FONTE: Janaína Quitério, Colaboração para o UOL (noticias.uol.com.br).
Cientistas da UFSCar
(Universidade Federal de São Carlos) afirmam que substâncias isoladas do
gengibre conseguem inibir o crescimento de tumor primário de mama, e também
evitar metástases para ossos, pulmão e cérebro. As pesquisas foram feitas com
animais.
"Até o momento,
sabemos que a molécula que estudamos age induzindo a morte celular programada,
uma ação que se espera das moléculas antitumorais", explica Marcia Regina
Cominetti, pesquisadora do Laboratório de Biologia do Envelhecimento da
universidade.
Como o câncer é um
conjunto com mais de cem doenças, desenvolver tratamentos específicos é
difícil. As três opções mais usadas hoje são a cirurgia para a remoção do
tumor, a quimioterapia e a radioterapia, muitas vezes realizadas de forma
combinada, explica Cominetti. Contudo, há tumores que não podem ser alvo de
quimioterapia específica –como os chamados tumores de mama triplo negativos.
"Para esses
tipos, que acometem por volta de 15% das mulheres no mundo, o tratamento é
muito mais difícil, com recaídas mais frequentes. Nossos estudos têm sido
realizados justamente com esse tipo de câncer de mama", conta a
pesquisadora.
Além disso, a
quimioterapia, embora seja o tratamento mais utilizado, mata ou inibe célula
cancerosas e também células saudáveis do organismo. Mais um motivo para a busca
de novos compostos, mais eficazes e com menos efeitos colaterais.
"Células que se
dividem rapidamente, como as do bulbo capilar, onde os cabelos nascem, da
mucosa bucal e do intestino, por exemplo, também acabam morrendo, o que leva o
paciente a apresentar sérios efeitos colaterais, como náusea e queda de
cabelo", salienta Cominetti.
Dieta asiática deu pista
para estudos sobre gengibre.
As pesquisas com o
gengibre foram estimuladas a partir de estudos populacionais que mostraram
risco menor de câncer em habitantes de países asiáticos, onde há uma dieta rica
em gengibre, soja, cebola, tomate, pimentas e chá verde, em comparação com
países ocidentais, lembra Paulo Cezar Vieira, professor de Química da UFSCar e
colaborador do estudo.
Há muitos exemplos de
substâncias naturais que atuam como remédio contra o câncer. A vimblastina, por
exemplo, é usada há mais de 50 anos no tratamento da leucemia e foi extraída de
uma planta da ilha de Madagascar, muito comum, conhecida no Brasil como
maria-sem-vergonha.
Embora os gingeróis
sejam conhecidos como produtos encontrados no gengibre, alguns deles podem ser
isolados apenas em quantidades muito pequenas. No entanto, pesquisadores do
departamento de Química da UFSCar desenvolveram um método mais eficiente de
purificar o composto.
Ainda são necessários
testes com humanos.
Os testes
pré-clínicos foram iniciados em 2010, primeiro por meio de cultura de células
retiradas de tumores de pacientes para testes com compostos e, em seguida, com
testes em camundongos.
Segundo a
pesquisadora, os estudos constataram que o gingerol apresentou atividade
antitumoral capaz de reduzir o tamanho de tumores primários in vivo, nos
camundongos, além de reduzir a formação de metástases nos pulmões, ossos e
cérebro. "Verificamos que no grupo de controle, isto é, que não foi
tratado com gingerol, sete em quinze animais apresentaram metástases
cerebrais", relata a pesquisadora.
Já no grupo tratado
com gingerol, apenas um entre quinze camundongos apresentou nódulos
metastáticos no cérebro, mas ainda são necessários mais investimentos nos
estudos para a compreensão de todos os mecanismos de ação das moléculas em
teste. "Enquanto a incidência de metástases cerebrais no grupo de controle
foi de 50%, esse valor caiu drasticamente no grupo que recebeu o tratamento com
gingerol, atingindo a marca de apenas 6%", avalia.
Para não causar
falsas esperanças em pacientes com câncer, os pesquisadores da UFSCar enfatizam
que os gingerois não são a "nova fosfoetanolamina": "Ainda não
realizamos nenhum estudo em seres humanos, por isso não podemos ter certeza de que
esse composto será, de fato, efetivo para mulheres com câncer de mama",
salienta Marcia Cominetti.
O processo para que
as substâncias possam se transformar em remédios é longo. "Com sorte e
muito recurso, não leva menos de dez anos", calcula João Ernesto Carvalho,
professor de farmácia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Carvalho considera
promissoras as pesquisas com gingeróis: "Existem muitos estudos na
literatura mostrando que essa substância apresenta atividade antiinflamatória e
também atua no crescimento celular. Mas uma coisa é a quantidade de gingerol
encontrada no chá ou quando o gengibre é ingerido. Outra é quando é utilizada
no tratamento do câncer. A quantidade introduzida no organismo vai produzir
toxicidade?", problematiza
Apesar de considerar
importante a pesquisa da UFSCar, Carvalho pondera que o real potencial
terapêutico do gingerol apenas poderá ser determinado com a continuidade dos
estudos de toxicologia em animais, depois em humanos.
Os resultados
iniciais da pesquisa com o gengibre já foram publicados na revista Journal of
Chromatography B, em 2012, mas informações mais atualizadas estão em fase de
preparação.
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