O bullying e a violência entre crianças e adolescentes estão entre os
problemas com maiores consequências para a saúde física e mental na juventude
e, muitas vezes, para a vida. Intervenções para evitar essas agressões no
ambiente escolar, ou pelo menos para reduzir os danos causados por elas são
fundamentais, mas ainda são necessárias pesquisas para se definir quais os
modelos que funcionam melhor.
Um projeto desenvolvido por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina
Tropical de Londres e da Universidade College London trouxe resultados
positivos no combate ao bullying e pode servir de inspiração para educadores e
mesmo para os pais que cobram iniciativas das escolas.
O que é mais interessante é que a intervenção, chamado de Learning
Together (Aprendendo Juntos), teve efeito sobre comportamentos de risco, como
consumo de álcool, tabaco e drogas.
O Aprendendo Juntos se baseia em três agordagens que outros estudos já
indicaram como promissoras no combate ao bullying. A primeira é o envolvimento
da escola como um todo, em vez de concentrar o assunto em alguma aula especial
ou curso. A segunda é a educação social emocional, que inclui lições sobre como
identificar e gerenciar emoções, administrar relacionamentos e, como resultado,
ter mais saúde mental.
A terceira parte do projeto é o que os especialistas chamam de
"práticas restaurativas", que envolve a comunicação entre vítimas e
agressores para que esses últimos reconheçam seu comportamento inadequado e
suas consequências. Isso pode ser feito, por exemplo, em rodas de conversa com
o professor. Todos os funcionários foram treinados para isso, e ainda contaram
com um manual escrito e um orientador externo.
O Aprendendo Juntos foi aplicado em 20 escolas e outras 20 que não
receberam a intervenção participaram do estudo como controle. A pesquisa toda
durou três anos, sendo que o primeiro foi mais concentrado na preparação dos
funcionários. Ao todo, participaram cerca de 6.000 alunos de ensino médio.
O programa teve um impacto maior para os meninos e estudantes com
histórico de vitimização – eles relataram menor incidência de assédio moral e
melhores índices de bem-estar após o projeto. Os pesquisadores ressaltam que a
incidência de humilhações melhorou, mas não foi tão eficaz na incidência de
agressões físicas, como brigas, que nem sempre têm relação direta com a
vitimização.
Os alunos das escolas que adotaram o projeto apresentaram menores taxas
de tabagismo (16%, em comparação com 23% registrados nas escolas que serviram
de controle), uso de álcool (38% contra 44%) e experimentação de drogas
ilícitas (7% contra 11%).
A implementação do Aprendendo Juntos custou o equivalente a 290 reais por
aluno, o que, segundo os pesquisadores, é barato para o Reino Unido. E a
vantagem é que o programa foi capaz de atuar em várias frentes ao mesmo tempo –
em geral, as escolas investem em um projeto específico para bullying e outro
para álcool e drogas.
Claro que seria necessário testar o projeto em outros países para saber
se os resultados positivos se aplicam a outras realidades. Mas alguns aspectos
parecem ser componentes obrigatórios para o combate ao bullying: envolver todos
os funcionários e alunos, incentivar a comunicação e, acima de tudo, ensinar
habilidades sociais e emocionais.
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