quarta-feira, 5 de junho de 2013

O ALÍVIO DE FAZER XIXI...




O tema é prosaico, eu sei, mas quem não conhece o alívio, quase prazer, de deixar sua bexiga se esvaziar quando ela já está mais do que esticada? A razão é que segurar o xixi dá trabalho para o cérebro, além de deixar a gente ansioso e sem conseguir pensar em outra coisa.

Urinar é algo que o cérebro consegue fazer sem precisar de controle atento. Conforme a bexiga se enche de urina, a informação sobre o seu estado de distensão é repassada pelos nervos para a medula espinhal e dali para o centro de controle da micção na ponte do cérebro. Assim que a bexiga fica cheia demais, esse centro inicia automaticamente seu esvaziamento.

Mas fazer xixi a qualquer momento, simplesmente porque a bexiga ficou cheia, não é considerado civilizado. Humanos e cachorros aprendem rapidamente que xixi tem hora e lugar graças à possibilidade de reconhecer a sensação da bexiga cheia e exercer controle cognitivo sobre o centro pontino da micção.

Se a bexiga ficar cheia demais, não tem jeito: os mecanismos de segurança falam mais alto e lá se vai a urina. 

Mas, até lá, o centro pontino da micção fica sob o controle do córtex pré-frontal, que só permite a micção quando, além de necessária, ela for socialmente aceitável e puder acontecer em lugar seguro.

O córtex pré-frontal, por sua vez, exerce seu controle informado pelo córtex da ínsula, que representa, entre outras sensações fisiológicas, a sensação da bexiga se enchendo. A ínsula também repassa essa informação para o córtex cingulado, que monitora a situação e dá o alerta para outras regiões do cérebro quando a coisa começa a ficar crítica. Daí em diante, tudo em que se consegue pensar é no banheiro mais próximo, enquanto o córtex pré-frontal segura as pontas, literalmente, mantendo o centro pontino inibido.


Já no banheiro, e com bênção pré-frontal, o centro pontino troca a atividade simpática, que mantém a bexiga distendida e o esfíncter contraído, por ativação parassimpática, que contrai a bexiga e relaxa o esfíncter, permitindo a passagem da urina.


Por isso fazer xixi é tão bom: além de ser um estado de ativação parassimpática, que relaxa o corpo, ainda alivia seu córtex cingulado e o pré-frontal, que estavam dando duro para mantê-lo tenso, no controle e em busca de um banheiro. Daí o alívio mental de poder soltar o xixi. É como poder contar um segredo e parar de sofrer a respeito. Aaaaah..

*** Suzana Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha, e professora da UFRJ. Escreve às terças, a cada duas semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".

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