Ter um transtorno
relacionado ao uso do álcool pode ser algo mais complicado que simplesmente
beber demais. As manifestações do problema podem ser diferentes para cada
pessoa e em cada fase da vida, segundo um estudo recém-publicado.
Em primeiro lugar, é
bom entender o que significa, exatamente, ter um transtorno relacionado ao
álcool. De acordo com a última edição do Manual Diagnóstico Estatístico de
Transtornos Mentais, o DSM-5, é preciso que a pessoa apresente pelo menos duas
das características abaixo:
1)
O álcool é frequentemente consumido em quantidades maiores e por períodos mais
longos que se desejava
2)
Desejo persistente ou esforços mal-sucedidos para controlar o uso do álcool
3)
A pessoa gasta muito tempo não só bebendo, mas também nas atividades
necessárias para obtenção do álcool ou para se recuperar dos efeitos do excesso
de álcool
4)
A pessoa sente fissura, ou um desejo intenso, de beber
5)
O uso do álcool atrapalha o cumprimento de obrigações importantes
6)
A pessoa continua a beber, apesar de ter problemas interpessoais ou sociais
causados pelo álcool
7)
O usuário abandona atividades sociais, ocupacionais ou recreativas para beber
8)
A pessoa bebe mesmo em situações em que é perigoso fazer isso
9)
O uso continua apensar da percepção de que existe um problema físico ou
psicológico
10)
Há tolerância, ou seja, é preciso consumir quantidades cada vez maiores para
obter os mesmos efeitos
11)
A pessoa apresenta sintomas de abstinência, como tremores e nervosismo, quando
não bebe.
Quanto mais sintomas,
maior a intensidade do problema – a presença de seis ou mais indica que o
transtorno é grave. Mas certas características podem prevalecem em certos
grupos de usuários.
Pesquisadores da
Universidade Penn State, nos Estados Unidos, analisaram uma amostra
representativa da população, com 5.400 pessoas de 18 e 64 anos com problemas
relacionados ao álcool, e concluíram que existem cinco perfis diferentes de
bebedores problemáticos:
– Os que só percebem os
efeitos adversos do consumo abusivo, como ressaca no dia seguinte ou sintomas
de abstinência (34% da amostra).
– Os que apresentam
diversos problemas relacionados ao álcool, mas não acham que a bebida interfere
com a família, amigos, trabalho ou hobbies (21%).
– Os altamente
problemáticos, que já experimentaram todos os sintomas do transtorno do uso de
álcool (7%).
– Os que lutam para
reduzir o consumo de álcool (por causa de todos os problemas experimentados
pelo abuso), mas não conseguem (13%).
– E os que, além de
beber damais, já passaram por algum acidente ou outras situações de risco por
causa do álcool (25%).
Os pesquisadores dizem
que os três primeiros perfis foram mais comuns nos indivíduos mais jovens,
enquanto os dois últimos envolveram usuários mais velhos, com 50 ou 60 anos. Os
pesquisadores não sabem se esses perfis se modificam ao longo da vida, ou se
são fixos e, portanto, ligados a características pessoais.
Mas o que o estudo
propõe é que, além de levar em conta a intensidade do transtorno, o tratamento
deve levar em consideração esses diferentes perfis, que refletem diferentes
impactos do uso problemático do álcool. Em outras palavras, a abordagem precisa
ser individualizada para que tenha sucesso.
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