FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Os filhos de mães que
fumaram durante e após a gravidez podem desenvolver doenças respiratórias até a
adolescência, e não somente nos primeiros anos de vida. Essa é a conclusão de
um estudo sueco que encontrou evidências de que o fumo passivo pode aumentar
casos de asma e rinite entre adolescentes, com consequências para a vida
inteira. A tese é reforçada por médicos brasileiros entrevistados pelo UOL.
A pesquisa realizada
durante 16 anos pelo Instituto Karolinska, em Estocolmo, com 4.000 crianças
nascidas entre 1994 e 1996, foi publicada recentemente na revista "Pediatrics",
da Academia Americana de Pediatria.
Segundo a pesquisa,
fetos gerados por fumantes correram risco 45% maior de contrair asma até os 16
anos, do que entre bebês de grávidas que não fumavam.
Entre as crianças que
tinham pai ou mãe fumantes, os riscos de desenvolvimento de rinite alérgica e
asma na infância ou na adolescência foram 18% e 23% maiores, respectivamente,
do que os de outras crianças. O risco de sofrerem de eczema (inflamação na
pele) foi considerado 26% maior entre as crianças com pais fumantes.
"O aumento do
risco de asma e de rinite foi constatado principalmente na primeira infância,
enquanto o de eczema surgiu mais próximo da adolescência", disse Jesse
Thacher, autor do estudo e estudante de doutorado do Instituto Karolinska.
Pulmão do bebê.
No grupo estudado,
13% das mães fumaram durante a gravidez e o hábito continuou durante a infância
de mais de 20% das crianças pesquisadas.
"Vimos que a
exposição ao fumo passivo durante a gravidez ou na infância aumenta o risco de
uma criança desenvolver doenças alérgicas, mesmo na adolescência", disse
Thacher.
O contato com as
substâncias nocivas do cigarro pode danificar os pulmões do feto, o que
acarreta doenças respiratórias no bebê com consequências futuras, afirma o
pneumologista Oliver Nascimento, presidente da Sociedade Paulista de
Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
"As substâncias
inflamatórias contidas no cigarro vão direto para o feto. Isso gera uma
alteração no desenvolvimento da criança. Como os pulmões se desenvolvem até os
oitos anos, se houver problemas na adolescência pode ser consequência da
alteração de seu desenvolvimento pulmonar na infância", disse.
Como a doença mais
comum nesses casos é a asma, caracterizada pela inflamação dos pulmões e dos
brônquios, e o eczema é um processo inflamatório na pele, a criança que tem
asma tem mais chance de sofrer problemas inflamatórios na pele e vice-versa,
segundo o pneumologista.
Além da possibilidade
de adquirir alergias, o estudo alerta para o risco ampliado de câncer entre as
crianças e jovens que são fumantes passivos. Ao conviver em um ambiente no qual
há pessoas que fumam, eles entram em contato com 4.000 substâncias químicas
pela fumaça do cigarro, parte delas consideradas cancerígenas.
Má formação e câncer.
O contato com essas
substâncias ainda na gravidez aumenta a chance de má formação do feto, que, por
sua vez, acarreta doenças neurológicas e respiratórias, explica Fabiane Sabbag
Corrêa, ginecologista obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz.
Isso acontece porque
o fumo atrapalha o fluxo de sangue para a placenta, responsável por trazer
oxigênio e nutrientes fundamentais para a formação do feto. Com isso, o feto
deixa de ganhar peso e pode nascer antes do tempo, já que a irrigação de sangue
fica comprometida, a placenta 'envelhece' e indica que já está na hora do feto
nascer, mesmo que ainda não esteja bem formado, segundo a ginecologista.
"O cigarro pode
causar eclampsia, má formação do embrião, diminuição do líquido amniótico,
problemas neurológicos e respiratórios como se o bebê tivesse fumando. Por isso
é considerado um pré-natal de alto risco", afirma a médica.
Como a gestante não
pode se submeter a tratamentos para parar de fumar, o indicado é abandonar o
vício por conta própria pelo bem da saúde do feto. Para as mulheres que
enfrentam dificuldade, a ginecologista aconselha a retirada aos poucos e indica
atividades físicas para evitar picos de ansiedade.
"As medicações
usadas para parar de fumar não podem ser usadas na gravidez. Para a paciente
não sentir os efeitos da abstinência da nicotina, tem que ir diminuindo o
número de cigarros por dia. A natureza ajuda porque quando ela começa a enjoar,
enjoa do cigarro", diz Fabiane Corrêa.
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