Fazer dieta não é fácil
e muitas pessoas tentam criar estratégias para reduzir essa dificuldade. O “dia
do lixo” (ou dia livre) é uma delas, um momento escolhido para comer à vontade
e sem restrições por quem segue uma dieta rigorosa ou que está tentando mudar
os hábitos de uma vez por todas.
"Neste dia, a
pessoa escolhe uma ou mais refeições calóricas do que as que costuma consumir.
Entram na lista alimentos fritos, pizza, fast-foods, além de sobremesas e
bebidas alcoólicas", explica Clarissa Fujiwara, nutricionista do
Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e da Síndrome Metabólica).
A origem dessa folga da
dieta está normalmente associada aos bodybuilders, que se submetem a dietas
muito restritivas e a treinos duros para as competições. Comer por um dia sem
pensar nos prejuízos seria uma forma de recompensa pelo trabalho árduo.
Carolina Moreno,
nutricionista da clínica CareClub e especialista em Terapia Nutricional pelo
GANEP acrescenta que o "dia do lixo" é uma espécie de facilidade para
um plano de reeducação alimentar. "Quando é estipulado um dia liberado da
dieta, cria-se um efeito psicológico de que o tratamento será mais fácil".
Desvantagens do “dia do
lixo”.
Segundo Fujiwara, para
quem está no início de uma reeducação alimentar e se adaptando ao processo, a
estratégia de comer tudo o que quiser em um dia pode ser um tiro no pé.
"A pessoa acaba gerando grandes expectativas em torno desse momento, o que
leva à perda de controle e, consequentemente, a uma compulsão alimentar".
Depois vem o sentimento de culpa e de frustração e a dieta volta a ser
vinculada a uma restrição.
Outro ponto a se pensar
sobre o dia do lixo é que como o corpo está enfrentando mudanças e barrar certos
tipos de alimentos é necessário para tal, introduzir itens
"proibidos" pode causar um gatilho que leva ao descontrole.
Por exemplo, se uma
pessoa viciada em açúcar está tentando reduzir o seu consumo de açúcar e
conseguiu fazer a restrição por cinco dias (mesmo que sofridos). Chega o final
de semana, o dia do lixo, e ela come um doce. "O que isso pode ocasionar
no organismo? Um efeito rebote. Você come, reativa os mecanismos de recompensa
ligados ao açúcar e no dia seguinte o corpo pede novamente por esse doce",
ensina Moreno.
Construindo uma relação
(errada!) com a comida
Além de tudo há um
certo problema no nome "dia do lixo". Ele indica que certos itens são
porcarias e não deveriam ser consumidos, o que faz a pessoa construir uma
relação com a comida em que existem itens que são vilões ou proibidos... E tudo
que não é permitido se torna mais tentador.
Dessa forma, a dieta
será sempre um momento de dificuldade, um esforço que precisa ser recompensado,
o que impede que ela se torne uma reeducação alimentar para ser mantida em
longo prazo.
Mas dá para ter um dia
livre sem estragar a dieta?
Para evitar
arrependimentos futuros, é preciso ter bom senso até para sair do limite -- e
atenção ao momento presente. O ideal é fazer a refeição com atenção e sem
distrações, dando a possibilidade de saborear os alimentos e parar de comer
quando sentir a saciedade "confortável", sem deixar que aquela
sensação de estufamento, de que vai passar mal, tome conta.
Uma estratégia
interessante, por exemplo, é escolher uma refeição pontual na semana como
momento livre, e não um dia inteiro. Um almoço ou jantar no final de
semana, por exemplo.
“Dessa forma, se mantêm
as demais refeições do dia na estrutura habitual e dá para ser flexível na vida
social, sem sacrificar festas, saídas com amigos e outros eventos onde
normalmente come-se mais", recomenda Fujiwara. A chance de aderência à
dieta, aqui colocada como uma reeducação alimentar, ou seja, com caráter
duradouro e sustentável a longo prazo, acaba sendo muito maior.
Moreno também utiliza
uma estratégia que afirma funcionar com seus pacientes: adaptar receitas
para que fiquem mais saudáveis. Assim, não há restrição do consumo, mas
tenta-se diminuir a falta que os alimentos originais fazem.
Outra ideia é espaçar
esse dia livre: "encaixá-lo a cada 15 dias não causa tanto impacto na
rotina da dieta", afirma a nutricionista, que não condena o dia livre,
mas ressalta que é preciso ter consciência do que é certo e errado para sua
dieta.
"Sim, a pessoa
pode ter um dia para comer o que quiser, mas precisa ter foco e determinação
necessários para conseguir voltar à rotina no dia seguinte. O processo tem que
ser treinado, porque o começo de uma reeducação alimentar geralmente apresenta
vários vícios. Esse rebote pode ocasionar doenças cardiovasculares, diabetes e
outros problemas graves de saúde", pondera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário