FONTE: Louise Vernier e Rita Trevisan, do UOL, em São Paulo (mulher.uol.com.br).
Prolongar o tempo na cama por mais alguns
minutinhos, logo após acordar, ou tirar algumas horas no fim de semana para
relaxar, sem fazer nada, é um comportamento comum e sadio. Mas quando o desejo
de permanecer deitado é constante, pode ser sinal de um distúrbio: a
clinomania. O problema é caracterizado pelo desejo incontrolável de ficar
deitado, dormindo ou não. E requer acompanhamento médico.
O diagnóstico não é simples e, geralmente, é
feito por exclusão. "Como a clinomania pode ser facilmente confundida com
outros males, como depressão e síndrome da fadiga crônica, é preciso fazer uma
avaliação cuidadosa do quadro do paciente. Só após concluir que não se trata de
nenhuma doença orgânica é que diagnosticamos o distúrbio", explica Shigueo
Yonekura, neurologista do Instituto de Medicina e Sono de Campinas e Piracicaba
(SP).
Quem sofre de depressão também pode apresentar
dificuldade na hora de sair da cama, mas por conta da melancolia, do desânimo e
da falta de energia que são característicos da doença. Já no caso da fadiga
crônica, segundo o psiquiatra Sergio Tamai, conselheiro da Associação
Brasileira de Psiquiatria, o que contribui para que o paciente permaneça
deitado é um cansaço persistente, que vem acompanhado por sintomas como dores
musculares, cefaleia e fraqueza.
O clinomaníaco, por outro lado, sente-se muito
confortável na cama, tem uma vontade imensa de ficar deitado e pode permanecer
assim por dias –principalmente se o tempo estiver chuvoso e nublado– sem sofrer
com os sinais clínicos que marcam as outras doenças. Porém, conforme afirma o
psiquiatra Almir Ribeiro Tavares, coordenador do Departamento de Medicina do
Sono da Associação Brasileira de Psiquiatria, a clinomania pode se estabelecer
em associação com outras doenças.
"Muitos quadros produzem cansaço e fadiga e
podem levar o paciente a enxergar o descanso como um tratamento. Só que, com o
tempo, o que era apenas um repouso programado tem chances de se tornar
clinomania", explica.
O distúrbio pode afetar pessoas de qualquer faixa
etária, mas mulheres entre 20 e 40 anos são mais suscetíveis. Uma explicação
possível pode ser a alteração hormonal a que essas mulheres se submetem todos
os meses, conforme explica Tamai. Idosos também são considerados mais
vulneráveis à doença.
"Com a vida tranquila, sem muitas atividades
e ocupações, os idosos se dão o luxo de deitar durante o dia. Mas o hábito pode
se tornar nocivo e progredir para a clinomania", afirma Tavares. "O
ser humano não nasceu para ficar deitado. O organismo precisa estar sempre em
movimento, caso contrário, uma série de funções é prejudicada", diz o
especialista.
A boa notícia é que o distúrbio tem cura. Após o
diagnóstico, o paciente pode buscar o auxílio de um psicólogo, psiquiatra,
neurologista ou médico especialista em distúrbios do sono. "Alguns quadros
exigem o uso de medicamentos mas, em outros, apenas o acompanhamento
psicológico, a prática de exercícios físicos e as mudanças comportamentais são
suficientes para resolver o problema", declara Yonekura.
Preguiça ou clinomania?
Pessoas acometidas pela clinomania são
frequentemente chamadas de preguiçosas, o que é, obviamente, um equívoco. O
termo "preguiça" vem do latim pigritia, que significa "aversão
ao trabalho".
"Indivíduos preguiçosos são avessos a
afazeres que exijam esforço físico ou mental e, por isso, direcionam a sua vida
para outras atividades", explica o neurologista Shigueo Yonekura. "Já
a clinomania é caracterizada apenas por uma condição: uma vontade imensa de
ficar na posição horizontal. Se a pessoa quer passar a maior parte do seu tempo
assim, abrindo mão de outras atividades, vale a pena investigar", diz o
especialista.
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