, uma pessoa precisa de 1.600 calorias
para que nem ganhe peso, nem perca. Com base nesse cálculo, feito com calorimetria
indireta e bioimpedância, ele vai conseguir emagrecer nos dias de jejum",
explica o presidente da Abran.
Nesses cinco dias, a
atividade física está liberada. Kussano indica a musculação, para evitar
a perda de massa magra durante o emagrecimento, e atividades intensas e
intervaladas. "Os exercícios intensos geram mais mudança metabólica,
importante para emagrecer. O aluno pode intercalar corridas com trote,
circuitos que envolvem musculação e corrida, pois essa alternância mantém a
frequência cardíaca elevada", ensina.
Reeducação alimentar.
Os especialistas
ouvidos pelo UOL concordam que a dieta ajuda a emagrecer, mas que não dá
bons resultados a longo prazo por não ser uma reeducação alimentar. "Essa
dieta não atua no cotidiano, não reeduca os hábitos do paciente, portanto
dificilmente ele conseguirá manter o que tiver emagrecido. Hoje, nosso maior
desafio não é emagrecer o paciente, mas sim mantê-lo magro", diz Opperman.
Portanto, para evitar
o "efeito sanfona", a nutróloga indica uma dieta personalizada e estruturada
para que a pessoa possa corrigir o que faz de errado e não engordar novamente.
Para emagrecer mais
rápido, Opperman também aconselha praticar mais atividade física. "O
paciente pode fazer uma dieta de 1.200/1.400 calorias diárias, que não tem um
cardápio restritivo, e aumentar o tempo que passa na academia para aumentar o
gasto calórico", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário