Albert Einstein, em
São Paulo, é o primeiro do Brasil a utilizar método desenvolvido nos EUA que
diminui efeitos colaterais em transplantes de medula óssea.
O
Albert Einstein, em São Paulo, é o primeiro hospital brasileiro a usar uma
técnica inovadora em radioterapia para preparar pacientes para o transplante de
medula óssea com menos efeitos colaterais: trata-se do Targeted Marrow
Irradiation (TMI), procedimento desenvolvido pela equipe da University
Hospitals of Cleveland, nos Estados Unidos, para "destruir" a medula
óssea do paciente com uma irradiação mais focal, localizada, diminuindo o
acesso da radiação a outros órgãos e tecidos sadios e, consequentemente,
trazendo menos efeitos colaterais.
Segundo
Ana Carolina Pires de Rezende, médica radio-oncologista do hospital, todo
paciente que faz transplante de medula óssea passa por uma etapa de
condicionamento, que é a preparação do organismo para o transplante. Na maioria
das vezes, isso envolve realizar sessões de quimioterapia e de radioterapia,
com a irradiação do corpo inteiro, sem preservar órgãos vitais que estão
saudáveis, como coração, pulmões, intestino e fígado. O problema disso, explica
Nelson Hamerschlak, coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do
hospital, é que a radiação do corpo todo provoca mais efeitos adversos, como
por exemplo uma inflamação do intestino, uma pneumonia, mais indisposição e
cansaço, que poderão refletir na qualidade do transplante.
Com
o objetivo de reduzir a toxicidade da radioterapia, profissionais de Cleveland
desenvolveram uma forma de programar o equipamento de forma que ele atinja
efetivamente mais os ossos e o baço - que precisam ser irradiados - e preserve
os outros órgãos vitais. Segundo Ana Carolina, essa programação exige um planejamento
específico e individualizado de cada paciente, em que o médico indica para o
aparelho quais regiões precisam receber a radiação e em qual dose.
"É
como se a gente desenhasse e delimitasse os órgãos do paciente para o sistema
antes de a máquina fazer a aplicação. É um trabalho extremamente
personalizado", explica a médica. "Ao mesmo tempo que essa
radioterapia é menos tóxica, fazendo com que o paciente tolere melhor o
tratamento, ela é mais eficiente, pois irradia apenas o que eu preciso, que é a
medula", completa.
O
uso dessa técnica não exige um grande investimento dos hospitais em tecnologia.
Segundo Hamerschlak, não é necessário comprar um aparelho específico, mas fazer
pequenas adaptações do existente e treinar a equipe, especialmente os físicos.
"Nossos profissionais acompanharam esse desenvolvimento em nível
experimental e foram treinados ao longo de cinco anos", afirmou. Os
pacientes elegíveis para o uso desse método são aqueles que precisam fazer o
transplante de medula óssea e tem mais de 60 anos ou tem a saúde fragilizada
por outros problemas associados, como desnutrição, baixo peso, entre outros.
Pesquisa.
Em
parceria com essa equipe de Cleveland, que já usa a técnica como rotina há dois
anos, o Hospital Albert Einstein aplicou a radioterapia em dois pacientes no
mês de junho, com sucesso. A dose de radiação foi referendada pela equipe
americana.
O
educador Luiz Fernando Naso, de 63 anos, foi o primeiro a ser beneficiado. Ele
descobriu uma leucemia mieloide aguda em março e soube que teria de se submeter
ao transplante de medula óssea. Por ter 63 anos, enquadrava-se no perfil do uso
da nova radioterapia.
"Não
fiquei com medo por ser o primeiro. Eu confio e acredito no trabalho do médico.
Não tive nenhuma reação e minha única queixa é que a mesa onde o paciente deita
é muito dura", brincou Naso, que passou pelo transplante no dia 6 de
junho.
A
partir de agora, o hospital vai dar início a um protocolo de pesquisa para
testar doses maiores da radiação - sem ampliar a toxicidade. Uma das perguntas
a serem respondidas nesse protocolo é se essa técnica reduz os casos de doença
do enxerto contra o hospedeiro, uma das principais complicações do transplante,
que normalmente acontece por conta da toxicidade da radioterapia.
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