Doença é transmitida
por morcegos e pode ser evitada com vacinação.
O município paraense de Portel, a 270
quilômetros de Belém, foi escolhido para a implementação de projeto-piloto de
vacinação contra a raiva, doença transmitida por morcegos.
Ao todo, 2.500 ribeirinhos, entre crianças e adultos, foram beneficiados pela
iniciativa, implementada neste mês pelos governos federal, estadual e municipal
e pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
A ação mobilizou 50 profissionais, que cobriram toda a área adjacente ao
Rio Pacajá e afluentes. Os municipios de Melgaço e Breves, vizinhos de Portel,
também integram o projeto.
Um levantamento da Secretaria de Saúde Pública do Pará informa que, em
Melgaço, nove crianças e um adulto morreram em decorrência da doença. Nesta
localidade, foram registrados no ano passado os últimos casos de raiva no
Brasil.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, de 2010 a 2018, ocorreram 36
casos de raiva humana em todo o país e que, em 2014, não houve notificações.
Nos anos de 2017 e 2018, foram registrados 17 casos, dos quais 16 incluíram
agressões de morcegos.
De acordo com o ministério, em 2019, foi registrada somente uma
ocorrência em Gravatal, Santa Catarina, e esse caso teve o gato como animal
transmissor, mas com variante de morcego. Em mensagem enviada à Agência Brasil,
a pasta comunica que pretende replicar o projeto de Portel em municípios do
Amazonas em 2020.
Segundo a Opas, nas Américas, apenas dois países reportaram casos de
morte de pessoas por raiva nos últimos 12 meses: Haiti e República Dominicana.
Desde a década de 1980, houve redução de mais de 95% na incidência da doença no
continente americano.
Doença evitável.
O coordenador de Zoonoses do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa e Saúde
Pública Veterinária da Opas, Julio Pompei, explica que o máximo que se pode
fazer é eliminar determinados ciclos de transmissão, considerando que o vírus
rábico é inerente a animais silvestres, como os morcegos hematófagos (que se
alimentam de sangue). Logo, a interrupção se torna possível somente em casos de
raiva transmitida de outros mamíferos para os humanos.
Ele ressalta que se trata de uma doença evitável, cuja prevenção pode ser
feita por meio da vacina antirrábica, e considera "imoral que pessoas
morram pela raiva ainda hoje."
Pompei lembra, porém, que, na região amazônica, a população ribeirinha
vive em propriedades rurais no meio da floresta e tem menos proteção diante dos
morcegos. "Esse projeto visa a avaliar pontos como custo, dificuldade de
acesso (o único meio de transporte é fluvial), tempo, recursos e a metodologia,
que é uma vacinação intradérmica em dois pontos e em duas doses: no dia 0 e
depois de sete dias."
"A partir daí, o Ministério da Saúde e outros atores envolvidos vão
analisar a implementação de uma ação proativa que permita proteger a população
antes que a raiva ocorra em outras localidades do Pará e em estados que têm a
mesma realidade. Dessa forma, a população estará imunizada, mesmo que venha a
ser agredida", acrescenta.
Pompei destaca também que 30% dos habitantes da área abrangida pelo
projeto já haviam sido atacadas por morcegos. "Muitas vezes, as pessoas
são agredidas e, pela distância e dificuldade de acesso à profilaxia, isso se
torna um problema grave. Consideramos que a raiva é uma doença que tem 100% de
letalidade. Há alguns casos muito raros de tratamento, mas com sequelas
gravíssimas", ressalta.
Sintomas.
A raiva é uma doença infecciosa fatal, transmitida pelo Lyssavirus,
presente na saliva de mamíferos, como cães, gatos, bois e morcegos. O mamífero
se alimenta do sangue de outros animais, inclusive de humanos, e se transforma
em um vetor de contágio. Segundo a Opas, a maioria dos cerca de 60 mil casos
que ocorrem no mundo todos os anos é transmitida por animais domésticos, embora
haja casos específicos, como os da região amazônica.
A doença tem um período de incubação, que varia de acordo a localização,
extensão e profundidade da mordida, do arranhão ou outro tipo de contato com a
saliva do animal infectado e também da proximidade da lesão em relação ao
cérebro e a troncos nervosos. Outro fator levado em conta é a concentração de
partículas virais inoculadas e cepa viral.
Os sintomas relacionados à doença, que duram em média de 2 a 10 dias, são
os seguintes: mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia,
cefaleia (dor de cabeça), náuseas, dor de garganta, entorpecimento,
irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. O paciente também pode
apresentar hipersensibilidade e formigamento na região do corpo afetada, bem
como alterações de comportamento e inchaço dos nódulos linfáticos.
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