FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
Mães e pais paraibanos que ganharam
por decisão liminar da Justiça o direito de
importar o canadibiol, composto químico proibido pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), participaram da audiência pública realizada na
manhã desta segunda-feira (25/8) pela Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Eles falaram sobre como a substância tem
ajudado no tratamento de patologias neurológicas que têm como característica
comum um quadro de epilepsia.
A liminar para o tratamento de 12
crianças, dois adolescentes e dois adultos foi concedida
pelo juiz João Bosco Medeiros, da 1ª Vara da Justiça Federal de João Pessoa.
Segundo esses pais e mães que participam da
audiência, desde o início do uso do canadibiol já é visível a melhora da
situação de saúde dos seus filhos.
– O Estado está sendo
omisso. Temos não apenas o desejo, mas a urgência dessa regulamentação. Que se
estenda a discussão sobre o uso recreativo, mas que esse uso medicinal seja o
mais rapidamente possível regulamentado – disse Sheila Geriz.
Durante a audiência pública foi exibido
um vídeo em que Vitor, de 21 anos, sofre uma convulsão. Ele é filho de Luciana
Bezerra e foi diagnosticado com epilepsia de difícil controle.
Segundo ela, desde que começou a fazer uso de
um óleo derivado da maconha, o número de crises caiu de 8 para 4 por dia.
Antes da exposição dos pais e mães, o senador
Fleury (DEM-GO) disse que a liberação da maconha vai destruir o país.
– Se maconha fosse bom, não estaríamos
discutindo isso aqui. Se querem legalizar uma droga, devem procurar outros
meios, não essa forjada tentativa de convencimento de que é para tratamento e
saúde – afirmou.
A palavra da ciência.
o pesquisador e neurocientista Renato Malcher
Lopes, da Universidade de Brasília (UnB), apresentou uma série de estudos que,
conforme sua avaliação, comprovam os efeitos medicinais de elementos presentes
na planta e os benefícios no tratamento de sintomas de diversas doenças e
síndromes – como câncer, esclerose tuberosa, Síndrome de Rett e autismo.
De acordo com Renato Malcher, o
tetraidrocanabinol (THC, principal psicoativo da maconha), é antiinflamatório,
analgésico, estimulador, sedativo, além de ajudar na redução da pressão
intraocular.
O pesquisador acrescentou que a maconha
também é rica em cannabidiol, substância que ajuda a combater convulsões e
epilepsia.
O pesquisador reconheceu que o uso abusivo da
maconha traz problemas como a redução passageira da memória de curto prazo,
durante o efeito da droga, que pode durar até seis horas. Ainda segundo ele, o
uso da substância é contraindicado para psicóticos, jovens em crescimento e
gestantes. De acordo com Lopes, os índices de dependência em maconha são
inferiores aos de outras drogas.
Para o neurobiólogo, o Estado não deveria
proibir a venda e o consumo de uma planta que traz alívio para o sofrimento das
pessoas. Segundo ele, existe um moralismo equivocado que acaba punindo famílias
que poderiam ser beneficiadas pelo uso da substância.
– Muitas pessoas tiveram seus filhos
definhando em seus braços sem poder usar o cannabidiol em razão dessa
proibição. Efeitos colaterais de outros remédios são muito piores – assinalou.
A posição no Senado.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), relator
da sugestão popular sobre a regulamentação da maconha admitiu nesta segunda-feira
(25) a possibilidade de separar o debate em duas frentes: o uso recreativo e o
medicinal.
– Nesse aspecto [regulamentação para uso
medicinal], eu vou ter pressa, mesmo que o resto demore – disse Cristovam, após
relatos de pais e mães sobre como o uso de substâncias derivadas da maconha têm
ajudado no tratamento de seus filhos.
Pela sugestão em análise na CDH, deverá ser
regulado “o cultivo caseiro, o registro de clubes de cultivadores, o
licenciamento de estabelecimentos de cultivo e de venda de maconha no
atacado e no varejo e a regularização do uso medicinal”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário