Quem trabalha com
crianças e adolescentes sabe o quanto o bem-estar dos pais é importante para o
equilíbrio emocional dos filhos. Sobretudo das mães, que costumam estar mais
próximas deles e acumulam mais funções no cuidado da casa e da família, mesmo
quando trabalham fora.
Hoje é mais comum ver
um homem que lava louça e dá banho nos filhos. Mas o que mais sobrecarrega as
mães é aquilo que ninguém percebe que é feito, o chamado “trabalho invisível”:
conferir a lição de casa do filho, providenciar as refeições, comprar o
material escolar no prazo certo, falar com a professora, garantir que não falte
papel higiênico no banheiro e assim por diante.
Essas tarefas de
administração do lar exigem esforço mental e emocional e têm um forte impacto
na saúde mental das mulheres, como mostra um estudo nas universidades estaduais
do Arizona e de Oklahoma, nos EUA. Os pesquisadores entrevistaram 393 mães
norte-americanas com filhos menores de idade, casadas ou em união estável. A
amostra incluiu mulheres de classe média alta, com boa qualificação, sendo que
70% tinham ao menos um curso universitário completo.
Os pesquisadores
mediram o peso do trabalho doméstico com perguntas divididas em três categorias
de cuidado: organizar os horários da família, promover o bem-estar das crianças
e tomar decisões financeiras. Depois, eles analisaram o impacto dessas tarefas
no bem-estar das mulheres.
Do total de
entrevistadas, 65% estavam empregadas. Nove entre 10 afirmaram se sentir as
únicas responsáveis por organizar os horários da família, como marcar o
dentista para o filho, lembrar que tem festa de aniversário no fim de semana
etc. Sete entre 10 disseram que também eram encarregadas por outras rotinas
familiares, como decidir quem faz as compras ou providencia o jantar. Quase 8
em 10 responderam que eram a principal interface com os professores e
funcionários da escola dos filhos.
Dois terços das mães
também relataram ser as principais responsáveis por atender às necessidades
emocionais das crianças. Ou seja: em geral é à mãe que o filho recorre
quando está angustiado com alguma coisa. E essa categoria – o cuidado com o
bem-estar dos filhos – é a que mais aflige as mulheres, segundo a pesquisa, que
foi publicada no periódico Sex Roles.
Incutir valores nas
crianças, porém, é algo que a maioria (72%) definiu como responsabilidade
compartilhada com os pais, bem como as decisões financeiras. Os pesquisadores
acreditavam que esse papel mais ativo da mulher no controle do dinheiro poderia
ter um efeito positivo no bem-estar das entrevistadas, mas as entrevistas
mostraram que não. A responsabilidade pesa porque é um item a mais para se
preocuparem.
É bom lembrar que o
estudo foi feito num país em que a divisão de tarefas já faz parte da cultura.
No Brasil, mesmo o trabalho físico, aquele fácil de ser visto e mensurado,
também está nas mãos das mulheres. Uma análise divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, revelou que 95,%
delas cuidam das refeições, contra 59,8% deles. Mais de 90% cuidam da limpeza e
manutenção das roupas e sapatos, contra apenas 56% dos homens.
A Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) indicou que eles só são mais ativos no que se
refere a pequenos reparos e serviços de manutenção da casa. No balanço final,
enquanto elas gastam mais de 20 horas por semana com tarefas do lar, eles
gastam menos de 11, ainda que as mulheres já representem quase metade da
população economicamente ativa no país.
A sobrecarga provocada
por todo esse trabalho “invisível” gera insatisfação com a vida e com o
parceiro, e, claro, tem reflexo no sucesso e na saúde mental dos filhos. Se a
gente quer que eles se saiam bem, é preciso garantir que essas mães também
sejam cuidadas. Relacionamentos são o melhor escudo contra o estresse, e
isso vale tanto para crianças quanto para adultos. Por isso, os pesquisadores
norte-americanos comentam que fazer parte de um grupo de mães é uma medida que
comprovadamente ajuda. Ainda mais quando o parceiro não assume muitas
responsabilidades.
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