BRASÍLIA
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A trajetória da taxa de mortalidade
infantil no País é apontada como um claro
exemplo de que os progressos alcançados na área de saúde estão longe de serem
irreversíveis. Depois de 25 anos de queda, o Brasil registrou em 2016 o
primeiro aumento nos indicadores de mortes entre crianças de
até um ano. Foram 14 óbitos a cada mil nascidos vivos, 5% a mais do que havia
sido contabilizado no ano anterior.
Inicialmente atribuído
à redução de nascimentos por causa da zika,
o crescimento da mortalidade também ocorreu em 2017. Dados preliminares mostram
que 13,6 mortes a cada mil nascidos vivos. “A epidemia não explica o fenômeno
por dois anos seguidos. Há provavelmente uma tendência de aumento”, constata o
professor da Universidade Federal de Pelotas, Cesar Victora.
População
pobre mais suscetível.
O pesquisador atribui
em parte a retomada das taxas de mortalidade a retrocessos em áreas que
sabidamente exercem influência na qualidade saúde, como emprego, renda e
igualdade no acesso. “A população está mais pobre, mais suscetível”, resume o
professor. Não bastasse esses fatores, investimentos na saúde pública
inferiores às necessidades comprometem também a qualidade da assistência médica
- mesmo de programas voltados para problemas específicos, seja imunização, seja
amamentação, seja cuidados básicos para saúde infantil.
“As mortes por diarreia
voltaram a aumentar. O programa de imunização, que sempre foi motivo de
orgulho, também começou a mostrar sinais de retrocesso, com altos índices de
crianças desprotegidas.” Outra iniciativa considerada exemplar do País, o
programa de aleitamento materno,
também está estagnado. “Houve avanços muito importantes. Mas desde 2013, as
taxas de amamentação exclusiva estão estacionadas em números baixos.”
Atualmente, 40% dos bebês recebem o aleitamento como alimentação exclusiva até
os 6 meses. O ideal seria 100%. Com aleitamento, o bebê cresce com maior
proteção contra infecções, por exemplo.
Para Victora, é
essencial trabalhar pela melhora na qualidade do atendimento. “Esse é um dos
desafios.” E isso vale também para a assistência à gestante. Assim como a
mortalidade infantil, a taxa de morte materna (durante a gestação e até 42 dias
depois do parto) também considerada alta: 64,4 por 100 mil nascidos vivos.
“Para reduzi-las, precisamos enfrentar a discussão sobre a liberação do aborto,
melhorar o pré-natal e reduzir as cesáreas”.

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