FONTE: Paula Moura, Colaboração para o UOL
(noticias.uol.com.br).
O Chile está prestes
a proibir a venda
de Kinder Ovo e McLanche Feliz pela falta de
nutrientes e pelo excesso de algumas substâncias como o sal no próximo mês. Os Estados
Unidos acabaram de lançar novas regras para reduzir a quantidade de sódio em pizzas e comidas processadas. O Brasil já fez um
acordo com a indústria alimentícia para reduzir o sódio. Os três países, em
comum, têm uma crescente população de obesos.
O consumo máximo de
sódio recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de 5 g/dia. Brasil
e Chile apresentam índices altos, com média de 12 g/dia. Nos EUA, onde há uma
lei que recomenda no máximo 2,3 g/dia, a média de consumo está em 3,3 g/dia.
Ao mesmo tempo,
principalmente nos EUA, porta-vozes da indústria alimentícia contestam essas
diretrizes. Leon Bruner, chefe de ciência da Associação de Produtores de
Gêneros Alimentícios, a maior organização do setor nos EUA, disse neste mês que
"é preciso um trabalho adicional para determinar a variação aceitável de
consumo de sódio para a saúde" e que "essa avaliação deve incluir
pesquisas que indicam que os riscos à saúde tanto para as pessoas que consomem
muito sódio quanto para as pessoas que consomem muito pouco sódio".
Uma pesquisa da
Universidade de Columbia (EUA) analisou no início deste ano a produção
científica sobre os efeitos do sal na saúde e mostrou que existe uma
polarização entre os que apoiam que a redução do consumo como diretriz à
população faz bem à saúde e aqueles que acham que não faz diferença.
No total, 54% dos estudos
avaliados pela equipe do pesquisador Ludovic Trinquart apoiam a redução de
consumo de sódio, 33% são contrários e 13% são inconclusivos.
Eles revisaram 269
publicações realizadas entre 1979 e 2014. Mais da metade dos trabalhos foi
publicada a partir de 2011 - sugerindo um aumento do interesse na questão. Os
trabalhos foram divididos entre os que confirmavam ou refutavam a associação
entre a redução do consumo de sal e taxas mais baixas de doenças cardíacas,
derrame e morte.
"O que os
autores falam é que há uma polarização. Porém, não são muitos os pesquisadores
na área e há uma tendência de usarem as mesmas referências para embasarem seus
achados", diz Viviane Laudelino Vieira, nutricionista do Centro de
Referência para a Prevenção e Controle de Doenças Associadas à Nutrição da
Universidade de São Paulo.
Notou-se um viés nas
escolhas das referências usadas nos trabalhos: pesquisas pró-redução se
basearam em trabalhos que também apoiavam a medida e excluíram estudos
contrários. E, em geral, os artigos contra e a favor usavam sempre os mesmos
estudos considerados mais influentes.
Para Renata Cintra,
pesquisadora em Nutrição da Unesp (Universidade Estadual Paulista), é
importante não haver unanimidade e instigar pesquisas:
O trabalho publicado
gerou discussão entre os especialistas, o artigo alerta que há necessidade de
questionamentos e que os consensos direcionados aos especialistas em diferentes
áreas de saúde devem ser revistos a luz de novos dados científicos.
Ela acredita que
falta indicar melhor o que é considerado redução, uma vez que a redução de
níveis moderados (entre 3-5 g/dia) para baixo parece ser mais benéfica que
quando os níveis são elevados (> 5 g/dia).
Além disso, ressalta
Renata, a proposta do Departamento de Saúde de Nova York para a indústria de
alimentos e os restaurantes se envolva na redução do consumo de sal certamente
contribuiu para as discussões no meio acadêmico e não acadêmico. "As
críticas ao trabalho perpassam pelo interesse da indústria de alimentos, uma
vez que o consumo de sódio é proveniente principalmente dos alimentos
industrializados", diz.
Apesar das
divergências, as autoridades de saúde pública pelo mundo optaram por adotar
políticas de redução do consumo.
Os trabalhos no
Brasil geralmente apoiam a redução do consumo. "Os estudiosos permanecem
com o consenso de que o sódio (e assim o sal, cloreto de sódio) deve ser
controlado em até 5 g sal/dia", diz Renata Cintra.
Por que o sal é
importante?
Renata explica que o
sódio é um nutriente considerado essencial, ou seja, deve estar sempre na
alimentação, caso contrário há danos ao organismo.
O sódio é necessário,
por exemplo, para o envio de informações do sistema nervoso aos músculos para
que a realização dos movimentos musculares, ou ainda absorção de nutrientes da
alimentação no intestino, como alguns aminoácidos e açúcares.
Mas, em excesso,
elevaria a propensão a doenças cardíacas, derrame e morte.
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