FONTE: Cintia Baio, Colaboração para o UOL (noticias.uol.com.br).
Ela chega de
mansinho, começa a incomodar e só passa depois de uma boa dose de analgésico.
Quem nunca sofreu com aquela dor de cabeça que teima em não passar? De acordo
com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, sete em cada 10 mulheres e
metade dos homens têm pelo menos um episódio de dor de cabeça ao mês
no Brasil.
O curioso é que,
diferentemente de outros órgãos, a dor na cabeça não é um indicativo —pelo
menos na grande maioria dos casos— de que o cérebro não vai bem. E por um
motivo bem simples: nosso cérebro "não sente dor".
O que dói, na
verdade, são as lesões em estruturas que ficam bem próximas ao cérebro e que
tem sensibilidade a dor, como as membranas que envolvem o órgão (meninges) e os
ossos (periósteos), os vasos sanguíneos, o couro cabeludo e a musculatura da
cabeça e o pescoço. O cérebro mesmo é tão insensível aos estímulos dolorosos
que nem é preciso aplicar anestesia no tecido cerebral durante uma operação,
permitindo que muitos pacientes fiquem acordados durante todo o procedimento.
E por que ele não dói?
Em nosso corpo,
existem milhares de neurônios sensoriais, chamados de nociceptores, cujo
trabalho é informar ao cérebro que algo não está bem. Alguns, detectam
substâncias químicas nocivas, outros percebem temperaturas altas ou baixas
demais e outros detectam danos a nossa estrutura física, como torções, fraturas
e queimaduras.
Os nociceptores
também variam pela maneira como entregam essas mensagens ao cérebro. Alguns são
responsáveis por avisar sobre a primeira "explosão de dor" que temos
quando algo acontece (como bater o dedo na porta). Outros estão relacionados à
dor difusa, ou seja, aquela que fica incomodando lentamente.
Quando batemos uma
parte de nosso corpo ou acontece alguma lesão nas estruturas internas (no caso
da dor de cabeça), esses sensores enviam uma mensagem de dor a medula espinhal
que a repassa para o cérebro.
Quando o sinal de dor
atinge o cérebro, ele vai para o tálamo que o direciona para diferentes áreas
de interpretação e o corpo entende que algo errado aconteceu. É aí que o órgão
consulta sua "biblioteca" de emoções e indica a intensidade da dor. O
problema é que, embora nosso cérebro seja um supercomputador que traduz a dor,
ele não possui nociceptores em sua estrutura, por isso não consegue sentir dor.
O problema pode estar em
outro lugar.
Além de incidentes
nas membranas e vasos sanguíneos, a dor de cabeça pode acontecer por outros
fatores. De acordo com um artigo publicado pela Universidade de Stanford, nos
Estados Unidos, o cérebro também pode se equivocar na localização da dor, uma
vez que existem diferentes tipos de tecidos e nervos em nossa cabeça (alguns
muito pequenos).
É o que acontece, por
exemplo, com a sinusite. Embora a doença esteja relacionada a um processo
inflamatório dos seios da face, sentimos que a dor está no centro da cabeça.
Esse tipo de dor é conhecido como "dor referida". É quando alguém diz
sentir dor no braço ao ter um infarto ou dor no peito ao ter um problema no
pulmão.
Um outro exemplo
dessa "confusão" acontece no processo conhecido como "brain
freeze". Quando ingerimos algo muito gelado, como um sorvete, sentimos uma
espécie de "pontada" na cabeça. No entanto, o "problema"
está em nossa boca.
Ao tomar algo muito
gelado, os vasos sanguíneos da boca se ampliam muito repentinamente, ativando
os nociceptores da boca. Segundo o artigo, infelizmente, esses nociceptores não
são muito precisos em sua descrição de onde a dor está vindo, então eles criam
uma sensação de dor no meio da cabeça.
Especialistas
consultados: Marcelo Amato, neurocirurgião e cirurgião de coluna, e Mario
Fernando Peres, neurologista do Hospital Albert Einstein.
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