FONTE: Carmen Vasconcelos ( ), CORREIO DA BAHIA.
O baixo rendimento escolar, a troca de sílabas durante a
pronúncia das palavras e a aparente timidez podem indicar problemas na audição.
Aos 13 anos, Sheila Vieira perdeu a audição como
consequência de meningite meningocócica que só foi diagnosticada quando era
tarde demais. O mal-estar e a prostração foram tratadas como uma virose
qualquer. “A partir do sétimo dia doente, comecei a ouvir pouco. Consultamos
mais uma vez o médico, que disse ser uma característica normal de um quadro de
dengue. Como não melhorei, dois dias depois minha família me levou ao otorrino,
que deu o diagnóstico de otite. No dia seguinte, eu já não ouvia mais nada e fui
internada às pressas, quase em convulsão”, conta.
A meningite provocou a perda
auditiva neurossensorial profunda bilateral. Com todo o apoio dos familiares,
Sheila conseguiu se graduar em Enfermagem, tem mestrado e doutorado em
Andamento com Foco em Deficiência Auditiva.
O sucesso da enfermeira não é uma
regra. A Organização Mundial da Saúde afirma que 60% das perdas auditivas
em crianças podem ser prevenidas. Dentre os principais problemas, 40% são
fatores genéticos, 31% surgem por infecções (rubeóla, meningite, sarampo,
otites, caxumba) e 17% são causas relacionadas ao parto (prematuridade, baixo
peso ou complicações durante o nascimento).
Segundo o médico
otorrinolaringologista Fayez Bahmad Jr, a observação deve ser constante e, ao
primeiro sinal de perda auditiva, é fundamental buscar um médico.
“Desde recém-nascido até a fase
escolar, recomendamos que os pais vejam como seus filhos respondem aos
estímulos durante as conversas, brincadeiras e interações, porque o retorno
indicará se existe ou não alguma anormalidade”, explica.
Para o médico, além dos pais, os
educadores também têm um papel importante para evitar a surdez definitiva. “Em
relação aos professores, é importante que fiquem atentos quando o aluno
demonstra uma distração recorrente, não responde, aparenta tristeza e fica
muito sozinho”,diz ele, ressaltando que algumas vezes, o isolamento social
passa a ser encarado como timidez e as baixas notas como desinteresse, e na
verdade, são sinais que o aluno não está ouvindo bem.
Cuidados.
Para justificar os cuidados, o médico ressalta que apenas 10% dos casos de
surdez estão corretamente diagnosticados. ”É importante salientar que até os 3
anos, os casos identificados têm um bom prognóstico de tratamento e reversão do
caso”, pontua o médico.
Segundo ele, no Brasil, a
saúde auditiva ainda é menosprezada. Mesmo os profissionais da área,
acrescenta, esquecem que inúmeras doenças infecciosas podem causar surdez, além
de que os exames de triagem auditiva devem começar com o recém-nascido, através
do teste da orelhinha, e seguir ao longo da vida.
Com postura parecida, a
otorrinolaringologista Clarice Saba lembra que pais precisam tomar
cuidado para que hábitos da vida moderna não comprometam a qualidade do ouvir,
especialmente, entre os adolescentes.
“Ouvir música alta também é um
problema, pois o som pode lesar as células ciliadas da cóclea (o
“computadorzinho” do ouvido) de forma irreversível. O hábito de ouvir música
alta em fones é preocupante. Alguns aparelhos podem alcançar 120
decibéis(dB)”, diz Clarice, destacando que numa conversação normal, o volume
é 60 dB, e que o ouvido humano, teoricamente, pode suportar até 80 dB, a
depender do tempo de exposição.
Segundo Fayez Bahmad Jr para
garantir que não haja perda auditiva com o uso de fones, o ideal é sempre
buscar volumes medianos. “Se o limite é de um até o dez, por exemplo, o volume
ideal ficaria no cinco”, ensina.
Os estágios da falta de audição na infância podem ser:
Leve Dificuldade para ouvir e entender
quando se fala baixo ou a uma certa distância;
Moderado Não consegue ouvir a fala
normal/curta distância
Intenso Ouve somente conversas mais
fortes e sons mais intensos no ambiente. Há ainda a percepção de sons fortes
apenas como vibrações.
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