Você sabia que o hábito,
ou melhor, o vício de roer as unhas tem um nome próprio e um
tanto estranho? O termo é onicofagia. Difícil de ser controlada,
geralmente por estar associada a questões emocionais, a mania costuma gerar
consequências que vão além de danos à aparência das unhas e machucados nos
dedos. Ela pode comprometer a saúde
bucal.
Isso porque o ato
repetitivo de mordiscar as unhas — ou mesmo pontas de lápis e canetas — afeta
todo um sistema que abrange ossos, músculos, nervos, vasos sanguíneos, língua e
dentes. Dessa forma, vira fator de risco para disfunções na articulação temporomandibular (ATM),
aquela que conecta a mandíbula ao crânio e fica logo à frente dos nossos
ouvidos. Um dos principais resultados desse desgaste é a dor nos
músculos da face e mesmo a de cabeça.
Zumbido, incômodos nos
ouvidos, limitação de abertura da boca e dificuldade para mastigar os alimentos
são alguns dos outros sintomas da disfunção temporomandibular (DTM).
E todos podem ser desenvolvidos a partir desse hábito aparentemente
inofensivo.
A repercussão do vício
de roer as unhas na saúde bucal merece avaliação de um profissional
especialista em dor orofacial e DTM. É que o diagnóstico e o tratamento da
condição passam pela cadeira do dentista.
Em primeiro lugar, é
preciso identificar por que o indivíduo adquiriu essa mania. Na sequência,
pensaremos nas soluções para que ele consiga abandoná-la. No processo, podemos
indicar ao paciente medicamentos, dispositivos intraorais e placas protetoras.
Muitas vezes, o
tratamento deve envolver outros profissionais de saúde, caso do psicólogo e do
psiquiatra. E até mesmo professores de terapias complementares, como meditação
e ioga. Esse trabalho interprofissional costuma ser determinante para a
resolução do problema.
Não bastasse predispor
o cidadão à DTM, o ato de roer as unhas afeta a boca de outras formas. Desgasta
a superfície dos dentes, tornando-os mais frágeis e sujeitos a fraturas, por
exemplo. Também aumenta o risco de reabsorção das raízes, especialmente entre
quem usa aparelhos ortodônticos.
Outro aspecto
importante, e que não diz respeito só à cavidade oral, é o da higiene. Ora, nem
sempre as mãos e as unhas estão limpas quando a pessoa as leva à boca. E isso
abre caminho ao contato com vírus e bactérias. A presença desses
micro-organismos pode ocasionar gengivite, doença periodontal e até
problemas sistêmicos.
Sabemos que um hábito
negativo pode demorar a ser percebido ou até mesmo parecer inofensivo. Por
isso, vale a pena refletir sobre as nossas atitudes e manias e ter atenção
especialmente com as crianças, pois boa parte das pessoas começa a roer as
unhas ainda na infância. Quanto mais cedo e rápido um vício for
identificado, maiores serão as chances de que ele não perdure e prejudique a
saúde.
*
Dr. João Paulo C. Tanganeli é cirurgião-dentista e membro da Câmara Técnica de
Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo (CROSP).
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