Uma funcionária de
muitos anos da Universidade
de São Paulo, onde eu trabalho, me perguntou outro
dia: “Professor, por que eu sempre acordo sem fome?” Para responder essa
questão, eu preciso explicar alguns conceitos antes. Mas já adianto: em geral,
a falta de fome nesse momento não é um bom sinal para quem deseja emagrecer.
Durante muitos anos, as
pessoas acreditavam que deveriam evitar alimentos contendo carboidratos no jantar.
Graças a confusões conceituais, a expressão “não como carboidrato” se difundiu
e persiste até hoje no imaginário de muita gente.
Porém, ao reduzir a
ingestão de alimentos ricos em carboidratos, estamos priorizando a de comidas
repletas de proteína e gordura. Tudo bem, mas qual a relação disso com a falta
de fome pela manhã?
Aqui vamos usar de uma
licença acadêmico/cientifica. O consumo de alimentos com maior concentração de
lipídios (conhecidos popularmente como gorduras) promove a liberação de um hormônio
chamado CCK, ou colecistocinina. Essa substância diminui a velocidade dos
processos digestivos e inibe a fome no sistema nervoso central.
Voltando à linguagem
comum: você se lembra da última vez que comeu uma feijoada? Aposto que ficou
sem fome por várias horas, não é? Está aí a prova de que o excesso de gordura
nos deixa sem vontade de comer por um bom tempo.
Pois é mais ou menos
isso que acontece quando privamos nossa ingestão noturna de alimentos com
carboidratos. Nós provavelmente privilegiaremos a ingestão de proteínas e
lipídios, teremos uma digestão lenta ao longo de toda a noite e,
consequentemente, acordaremos ainda processando aquela refeição no intestino,
sem fome.
Mas isso não nos
ajudaria a emagrecer? A lenda da restrição de carboidrato à noite tem início na
afirmação que, ao dormir, reduzimos nossa necessidade de energia e, portanto,
não precisamos de carboidratos. Só que os lipídios fornecem mais que o
dobro de calorias do que os carboidratos. Confira comigo: 1 grama de
carboidrato é igual a 4 calorias, enquanto 1 grama de gordura equivale a 9
calorias.
Conclusão: ao ingerir
mais alimentos contendo lipídios em período próximo ao descanso, teremos um
nutriente energeticamente mais rico e sem “custo” para ser convertido em
gordura, pois já é gordura! Por sua vez, o carboidrato, se transformado em
gordura, terá o “custo” energético dessa conversão.
Para terminar, no livro O Fim das Dietas,
mostro que, ao acordar sem fome, você até pode comer menos no café da manhã.
Mas, aí, acaba compensando no almoço e mesmo nos lanches da tarde.
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