FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
A artrite (inflamação das articulações) é a
maior causa de dor crônica e incapacidade entre os americanos, e possivelmente
também entre os brasileiros.
Cerca de 80% dos norte-americanos têm
ou conhece alguém com artrite, e os números continuam crescendo.
Embora existam mais de 100 formas
de artrite, 54% dos doentes com artrite sofrem de osteoartrite (OA), também conhecida como artrose (um desgaste das articulações).
Apesar de parecer contraditório, os
mais afetados pela artrose são justamente os que apresentam níveis mais altos
de inatividade física, principalmente as pessoas do sexo feminino.
As mulheres são quase duas vezes
mais propensas que os homens a nunca se envolverem em atividades físicas significativas.
Então, de onde vem todo esse “desgaste das articulações”? Ele não deveria ser
maior nas pessoas que mais utilizaram suas articulações durante a vida?
Relatórios dos Centros de Controle e Prevenção
de Doenças (CDC) mostram que quem sofre de artrose tem a propensão de ser menos
ativo fisicamente. Isso por causa de uma crença comum e antiga, que prega “que
pessoas com artrose precisam descansar suas articulações”.
Como resultado, muitas pessoas que sofrem de
artrose diminuem sua atividade física por medo de aumentar a dor ou de agravar
os sintomas da doença, quando a atividade física é que realmente trabalha para
aliviar a dor e a rigidez dos pacientes.
Quase metade dos adultos com artrose
diagnosticada relatam não fazer nenhuma atividade física.
“Assim, para muitos pacientes desinformados, o
que começa como um movimento doloroso pode terminar numa vida sedentária, que
pode fazer com que o paciente evolua gradualmente de um peso normal para a
obesidade. Neste processo, cada quilo ganho representa mais pressão nos joelhos
e nos quadris, criando um ciclo vicioso de dor, sedentarismo e ganho de peso.
Chamamos esse processo de comorbidade. Comorbidades são doenças que trabalham
juntas para piorar a condição do paciente. Neste caso, a osteoartrite e a
obesidade são conhecidas por serem doenças comórbidas”, afirma
o ortopedista Caio Gonçalves de Souza (CRM-SP 87.701), médico do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
O excesso de peso corporal impacta diretamente
as articulações, especialmente a dos joelhos. “Apenas 10 quilos a mais de peso
corporal coloca o dobro de peso sobre cada joelho durante uma caminhada.
O estresse resultante de tal carga de peso faz
com que a cartilagem, que amortece as articulações, comece a se deteriorar. É
por isso que a osteoartrite de joelho é de quatro a cinco vezes mais comum em
pessoas com excesso de peso do que em pessoas com peso corporal normal”, afirma
o ortopedista Caio G. Souza.
Se as mulheres obesas perdessem peso e fossem
reclassificadas apenas com sobrepeso, e as mulheres, na categoria do sobrepeso,
perdessem peso suficiente para se encaixarem na categoria de peso normal, a artrose
de joelho entre as mulheres diminuiria em até um terço.
Em breve, infelizmente, porque a obesidade
infantil atingiu um nível epidêmico, a osteoartrite vai começar a ser
diagnosticada antes da idade de 40 anos.
Como a osteoartrite e a obesidade tendem a
piorar, principalmente devido à falta de exercícios físicos, o nível de
incapacidade e de dor pode chegar ao ponto onde a cirurgia é a única solução.
De acordo com o Journal of Bone and Joint
Surgery (JBJS), haverá um aumento de 670% no número de cirurgias do
joelho para colocação de próteses até 2030.
Mas o estado crítico de saúde dos pacientes
obesos pode levar a complicações médicas durante a cirurgia. “A cirurgia pode
levar mais tempo, ser mais difícil e, provavelmente, levar a um maior nível de
infecções, hemorragias e tromboembolismo. E mesmo com uma cirurgia bem
sucedida, alguns indivíduos nunca alcançarão a melhora completa, que é
experimentada por pacientes com peso normal”, alerta o ortopedista.
Não importa como o ciclo começa, obesidade e osteoartrite
devem ser tratadas em conjunto. A atividade física é a chave para a redução do
risco de desenvolvimento de ambas, bem como inúmeras outras doenças
relacionadas, tais como diabetes, doença cardíaca, hipertensão e acidente
vascular cerebral.
“A mudança começa com as escolhas individuais,
feitas com base em benefícios percebidos. Portanto, é vital educar e convencer
os pacientes que estão em maior risco que os desafios são superáveis, que os
benefícios são atingíveis e que o esforço vale a pena. Uma mulher de estatura
média pode diminuir seu risco de osteoartrite do joelho pela metade para cada
11 quilos de peso que ela perde. Este é o exemplo perfeito de como os
pacientes, munidos de informação, podem prevenir doenças e comorbidades,
evitando a necessidade de intervenções médicas radicais”, observa Caio G.
Souza, que também é professor de Ortopedia da Faculdade de Medicina na Uninove.
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