Ela
estava internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
A atriz Beatriz Segall
morreu nesta quarta-feira, aos 92 anos. Segall estava internada no Hospital
Albert Einstein, em São Paulo, e tinha recebido alta no dia 21 de agosto.
Recentemente, no entanto, ela voltou a ser internada. O motivo da internação
não foi divulgado a pedido da família. A causa da morte ainda não foi
divulgada.
Que ninguém convidasse
Beatriz Segall e Odete Roitman para a mesma festa — a atriz e a personagem mais
popular que ela interpretou viviam em mundos bem distintos. “[Odete] entrou
para a história da televisão brasileira, isso é indiscutível. Agora, eu não sou
uma atriz de um papel só, fiz muitas outras coisas, recebi alguns prêmios e não
construí minha carreira só com ela”, desabafou Beatriz em 2013, em entrevista à
revista ÉPOCA, numa das muitas vezes em que foi requisitada para falar sobre o
enorme sucesso que a má, mesquinha, vaidosa e arrogante vilã da novela “Vale
tudo” (de 1988, mas várias vezes reprisada) fez.
Na mesma entrevista,
ela explicava seu cansaço: “As pessoas que acham que estão sendo originais e
soltam a velha pergunta: ‘Quem matou Odete Roitman?’. Ninguém aguenta mais
ouvir falar sobre isso. Mas se for uma abordagem bacana sobre a personagem,
nunca me nego a falar.”
De vez em quando,
porém, como quando falou ao GLOBO, em 1988 (época em que era parada na rua a
toda hora por causa da novela), Beatriz revelava até algum carinho pela criação
de Gilberto Braga: “A Odete diz coisas que são consideradas impatrióticas, mas
que são verdades. Isso provoca alguns tipos de ações ou reações. Parece que
todo mundo se envolveu muito com a Odete Roitman.”
Filha de uma família de
classe média carioca, que lutou contra a oposição do pai para poder fazer
teatro, a professora de francês Beatriz de Toledo estreou profissionalmente nos
anos 1950 em “Manequim”, de Henrique Pongetti, ao lado de Jardel Filho, pelo Teatro
Popular de Arte (TPA). Depois de integrar a companhia Os Artistas Unidos, da
atriz francesa Henriette Morineau, ela recebeu uma bolsa do governo francês
para cursar língua e teatro na Sorbonne, em Paris.
Lá, Beatriz conheceu
conheceu Maurício Segall, filho do pintor Lasar Segall, com quem se casou em
1954 e teve três filhos: o diretor de cinema Sérgio Toledo (que fez “Vera”,
longa de 1986 que valeu a uma estreante Ana Beatriz Nogueira o Urso de Ouro de
melhor atriz em Berlim), Mário (arquiteto e professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie) e Paulo. Nessa época, a atriz abandonou a carreira
artística para retomá-la somente em 1964, quando substituiu Henriette Morineau
em “Andorra”, do Teatro Oficina, dirigida por José Celso Martinez Corrêa.
Daí em diante, o teatro
se tornou a vida Beatriz Segall, em montagens como “Os inimigos” (1965, de
Máximo Gorki, com direção de José Celso, também com o Oficina), “Marta Saré”
(1968, de Gianfrancesco Guarnieri, pela companhia de Fernanda Montenegro, com
quem dividiu o palco) e o “Hamlet” (1969), de William Shakespeare, dirigido por
Flávio Rangel no Teatro Anchieta.
Com Maurício Segall, a
atriz capitaneou um processo de reerguimento artístico do Theatro São Pedro, em
São Paulo, o que resultou nas montagens “A longa noite de cristal” (1970), de
Oduvaldo Vianna Filho, e “O interrogatório” (1971), de Peter Weiss. Em 70,
Maurício foi preso e torturado por sua ligação com a ANL, grupo que aderiu á
luta armada contra o regime militar.
Com alguns poucos
papéis no cinema (onde estreou em 1951, em “A beleza do diabo”, do francês
Romain Lesage), Beatriz começou a se destacar na TV (onde teve participações
esporádicas) em 1978, ao viver a Celina de “Dancin Days”, de Gilberto Braga.
Seguiram-se papéis em “Pai herói” (1979), “Água viva” (1980), “Sol de verão”
(1982), “Champagne” (1983), “Carmen” (1987), “Barriga de aluguel” (1990), “De
corpo e alma” (1992), “Sonho meu” (1993) e “Anjo mau” (1997). Em 1988, a atriz
confidenciava ao GLOBO: “Até fazer ‘Dancin Days’, eu execrava televisão. Achava
tudo muito pobre, sem recursos. A partir de ‘Dancin Days’ me dei conta de que
não podia mais ignorar o veículo, a TV tinha melhorado muito.”
E se o assunto era
teatro, as opiniões de Beatriz Segall ficavam ainda mais fortes. Em 2000,
quando estrelava uma montagem de “Histórias roubadas”, do norte-americano
Daniel Margulies, ela observava, em entrevista ao GLOBO: “O teatro está
abandonado no Brasil. Não há apoio porque o teatro não dá lucro, dá apenas
prestígio. Isto exigiria do Ministério da Cultura um olhar mais atento aos
nossos problemas. Seria preciso rever a Lei Rouanet, para que ela oferecesse
mais vantagens ao patrocínio teatral. O cinema tem a Lei do Audiovisual e o
teatro não tem nada. Estamos absolutamente abandonados.”
Em 2002, no segundo
turno da eleição presidencial, Beatriz participou do programa de TV do
candidato do PSDB José Serra (que disputava com Lula, do PT), dizendo: “Eu
tenho medo. Como a Regina Duarte, também estou com medo de não poder dizer que
estou com medo. De ser ameaçada de processo pelo simples fato de discordar.” Em
2013, a atriz caiu em um buraco em uma calçada do bairro da Gávea, no Rio,
machucando-se seriamente. Na ocasião, ela chegou a receber uma ligação e um
pedido de desculpas do prefeito Eduardo Paes.
A última participação
de Beatriz Segall na TV foi no primeiro episódio da série “Os experientes”, da
TV Globo. Em “Assalto”, ela interpretou Yolanda, uma senhora que se vê no meio
de uma ação criminosa em uma agência bancária e que divide sua história com um dos
assaltantes.
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