As mulheres vítimas de
violência doméstica na França têm enfrentado uma outra fonte de angústia no
cotidiano: a "ciberviolência" de seus companheiros e maridos. São
cada vez mais numerosos os homens que espionam o telefone celular de suas
parceiras, suas atividades nas redes sociais e seus e-mails a fim de
intimidá-las, conforme revela um estudo divulgado na terça-feira (20) pelo
Centro Hubertine Auclert, uma instituição que se dedica a estudos sobre a
igualdade de gênero.
Com o fenômeno #MeToo,
muitas francesas vítimas de violência física, de assédio moral e psicológico de
seus cônjuges passaram a compartilhar suas experiências nas redes. Mas essa
liberação da palavra passou a preocupar muitos agressores, que não querem saber
de exposição. Para continuar a exercer o controle na relação e manter a mulher
sujeita à dominação, muitos homens têm aumentado a pressão com o ciberbullying.
O estudo revelou cinco
tipos de ciberviolência doméstica. De um grupo de 212 mulheres ouvidas, 73%
disseram que foram vítimas de "cibercontrole", que é a obrigação do
cônjuge abusivo de poder entrar em contato com ela a qualquer momento, ler suas
mensagens ou consultar suas ligações telefônicas. Sessenta e três por cento
disseram ter sofrido "ciberassédio" ou "ciberbullying", ou
seja, receberam mensagens ofensivas e insultantes dos companheiros por SMS,
WhatsApp ou correio eletrônico. Vinte e nove por cento das entrevistadas
tiveram a impressão de serem monitoradas à distância, geolocalizadas por seu
cônjuge, sem o conhecimento delas ou não.
Tutela financeira.
Um quarto das mulheres
pesquisadas foram submetidas a uma forma de "ciberviolência
econômica", em que o cônjuge modifica as senhas de contas bancárias ou
administrativas para "negar o acesso ou desviá-las para uso pessoal"
e 10 % foram vítimas de "ciberviolência sexual", caracterizada pela
captura, ou mesmo a difusão, não consentida de imagens íntimas. Três quartos
dessas vítimas relataram pelo menos dois desses tipos de violência.
O Centro Hubertine
Auclert ouviu ao todo 302 vítimas de violência de seus cônjuges, e 9 em cada 10
mulheres relatam ter experimentado pelo menos uma forma de ciberbullying
doméstica. A maioria dos ataques dessa natureza começou durante a vida a dois
(87%).
Na maioria das vezes, a
ciberviolência faz parte de um mecanismo global de dominação, que também
envolve a violência física ou psicológica. Para o agressor, é mais uma forma de
manter o controle da situação. A maioria dos homens tem medo de ser gravado
cometendo agressões.
Sete em cada dez
mulheres ouvidas na pesquisa relataram que seus cônjuges as proibiram de se
comunicar com alguém. A metade delas já teve o telefone confiscado pelos
maridos ou companheiros.
Pelo menos 20% das
mulheres vítimas de violência conjugal disseram que seus parceiros instalaram
aplicativos espiões em seus celulares para gravar suas comunicações. As que
procuraram ajuda em associações e frequentam grupos de conversa de pessoas na
mesma situação costumam desligar seus aparelhos antes de chegar para não serem
localizadas pelo GPS. Na internet, é muito fácil comprar um aplicativo espião,
ferramenta que passou a fazer parte do arsenal de assédio dos agressores.
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