FONTE: André Uzêda, Do UOL, em Salvador (esporte.uol.com.br).
"Se macumba ganhasse jogo, Campeonato Baiano
terminava empatado", assim vaticinou o filósofo da bola Neném Prancha. A
despeito desta célebre declaração, o massagista Edson Borges, 46 anos, prefere
acreditar que sua religiosidade pode -- e muito! -- influenciar o andamento de
uma partida de futebol.
Dentro do retângulo da bola, ele atende pelo nome
de Pai de Ogum. Suas vestes passam ao largo dos usuais uniformes das
agremiações que defende. O agasalho onde ler-se bordado "Comissão
Técnica" dá lugar a túnicas de diversas cores. Na cabeça o surrado boné
perde espaço para o ojá (espécie de turbante do candomblé). E, para completar,
um potente óculos escuros ostentação repousa como adicional do figurino.
A vestimenta não é mera excentricidade. Edson é
filho de santo. Seu orixá cativo é Oxóssi, do terreiro de Ogum -- de onde
origina seu apelido no mundo da bola.
Atualmente Pai de Ogum faz parte da diretoria de
futebol do Colo-Colo, clube que disputa a primeira divisão do Campeonato Baiano.
No jogo contra o Vitória, no último sábado (21), ele entrou em campo para
atender um atleta com espamos musculares e virou a 'sensação' do confronto.
"A galera nas arquibancadas começou a gritar
'uh é pai de santo! uh é pai de santo'. Eu achei bem engraçado. Mas vou dizer,
já estou acostumado com isso. Por conta dos meus trajes sempre escuto esse tipo
de coisa", diz, aos risos.
As roupas, explica, são para trazer
"energias positivas" aos clubes que defende. Assim como as velas que
risca nos vestiários e as orações que faz a São Jorge -- santo católico que nas
religiões de matriz africanas é representado por Ogum.
Jogadores evangélicos.
Há vinte anos no futebol, Edson percebe uma
transformação no perfil dos jogadores com quem trabalha.
"Hoje existe muito mais jogadores
evangélicos. Alguns têm mais resistência a aceitar minha religião e minhas
preces. Mas nunca tive problema com nenhum deles. Nunca enfrentei nenhum caso
de intolerância religiosa", diz Pai de Ogum.
No Colo-Colo a presença dele é celebrada como um
atrativo para o clube. "Muita gente nos procura para perguntar sobre o Pai
de Ogum. Os torcedores gostam e a imprensa se interessa por ele. Acaba sendo
bom para divulgar a marca do nosso Tigre de Ilhéus", afirma Flávio
Medrado, diretor de futebol do clube baiano que presta homenagem ao super
campeão chileno.
Título Sergipano.
Pelo trabalho de massagista Pai de Ogum recebe
salário de R$ 1.200, dinheiro com o qual sustenta uma filha de oito anos. Antes
de entrar para o futebol trabalhava num lava-jatos em Conceição de Feira,
município que nasceu (a 125 km de Salvador).
No esporte se transformou num legítimo andarilho.
Já passou por vários clubes do interior da Bahia e alguns de Sergipe. Seu
principal título, destaca, é uma Taça Sergipana, pelo Amadense.
"Foi uma conquista fantástica. Vencemos com
muita força, luta e fé. Viramos um resultado perdido e tenho certeza que os
orixás atuaram para mudar este resultado", relembra, orgulhoso.
Vale frisar. O campeonato que Pai de Ogum tanto
se orgulha de ter ganho com forças sobrenaturais era válido pela federação
serigipana. Se fosse pela baiana, talvez, terminasse empatado...
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