FONTE: Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil, TRIBUNA DA BAHIA.
O grupo
de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS) que trata do combate à
obesidade infantil publicou no último dia 18 um artigo no jornal 'The Lancet',
em que aponta a necessidade de os governos adotarem medidas que conduzam à
melhoria da salubridade dos ambientes alimentares.
Um dos
autores do artigo é o brasileiro Fábio Gomes, nutricionista do Instituto
Nacional de Câncer (Inca) do Ministério da Saúde. O grupo se reuniu em novembro
do ano passado e tem um novo encontro agendado para abril, na África do Sul. O
objetivo é apoiar a OMS na tomada de decisões sobre as políticas que devem ser
adotadas pelos países.
Entre
uma reunião presencial e outra, os membros se dividem em subgrupos para avançar
em tarefas específicas, como identificar experiências bem-sucedidas e barreiras
para implementação de políticas de prevenção de obesidade.
“O foco
do grupo de trabalho é na implementação de ações. A gente sabe quais são as
causas da obesidade, sabe que há uma série de ações que vão ser efetivas para
reduzir a obesidade, mas tem que avançar na implementação dessas ações e em
quais políticas a gente deve priorizar para, de fato, ter resultados”, disse
Fábio Gomes ontem (27) à Agência Brasil.
Ressaltou,
porém, que não se trata apenas de combater a obesidade infantil, uma vez que “a
obesidade faz parte de um ciclo de vida”. No momento, o grupo da OMS está
montando um sistema de responsabilização, monitoramento e implementação.
A
proposta apresentada por Gomes visa identificar a obesidade como uma expressão
de falência no sistema alimentar. A obesidade não é causada pelo fato de as
pessoas estarem comendo mal e não praticarem atividade física. “Tem causas por
trás disso que fazem com que isso ocorra”.
O grupo
está dedicado a mapear essas causas o mais longe possível, até os limites mais
macropolíticos, disse o nutricionista do Inca. Isso abrange desde políticas que
definem o espaço urbano até a interferência de políticas de preços de alimentos
na alimentação mais saudável.
Mapeando
desde os elementos mais próximos do indivíduo, relacionados à educação
alimentar, até questões mais estruturais, o grupo poderá identificar quais são
os atores responsáveis por implementar essas ações e como eles devem atuar para
que isso se viabilize.
Do
ponto de vista da regulação, Gomes disse que os governos precisam avançar na
aprovação de leis que possam, por exemplo, restringir a publicidade de
alimentos e o uso de personagens infantis no rótulo de alimentos que estimulam
a compra e o consumo pelas crianças.
O
trabalho visa também identificar espaços em que a sociedade civil possa expor
práticas das indústrias ligadas ao superestímulo do consumo de alimentos não
saudáveis, citou. A sociedade deve também se organizar para pressionar que o
Congresso avance na aprovação de determinadas leis.
Vários
países na América Latina já modificaram rótulos de alimentos para oferecer
informações mais claras e advertências sobre consumo e para regular a
publicidade, em especial dentro das escolas, destacou. No Brasil, resolução
recente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda)
caracterizou a propaganda abusiva para alimentos infantis.
Após a
criação desse sistema de responsabilização, monitoramento e implementação, a
ideia é “propor ao país que quer enfrentar a obesidade o que ele precisa
desenvolver e o que a sociedade, o governo e as indústrias têm que fazer para
poder avançar as políticas públicas, e regular”.
O grupo
pretende revelar ainda o quanto as ações voluntárias das indústrias são
eficazes ou não para o tamanho do problema que é a obesidade. “A gente precisa
de medidas rigorosas para frear o processo que está acontecendo de forma muito
explosiva”.
Gomes
acredita que a partir da adoção dessas ações, a salubridade dos ambientes
alimentares pode melhorar. “E todo o sistema alimentar é alterado para melhor.
Isso impacta na produção e na sua diversidade, e também no meio ambiente”.
Por
isso, sustentou que a OMS quer olhar a obesidade como uma das expressões de
defeitos no sistema alimentar. Os ajustes sistêmicos podem mostrar um resultado
mais realista de correção estrutural do problema, sinalizou.
Na
próxima reunião de abril, serão apresentadas as primeiras conclusões do
subgrupo de trabalho de combate à obesidade da OMS.
Ele
interage com outro subgrupo que avalia as evidências científicas da relação dos
fatores de risco para ganho de peso e obesidade e está integrado à comissão
para erradicação da obesidade no mundo. A meta é construir um conjunto de
recomendações e de politicas no âmbito da OMS.
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