FONTE: , Steven Petrow (noticias.uol.com.br).
"Por que você parou de beber?
Você não parecia ter um problema com a bebida", perguntou meu amigo Brad
quando saímos para jantar recentemente.
A pergunta me surpreendeu porque foi
feita dois anos depois de minha decisão de "dar um tempo" no álcool.
Ele estava examinando a lista de vinhos, e percebi que queria minha companhia
para compartilhar uma garrafa de rose francês. Então decidi contar a verdade.
"Para
recuperar o controle da minha depressão."
Com 50 e tantos anos, minha antiga
depressão começou a piorar, embora eu não tenha percebido no início. Continuei
a beber moderadamente, dois copos de vinho na maioria dos dias da semana, com
um Manhattan por mês.
Então dois meses muito escuros e
tempestuosos me sacudiram tremendamente, deixando-me em um buraco negro de
desespero enquanto a depressão tomava conta de mim. Na minha primeira consulta
de terapia, o psicofarmacologista me ouviu com atenção e depois me aconselhou
sem rodeios: "Pare de beber por um mês".
O psiquiatra queria saber se eu
controlava minha ingestão de álcool ou se ela me controlava. Ele explicou que
nos tornamos mais sensíveis aos efeitos depressivos do álcool à medida que
envelhecemos, especialmente na meia-idade, quando a química do nosso corpo muda
e estamos mais propensos a tomar vários remédios que podem interagir com o
álcool e uns com os outros.
Por ordens do médico, parei de uma
vez de ingerir álcool. Quando voltei lá um mês depois e afirmei que não havia
tocado em um drinque desde a minha visita anterior, ele ficou satisfeito de
saber que eu não tinha "um problema ativo com o álcool" e me contou
que eu podia beber o que ele considerava moderadamente: não mais do que dois
copos de vinho por dia e nunca em dias seguidos. Ele também sugeriu que eu
mantivesse um diário.
Hoje, o número de americanos tomando
antidepressivos é maior do que nunca. A incidência quase dobrou entre 1999 e
2012, aumentando de 6,9 para 13 por cento, segundo um estudo do JAMA. O uso de
antidepressivos cresce com a idade, com mais de uma em seis pessoas acima dos
60 anos necessitando de medicamentos para a depressão.
As empresas farmacêuticas erram na
hora de avisar sobre os problemas, advertindo aqueles que tomam os remédios
para "evitar o álcool". O álcool em si é um fator depressivo e pode
piorar a doença, embora poucos estudos tenham explorado as implicações clínicas
de misturá-lo com os antidepressivos. O doutor Daniel Hall-Flavin, professor
associado de Psiquiatria da Clínica Mayo que estuda vícios, afirma:
"Apesar de certos indivíduos serem capazes de tomar um drinque ocasional
sem sofrer complicações, isso não pode ser generalizado para toda a população,
porque algumas pessoas podem ter interações medicamentosas".
O psicólogo clínico Andrew Solomon,
um dos deprimidos mais conhecidos do mundo por causa de seu livro "O
Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão", não pode oferecer uma
orientação muito precisa: "Definitivamente varia dependendo de como estou
me sentindo em geral", afirmou quando perguntei sobre seus hábitos.
"Quando estou de bom humor, encaro com mais tranquilidade; quando me sinto
mais frágil, sou mais cauteloso."
"As pessoas não sabem", explica o doutor Richard A. Friedman,
professor de Psiquiatria Clínica, diretor de Psicofarmacologia Clínica do Weill
Cornell Medicine, de Nova York, e colaborador ocasional do The New York Times.
"Simplesmente não há bons estudos sobre a existência de uma quantidade
segura de ingestão de álcool enquanto o paciente está tomando antidepressivos,
e é por isso que temos tantas opiniões diferentes dos médicos, indo de nada a
moderadamente, o que quer que isso seja."
Friedman nos lembra de algo que já
sabemos: "O risco de abuso de álcool e de problemas de dependência para
quem sofre de depressão é mais ou menos o dobro do risco das outras
pessoas". E se existe uma condição psiquiátrica, como transtorno bipolar,
diz ele, a possibilidade de surgir uma desordem relacionada à ingestão do
álcool é seis a sete vezes maior.
Ele observa que alguns remédios podem
ser mais perigosos do que outros quando combinados com o álcool. E faz um
alerta específico sobre o Wellbutrin, preferido por muitos pacientes porque
quase não possui efeitos colaterais relacionados ao sexo; infelizmente esse
antidepressivo, quando combinado com o álcool, pode aumentar a probabilidade de
uma convulsão.
O Lexapro, o antidepressivo que eu
tomo, pertence a uma classe amplamente prescrita de antidepressivos conhecidos
como inibidores seletivos da receptação de serotonina e não é melhor nem pior,
em relação ao álcool, do que outros do mesmo estilo.
Friedman acrescenta que um tipo mais
antigo de antidepressivo conhecido como inibidores da monoamina oxidase, ou
MAOIs (na sigla do nome em inglês), pode ser particularmente perigoso quando
combinado com bebidas alcoólicas. O álcool contém quantidades variáveis de
tiramina, uma substância natural também encontrada em alguns alimentos como
queijos envelhecidos e carnes curadas que, quando combinados com esses
medicamentos, podem fazer com que os níveis de pressão arterial disparem.
Então o que fazer? Friedman sugere
uma experiência: tentar tomar um drinque duas vezes por semana ou menos. Se não
surgir nenhum problema, como a volta dos sentimentos de depressão ou de
ansiedade, ou uma interrupção do sono, a pessoa pode manter esse nível bastante
moderado de ingestão de bebidas alcoólicas. Esses efeitos colaterais podem se
tornar aparentes no dia seguinte ou levar dias ou semanas para se desenvolver,
avisa ele, especialmente com níveis mais altos de ingestão de álcool.
"Muitas pessoas não reconhecem
nem fazem essas conexões", explica, então pensam que podem continuar a
beber – ou começar a beber mais. Não podem. A verdade é que todo mundo que toma
antidepressivo deveria primeiro conversar com o médico antes de tomar qualquer
bebida alcoólica.
Quanto a mim, minha experiência sobre
quanto beber foi ambígua: mesmo meio copo de vinho abre as portas da armadilha
da depressão em minha cabeça. A abstenção mantém essas portas fechadas e minha
depressão afastada. Pelo menos por enquanto.
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