Descoberta ajudará
a desvendar as transformações genéticas que a domesticação provocou.
O
comportamento sociável dos cães em relação aos humanos pode ter base genética,
segundo um novo estudo publicado na quinta-feira (29) na revista Nature
Scientific Reports. Os cientistas estudaram os genomas de 190 cães da raça
beagle e identificaram cinco genes ligados a comportamentos como a busca de
atenção e a permanência próxima a indivíduos da espécie humana. Os cientistas
da Universidade de Linköping (Suécia) também descobriram que quatro desses
genes são ligados, nos humanos, a distúrbios sociais como o autismo.
Segundo
os autores do artigo, a descoberta ajudará a desvendar as transformações
genéticas que a domesticação provocou no genoma canino nos últimos milênios. De
acordo com um experimento realizado pelos cientistas, os beagles que possuem
variantes específicas em um desses genes chamado SEZ6L - e associado ao autismo
em humanos - têm maior tendência a manter proximidade e realizar contato físico
com humanos desconhecidos.
Segundo
o coordenador do estudo, Per Jensen, variantes de quatro dos cinco genes
identificados têm ligação com distúrbios sociais em humanos. “Acreditamos que
há variantes genéticas que tendem a tornar os cães mais sociáveis e que essas
variantes têm sido selecionadas ao longo do processo de domesticação”, afirmou
Jensen. O cientista afirma que a maior parte dos estudos genéticos sobre cães
utiliza amostras de animais de estimação, de animais que vivem na rua ou de
lobos selvagens. Mas sua equipe estudou um grupo de beagles criado em
laboratório.
Nenhum
dos cães foi treinado. Para testar a sociabilidade dos cães, os cientistas
deram aos animais uma espécie de quebra-cabeças de solução impossível, em uma
sala com uma observadora humana desconhecida para os beagles. O quebra-cabeças
é um dispositivo com três guloseimas que os cães podiam enxergar e farejar sob
tampas deslizantes. Uma das tampas foi selada e não podia ser aberta. “Depois
de abrir duas das tampas, os cães ficaram muito confiantes de que a tarefa não
era difícil, mas aí eles encontravam a terceira tampa e viam que o problema se
tornava impossível de resolver”, afirmou Jensen.
Segundo
ele, testes feitos antes com lobos mostravam que esses animais ficariam
tentando resolver o problema por si mesmos. Mas não os beagles: depois de
algumas tentativas frustradas, vários deles procuravam o olhar da observadora
humana, como se pedissem ajuda. Alguns dos cães tentavam chamar a atenção da
observadora olhando alternadamente para ela e para a tampa travada. Outros
faziam contato físico com a mulher, ou ao menos sentavam bem perto dela.
Os
cientistas então buscaram as diferenças dos genomas dos cães que se mostraram
mais e menos sociáveis. Uma região no cromossomo 26 logo foi identificada,
indicando que ali haveria genes envolvidos com as interações sociais com
humanos.
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