Não é apenas a cárie
que compromete a saúde do dente. Existem outros problemas que podem causar a
perda do tecido dental, e por diversos motivos. Raimundo Rosendo Prado Júnior
(CROPI 892), professor associado do Departamento de Odontologia Restauradora e
do Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Piauí,
explica que abfração, abrasão, atrição e erosão são problemas multifatoriais.
“O mais comum é que a pessoa possua uma combinação de causas atuando
simultaneamente sobre seus dentes”, afirma.
O professor exemplifica
citando a combinação entre escovação muito intensa e o consumo frequente de
refrigerantes e outras bebidas ácidas. Outro caso é a regurgitação, além de
bruxismo. “Esses estímulos se somam e seus efeitos são maiores do que se eles
atuassem isoladamente”, explica. Rosendo Prado afirma que para evitar tais
problemas, é necessário não consumir alimentos ácidos, ter uma correta técnica
de escovação e controlar os fatores de bruxismo. “Soa fácil, mas é extremamente
complexo, pois são hábitos comportamentais e até inconscientes”.
Abfração: desgaste
próximo da gengiva.
A abfração é uma forma
específica de desgaste próxima ao tecido gengival. Essas lesões podem ser
vistas geralmente em um dente apenas ou em dentes não adjacentes, isto é, que
não são próximos. De acordo com Markelane Santana Silva (CROPI 2256),
cirurgiã-dentista e Aluna do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFPI,
a causa da abfração está associada à forças irregulares que incidem sobre as
superfícies mastigatórias do dente. “As forças podem ser anormais devido ao
dente estar em má posição ou devido a excessiva pressão muscular, como quando
se tem o hábito de ranger ou apertar os dentes uns contra os outros”, afirma
Markelane. A aluna explica que, com o tempo, as microfraturas podem se propagar
de forma perpendicular sob pressão até que o esmalte e a dentina sofram
fraturas maiores.
Abrasão: desgaste
causados por atritos.
A abrasão é causada
pelo uso de objetos que desgastam, isto é, que são friccionados sobre o local
de forma repetitiva, como a escovação dos dentes com muita força. Segundo
Markelane, com o passar do tempo, o desgaste avança e pode chegar a expor a
dentina subjacente. O uso de palito de dente também contribui para a abrasão
dos dentes, assim como o hábito de morder objetos. “A aspereza e dureza destes
objetos pode deixar uma série de ranhuras ou sulcos na superfície dos dentes
afetados”, explica. A abrasão aparece da mesma forma que a abfração, próximo da
gengiva.
Atrição: desgaste das
superfícies mastigatórias.
A mastigação faz com
que os dentes entrem em atrito, o que pode desgastá-los, tanto nas bordas
quanto na face. Nessas regiões, o esmalte é mais denso e a exposição da dentina
leva tempo para acontecer. “Pode ocorrer atrição tanto na dentição decídua
(dentes de leite) como permanente. Um tipo de atrição severa pode ocorrer em
pacientes que sofrem de bruxismo, hábito de ranger os dentes”, explica
Markelane. Ela completa afirmando que o desgaste pode ser intenso a ponto de
destruir por completo a coroa dos dentes afetados.
De acordo com o
professor da UFPI, em condições normais de atrição, o dente sofre um desgaste
lento ao longo do tempo e adquirem uma forma mais plana e com poucas
superfícies curvas, o que é natural. Ele explica que em resposta a este
processo ocorre uma erupção fisiológica que mantém os dentes em contato com os
dentes do arco oposto, a fim de que as funções de mastigação e movimento da
mandíbula se mantenham eficientes.
Erosão: desgaste
causado pelo consumo excessivo de alimentos ácidos.
A erosão, ou corrosão,
é a perda da estrutura dental por meio de um processo químico de dissolução por
ácido, sem envolvimento de bactérias. De acordo com a cirurgiã-dentista
Markelane, os ácidos responsáveis pela erosão são provenientes de dois tipos de
fontes. Uma delas são os ácidos presentes em comidas e bebidas, como sucos de
frutas, refrigerantes, vinho, vinagre e medicamentos.
A deficiência na
produção de saliva, conhecida como xerostomia, também predispõe pacientes à
erosão, pois ela tem um papel importante na proteção contra os agentes ácidos.
Se uma pessoa tem regurgitação, bulimia ou sofrem vômitos crônicos, esta produz
ácido clorídrico no estômago, que dissolve o esmalte dos dentes. Para controlar
a erosão, é indicado que se aguarde 30 minutos antes de escovar os dentes depois
de consumir ácidos ou ter vômitos, para que os danos ao esmalte não se
agravem.
Prevenção.
Rosendo Prado explica
que o controle desses fatores inicia com um esclarecimento cuidadoso de um
profissional, já que, em alguns casos, a restauração dessas lesões poderá ser
necessária para prevenir ampliação dos desgastes. Estes problemas também podem
causar sintomas desagradáveis, como a hipersensibilidade dentinária. “Para o
controle da dor, também é muito importante o controle do agente causal que
levou a exposição da dentina. Porém, se a causa inicial não for controlada, a
dor tende a retornar. Geralmente uma restauração deve ser realizada com certa
urgência para controlar os casos de dores mais severas”, finaliza o professor.
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