As severas perdas de
massa óssea que pacientes sofrem após se submeterem a cirurgias bariátricas
podem ser atenuadas com exercícios físicos. A constatação é de uma pesquisa
feita na USP com mulheres que passaram pela intervenção cirúrgica no HCFMUSP
(Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Após a recuperação do pós-operatório, as pacientes foram acompanhadas durante
seis meses em um programa de treinamento físico, incluindo exercícios aeróbicos
e de força. Os dados foram compilados recentemente e um artigo sobre o assunto foi
publicado no The Journal of Clinical Endocrinoloy & Metabolism.
Segundo Hamilton
Roschel, coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da
EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) e da Faculdade de Medicina - um dos
autores do artigo -, a pesquisa procurou investigar o possível papel
terapêutico do exercício físico como estratégia para mitigar a redução da
densidade mineral óssea, um dos efeitos adversos clássicos advindos da cirurgia
bariátrica.
Dessa forma, após três
meses do procedimento cirúrgico, o tempo considerado de recuperação, as
pacientes foram divididas em dois grupos: para um deles, foi indicado um
programa de treinamento estruturado com exercícios físicos de força
(musculação) e aeróbico (caminhada), três vezes por semana; enquanto o outro
grupo recebeu o tratamento padrão pós-cirurgia, que inclui recomendações gerais
para um estilo de vida saudável.
Roschel explica que
embora se saiba que exercícios de maior impacto sejam os mais recomendados para
ganho de massa óssea, um programa de exercícios composto por exercícios
convencionais como caminhada e musculação se mostrou suficiente para atenuar as
perdas de massa óssea nessa população.
As pacientes, que
tinham idade entre 18 e 60 anos, foram avaliadas em três períodos, antes da
cirurgia, três meses após o procedimento cirúrgico (quando era dado início ao
programa de exercícios) e seis meses após o início do treino, passando, entre
outros, por exames de densitometria, que mediu a densidade mineral óssea de
diferentes regiões do corpo - a região lombar, fêmur, raio distal (osso do
braço), quadril e corpo total.
Os dados foram
coletados entre 2015 e 2018 e, segundo Roschel, todas as pacientes que fizeram
a cirurgia tiveram queda da densidade mineral óssea; no entanto, aquelas que
não se engajaram aos exercícios continuaram a perder massa óssea de forma
significativa ao longo do período do estudo, ao passo que a perda foi atenuada
de maneira bastante importante no grupo que se exercitou.
O pesquisador destaca a
importância destes resultados porque demonstram o efeito protetor do exercício
sobre os ossos. Recentemente, outro grupo de pesquisa demonstrou que quem faz
esse tipo de cirurgia tem mais chances de sofrer fraturas por conta desta
deterioração óssea. O fêmur, por exemplo, é a parte do corpo que sofre o maior
número de fratura. "E foi justamente essa região que foi mais bem
protegida pela atividade física", diz Roschel.
Cirurgia
bariátrica/metabólica.
A cirurgia bariátrica
não é recomendada apenas para perda de peso para obesos mórbidos. Também tem
sido indicada como forma de tratamento e regulação dos níveis metabólicos do
organismo, como o controle do diabetes
e a hipertensão, problemas de saúde
que são agravados ou associados ao excesso de gordura corporal.
O Brasil é o segundo
país com maior número de cirurgias desse tipo, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos. Porém, Roschel alerta que há inúmeros efeitos colaterais oriundos do
procedimento. A perda de massa óssea é um deles, que se inicia logo após a
cirurgia, podendo permanecer ao longo de anos. A perda ocorre devido a
múltiplos fatores, incluindo má absorção de vitamina D, do cálcio, perda de
massa muscular e alterações no metabolismo ósseo, completa.
O estudo é co-liderado
pelo professor Bruno Gualano e foi conduzido pelos alunos de pós-graduação Igor
Murai, Saulo Gil, Wagner Dantas e Carlos Merege. A pesquisa contou com
financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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