"Cansado de se sentir cansado?"
A frase em inglês pode ser lida em
cartazes espalhados nos ônibus e trens do metrô do Reino Unido.
E entre as várias respostas para
acabar com o cansaço constante de homens e mulheres que surgiram nos últimos
anos, uma delas virou moda: injeções de testosterona, o hormônio masculino.
A moda é tamanha que um médico, Nick
Panay, da Real Associação de Obstetras e Ginecologistas do Reino Unido,
defendeu que a substância seja administrada gratuitamente, em mulheres, pela
rede de saúde pública.
De acordo com Panay, se for aplicada
em pequenas doses, a testosterona não só ajuda a reativar a energia do corpo,
como aumenta o apetite sexual das mulheres.
"Uma em cada três mulheres no
país sofre com a falta de desejo sexual e isso pode ser aliviado com um
suplemento de testosterona", argumentou o médico, durante uma conferência
científica em Harrogate, no norte do país.
'Não é Viagra'.
Mas o médico fez questão de
esclarecer: "Não é uma espécie de Viagra feminino. É apenas algo que pode
ajudar", disse.
Segundo o especialista, a solução
hormonal pode ser injetada ou aplicada como um gel.
A moda dos suplementos de
testosterona surgiu acompanhada de advertências. Para os especialistas, estes
devem ser usados somente sob supervisão médica. O uso inadequado das
substâncias "pode causar infarto, problemas cerebrais, danos no fígado e
no sistema endócrino".
Mas a testosterona já tem adeptos
famosos: o cantor britânico Robbie Williams admitiu, há dois anos, que tomava
injeções de testosterona para aumentar o apetite sexual e aguentar o ritmo das
turnês.
"Um médico me disse que meu
nível de testosterona era igual ao de um homem de 100 anos, então comecei a
tomar injeções que me ajudaram não só a melhorar meu estado físico, como a
minha atividade sexual", disse o cantor à revista Esquire.
Mas como este hormônio ajuda o corpo
e por que se tornou uma nova tendência no combate ao cansaço?
O hormônio da moda.
A testosterona é o hormônio masculino
responsável pelo desejo e pelas funções sexuais do homem.
Mas
é possível sintetizar a substância. Várias empresas desenvolveram suplementos
de testosterona, retirando-a de plantas (que também a produzem) para vendê-las
na forma de comprimidos, injeções ou gel.
De
acordo com a revista Pulse, o uso dos suplementos dobrou nos
últimos cinco anos em alguns países da Europa e nos Estados Unidos - tanto por
homens quanto por mulheres - como uma saída contra o cansaço e a falta de
desejo sexual.
No
ano passado, os médicos da rede pública britânica recomendaram 370 mil receitas
destes produtos.
"Nas
mulheres, por exemplo, o hormônio combate o distúrbio conhecido como transtorno
do desejo hipoativo, que afeta 15% das mulheres na menopausa", explicou
Panay.
"Vi
mulheres que passaram a correr maratonas", acrescentou.
Além
disso, a falta de testosterona causa o que tem sido chamado de menopausa
masculina.
"Pessoalmente,
o hormônio fez com que eu me sentisse vivo: caminho mais, corro mais. Mas
sobretudo, ele ajuda na recuperação da confiança em si mesmo", disse ao
jornal The Telegraph Dan Hegarty, um médico que toma o
suplemento há vários anos.
"Comecei
a usar o hormônio quando fui ao médico, porque não conseguia nem ler o jornal
sem cair no sono", explicou Hegarty.
Riscos.
No
entanto, como toda moda que envolve campo da saúde, é preciso tomar vários
cuidados e os médicos se mostram céticos na hora de recomendar seu uso para
alguns pacientes.
A
principal advertência é de que os homens só devem tomar o suplemento se for
diagnosticada a baixa produção de hormônio e se o seu consumo for controlado
por um médico.
"O
cansaço constante é sintoma de várias doenças. Um homem pode ter níveis baixos
de testosterona, mas pode sentir-se normal. Ou ter um nível normal do hormônio,
mas não conseguir sair da cama", disse ao The Telegraph o endocrinologista Mark Vanderpump.
Por
isso, a agência que controla e regulamenta os alimentos e medicamentos nos
Estados Unidos, a FDA (na sigla em inglês), lançou um alerta sobre os riscos de
infarto ou de problemas de fertilidade causados pelo consumo excessivo destes
suplementos.
"O
abuso da testosterona, geralmente em uma dose maior do que a receitada pelos
médicos, pode afetar seriamente a saúde da pessoa e causar infarto, problemas
no cérebro, no fígado e no sistema endócrino", disse o comunicado da FDA.
Entre
as mulheres, além do diagnóstico da deficiência hormonal, é importante saber
que as doses devem ser muito menores do que as injetadas nos homens.
"Não
podemos esquecer que as mulheres produzem os dois hormônios (testosterona e
estrógeno) e precisam apenas da aplicação de um adesivo para ajudá-las a
superar a queda do desejo sexual, por exemplo", disse à BBC a médica
Channa Jayasena, do respeitado Imperial College de Londres.
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