terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

COMO UM PAI DE SANTO VIROU MASSAGISTA DE UM TIME DO CAMPEONATO BAIANO...

FONTE: André Uzêda, Do UOL, em Salvador (esporte.uol.com.br).


"Se macumba ganhasse jogo, Campeonato Baiano terminava empatado", assim vaticinou o filósofo da bola Neném Prancha. A despeito desta célebre declaração, o massagista Edson Borges, 46 anos, prefere acreditar que sua religiosidade pode -- e muito! -- influenciar o andamento de uma partida de futebol.

Dentro do retângulo da bola, ele atende pelo nome de Pai de Ogum. Suas vestes passam ao largo dos usuais uniformes das agremiações que defende. O agasalho onde ler-se bordado "Comissão Técnica" dá lugar a túnicas de diversas cores. Na cabeça o surrado boné perde espaço para o ojá (espécie de turbante do candomblé). E, para completar, um potente óculos escuros ostentação repousa como adicional do figurino.

A vestimenta não é mera excentricidade. Edson é filho de santo. Seu orixá cativo é Oxóssi, do terreiro de Ogum -- de onde origina seu apelido no mundo da bola.

Atualmente Pai de Ogum faz parte da diretoria de futebol do Colo-Colo, clube que disputa a primeira divisão do Campeonato Baiano. No jogo contra o Vitória, no último sábado (21), ele entrou em campo para atender um atleta com espamos musculares e virou a 'sensação' do confronto.

"A galera nas arquibancadas começou a gritar 'uh é pai de santo! uh é pai de santo'. Eu achei bem engraçado. Mas vou dizer, já estou acostumado com isso. Por conta dos meus trajes sempre escuto esse tipo de coisa", diz, aos risos.

As roupas, explica, são para trazer "energias positivas" aos clubes que defende. Assim como as velas que risca nos vestiários e as orações que faz a São Jorge -- santo católico que nas religiões de matriz africanas é representado por Ogum.

Jogadores evangélicos.
Há vinte anos no futebol, Edson percebe uma transformação no perfil dos jogadores com quem trabalha.

"Hoje existe muito mais jogadores evangélicos. Alguns têm mais resistência a aceitar minha religião e minhas preces. Mas nunca tive problema com nenhum deles. Nunca enfrentei nenhum caso de intolerância religiosa", diz Pai de Ogum.

No Colo-Colo a presença dele é celebrada como um atrativo para o clube. "Muita gente nos procura para perguntar sobre o Pai de Ogum. Os torcedores gostam e a imprensa se interessa por ele. Acaba sendo bom para divulgar a marca do nosso Tigre de Ilhéus", afirma Flávio Medrado, diretor de futebol do clube baiano que presta homenagem ao super campeão chileno.

Título Sergipano.
Pelo trabalho de massagista Pai de Ogum recebe salário de R$ 1.200, dinheiro com o qual sustenta uma filha de oito anos. Antes de entrar para o futebol trabalhava num lava-jatos em Conceição de Feira, município que nasceu (a 125 km de Salvador).

No esporte se transformou num legítimo andarilho. Já passou por vários clubes do interior da Bahia e alguns de Sergipe. Seu principal título, destaca, é uma Taça Sergipana, pelo Amadense.

"Foi uma conquista fantástica. Vencemos com muita força, luta e fé. Viramos um resultado perdido e tenho certeza que os orixás atuaram para mudar este resultado", relembra, orgulhoso.


Vale frisar. O campeonato que Pai de Ogum tanto se orgulha de ter ganho com forças sobrenaturais era válido pela federação serigipana. Se fosse pela baiana, talvez, terminasse empatado...

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