FONTE: *** Maurício de Souza Lima, https://mauriciodesouzalima.blogosfera.uol.com.br
Durante muito tempo se
falou que a musculação atrapalharia o desenvolvimento nessa fase da vida. Isso
já caiu por terra. Hoje em dia, a Academia Brasileira de Pediatria afirma que
exercícios de resistência deveriam ser indicados para crianças, inclusive. É um
assunto que abordo com muita frequência, até porque o tema do meu doutorado foi
o exercício físico na adolescência.
Antigamente, antes
mesmo de se tornar adolescente, a criançada praticava certas atividades que,
embora não tivessem o nome de musculação, no fundo usavam o peso do próprio
corpo para criar uma resistência ao movimento. Braços e pernas tinham de
aguentar o menino enquanto ele escalava os galhos de uma árvore, por exemplo.
E, na falta de árvore, existia o brinquedo de trepa-trepa em todo parquinho na
rua ou na escola. A carga do próprio corpo era um desafio nessa e em outras
brincadeiras infantis.
Agora, esses momentos
andam em falta: a moçada fica só no videogame e no celular. Passa boa parte do
tempo digitando. Os músculos, então, acabam não chegando tão bem desenvolvidos
quanto antes na adolescência. É como se houvesse um déficit.
A grande preocupação
das pessoas é a de que a musculação atrapalhe o crescimento. Isso não vai
acontecer, desde que o jovem pratique o exercício da maneira correta.
A primeira coisa é ter
muita clareza do objetivo nessa idade. A meta de um adolescente não pode ser
ficar todo sarado e com barriga tanquinho. Ela é simplesmente manter a
musculatura tonificada. Para isso, existem cálculos capazes de estabelecer a
carga e o número de repetições de cada movimento. Daí que, óbvio, mais do que
nunca, na adolescência a musculação precisa ser praticada sob supervisão. E o
ideal é que seja um profissional com experiência nessa área.
Se o jovem frequenta
uma academia, procure se informar se eles têm programas de musculação adequados
para adolescentes, um sinal de que, ali, o professor provavelmente foi
preparado para montar treinos para esse grupo.
Uma dica é a seguinte:
o exercício com pesinhos feito de forma adequada na adolescência é aquele que
não provoca a careta. Se você vê um menino ou uma menina mordendo os lábios,
franzindo o cenho ou demonstrando o esforço de qualquer outro modo, aquilo está
errado. E ponto. Sinal de que o halter é muito pesado, o equipamento foi
regulado para uma carga alta demais ou o número de repetições está exagerado.
Outra
coisa: o adolescente não pode sentir dor depois das
sessões de treino, que eu recomendo que aconteçam duas vezes por semana na fase
do estirão puberal, quando o crescimento acelera. A dor, no caso, indicaria
mais do que excesso de exercício. Nessa idade, os músculos podem crescer em uma
velocidade, enquanto ossos e tendões crescem em outra, o que por si é doloroso
e pode piorar com um treino inadequado. O profissional precisa ficar de olho
nisso, evitando até problemas posturais causados quando agravamos esse
descompasso.
Sim, a musculação
precisa de orientação. Mas isso não deve afastar a garotada dos treinos. Até
porque os músculos fortalecidos se tornam verdadeiras torradeiras de gordura
mesmo quando estão em repouso e isso ajuda a afastar a ameaça de obesidade.
Para os adolescentes que desejam a hipertrofia, ela será liberada no momento em
que passarem a crescer, no máximo, um centímetro por ano. Antes disso, não.
Finalmente, para ter
músculos firmes e fortes, o adolescente também não precisa — nem deve — tomar
nada nessa fase. Nenhum whey protein, nem algo parecido. O que ele precisa é de
verdura, fruta, legume, arroz, feijão, carne… Se está preocupado com o corpo,
melhor que gaste o dinheiro dele na feira do que na loja de suplementos.
Sobre
o autor.
Maurício de Souza Lima
é hebiatra, ou seja, um clínico geral especializado na saúde de adolescentes.
Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo, é autor do livro “Filhos
Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape), vencedor do Prêmio Jabuti
em 2007.
Sobre
o blog.
Aqui, Maurício de
Souza Lima pretende abordar de maneira leve e objetiva todas as questões de
saúde que podem preocupar ou despertar a curiosidade dos próprios adolescentes
e dos seus pais. Aliás, prefere dizer que irá falar sobre a saúde da juventude,
lembrando que oficialmente a adolescência começa aos 10 anos, mas em tempos
modernos, na prática, pode se estender para bem mais de 21 anos.
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