FONTE: *** Jairo Bouer (doutorjairo.blogosfera.uol.com.br).
Muitos jovens perdem
a paciência quando os pais repetem que não se deve aceitar bebidas de
estranhos. Mas o fato é que colocar álcool, sedativos ou outras drogas na
bebida de alguém para obter vantagem sexual, dinheiro ou por simples diversão é
uma realidade, e não uma lenda urbana, como muita gente pensa.
Pesquisadores da
Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, decidiram avaliar o
fenômeno do “spiked drink” (que pode ser traduzido como “bebida batizada” ou
“Boa Noite, Cinderela” por aqui) de perto. No país, uma pesquisa no Google com
o termo traz milhares de links com conselhos para se evitar a cilada e até kits
para detecção de drogas em drinques.
A equipe avaliou
dados de mais de 6.000 estudantes de três universidades diferentes. Ao todo,
462 alunos (ou 7,8% da amostra) reportaram 539 incidentes em que teriam sido
drogados ou alcoolizados contra a vontade. Desse total, 83 jovens (ou 1,4%)
admitiram que já tinham “batizado” a bebida de alguém ou viram alguém fazendo
isso.
As vítimas mais
frequentes, segundo o estudo, foram as mulheres, em 89% dos casos. Também foram
elas as que amargaram as piores consequências. Elas foram mais propensas a
responder que o episódio tinha o abuso sexual como intenção, enquanto eles
disseram mais que o objetivo era a simples diversão.
Os resultados foram
publicados na revista Psychology of Violence, da Associação Americana de
Psicologia. Os autores observam que o estudo tem algumas limitações, como o
fato de que não havia como comprovar se a pessoa tinha sido mesmo vítima de uma
bebida batizada, ou se ela acreditava nisso, mas, na verdade, tinha consumido
um drinque mais forte do que de costume, ou ingerido algum remédio que interage
com álcool. Outra questão é que muitas vítimas não se lembram do que aconteceu
depois de “apagar”.
Mesmo assim, o estudo
mostra que o “spike drinking” não é algo tão raro. Outros trabalhos já
resultaram em números semelhantes ou até mais altos – os pesquisadores citam
um, feito na Austrália, em que 25% de 805 jovens diziam ter vivenciado uma
situação desse tipo. Para eles, não basta orientar possíveis vítimas, mas
também possíveis autores, que podem achar a ideia divertida. Assim como ninguém
pode ser obrigado a fazer sexo, todo mundo tem o direito de saber o que está
consumindo. Gente pode morrer por causa de uma bebida batizada.
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