Um estudo
publicado por pesquisadores brasileiros na revista Molecular Biology Reports
sugere a existência de mutações no genoma mitocondrial que podem favorecer a
progressão do tumor peniano.
A descoberta aproxima a medicina de uma nova
terapia para tratar a doença.
A principal função da
mitocôndria é fornecer a maior parte da energia útil das células, por meio do
processo chamado de respiração celular. Em uma única célula humana, por
exemplo, há cerca de 10 mil mitocôndrias, cada uma delas contendo milhares de
cópias do DNA mitocondrial.
"A característica
principal que define as células tumorais é o seu crescimento e multiplicação
descontrolados, formando tumores. Para crescer, os tumores precisam de muita
energia, e a fonte desta energia são as mitocôndrias. Logo, faz sentido
pensar que a célula tumoral utilize mecanismos que possam preservá-las. Nesse
contexto a mitocôndria e seu genoma tem um papel crucial", explica Rodolfo
Borges dos Reis, professor na FMRP-USP e o autor principal do estudo.
"Foi demonstrado
que a mitocôndria tem um papel importante na progressão de diversos tipos de
tumores. No caso do tumor peniano, as alterações do genoma mitocondrial não
haviam ainda sido descritas", diz Reis.
Primeira vez que se
estabelece vínculo entre câncer peniano e genoma mitocondrial.
Utilizando
sequenciamento de nova geração, os pesquisadores analisaram o genoma
mitocondrial de 13 tumores penianos (de 13 pacientes) e 12 amostras de tecido
peniano saudável.
O sequenciamento
revelou um aumento do número de variantes de DNA mitocondrial no tecido
tumoral, confirmando o aumento da instabilidade do genoma mitocondrial nos
tumores penianos.
"Descrevemos uma
lista de variantes mitocondriais encontradas no tumor do pênis, incluindo cinco
novas variantes encontradas especificamente no tecido tumoral. Avaliamos ainda
a patogenicidade das variantes, ou seja, a capacidade das variantes em
contribuir para a evolução da doença", conta Reis.
O estudo foi o primeiro
a estabelecer um vínculo entre o câncer
peniano e o genoma mitocondrial. O trabalho dos pesquisadores indica que a
melhor compreensão da biologia mitocondrial pode, eventualmente, abrir um novo
campo para a terapia no carcinoma peniano.
Câncer de pênis é comum
no Brasil.
O câncer de pênis é um
tumor raro nos países desenvolvidos, representando cerca de 0,4% das neoplasias
malignas em homens, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil a incidência é
bem maior. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), esse tipo de tumor
corresponde a 2% de todos os casos de câncer que atingem o homem.
A doença é causada
principalmente pela falta de higiene íntima e tem forte prevalência em homens
com fimose. "Quem se submete à cirurgia de fimose tem menores chances de
desenvolver a doença", diz Reis.
Esse tipo de câncer
inicialmente não apresenta sintomas, mas tem como causa principal o acúmulo
de secreções na glande. Essa "sujeira" pode evoluir para uma
lesão tumoral com possibilidade de progredir localmente ou a distância.
Em muitos casos, os
doentes procuram ajuda quando o pênis já está muito acometido, muitas vezes com
a lesão já infectada e invadindo as estruturas penianas. Infelizmente, nesse
estágio, a terapia é pouca efetiva. Desse modo, a cirurgia, amputação
parcial ou total do órgão, ainda é o principal método terapêutico. Segundo
o Datasus, são realizadas cerca de mil amputações penianas ao ano no Brasil.
*Com
informações da Agência Fapesp.
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