FONTE: Lucas Rodrigues, Do UOL, em São Paulo, (noticias.uol.com.br).
Cientistas
descobriram que é possível combater tumores cancerígenos utilizando células do
sistema imunológico de uma pessoa saudável no corpo de uma pessoa com a doença.
A pesquisa com a descoberta foi feita pelo Instituto de Câncer da Holanda e
pela Universidade de Oslo, na Noruega, e publicada semana passada pela revista Science.
Os pesquisadores
observaram que ao inserir em laboratório componentes de células do sistema
imunológico de um doador saudável nas células de um paciente com câncer é
possível fazer com que seu organismo reconheça os tumores e passe a atacá-los.
A pesquisa foi feita com três pacientes com melanoma, um tipo de câncer de
pele.
É função dos
linfócitos T diferenciar células do organismo de corpos estranhos. Quando esses
corpos são reconhecidos, são desencadeados estímulos imunológicos que destroem
ou eliminam o invasor. O problema é que nem sempre as células imunológicas
reconhecem o câncer como um invasor. Isso permite a sua proliferação pelo
corpo.
"A célula
tumoral é traiçoeira. Ela tem algumas técnicas para desligar e escapar do
sistema imunológico", afirma Denyei Nakazato, oncologista do Hospital
Sírio-Libanês e do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo).
Para avaliar essa
capacidade de reconhecimento pelos linfócitos T, os pesquisadores mapearam
todos os antígenos que poderiam estimular uma resposta às células de câncer de
pele de três pacientes. Antígeno é toda substância que, ao entrar no organismo,
é capaz de iniciar uma resposta imune, ativando os linfócitos.
Os linfócitos
T dos pacientes com a doença deixavam passar despercebido fragmentos estranhos
de células tumorais. Já linfócitos derivados de voluntários saudáveis
conseguiram detectar um número significativo de antígenos.
Avanço de técnicas.
Para Alex Meller,
urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o estudo é
promissor, apesar de envolver apenas três pacientes. Ele afirma que uma técnica
parecida já havia sido testada com tumor de rim no Hospital Sírio-Libanês, mas
teve uma resposta pouco eficaz. A novidade com o novo estudo seria a sugestão
de transferir as células entre pacientes imunologicamente parecidos por meio do
sangue.
"No teste no
Brasil, as próprias células do paciente acabaram reconhecendo as novas como
anômalas e acabava havendo uma reação. O potencial de matar o tumor diminuía
porque o paciente reconhecia aquilo como estranho", diz.
Rafael Schmerling,
oncologista clínico do Hospital São José da Beneficência Portuguesa de São
Paulo, acredita que esse também é um risco para o novo estudo. "O paciente
pode reconhecer essas células como estranhas. Mas se elas viverem, começam a
crescer, se multiplicar e fazer parte do sistema imunológico da pessoa",
afirma.
Schmerling
define o novo estudo europeu como um avanço de técnicas com conceitos que já
vinham sendo utilizados. Segundo
ele, a estratégia mais recente de terapia celular para o combate ao câncer
consiste em modificar as células do próprio paciente para que as proteínas do
tumor sejam reconhecidas pelo sistema imunológico.
"Nesse estudo,
em vez de 'ensinar' as células do próprio paciente os cientistas estão pegando
as células competentes de outras pessoas para combater o tumor", analisa.
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