Todas as manhãs o
girassol parte em busca do sol, seguindo a luminosidade insistentemente, porque
precisa dela para crescer e florescer. Mesmo quando o sol está escondido entre
as nuvens, a flor gira persistente, apesar da dificuldade, em direção à luz. Em
alusão a esse comportamento da natureza, o girassol foi escolhido como símbolo
da campanha "Na Direção da Vida - Depressão sem Tabu",
iniciativa do movimento mundial Setembro Amarelo, que tem o objetivo de abrir o
diálogo e alertar a sociedade sobre o tema.
A campanha conduzida
pela Upjohn, uma das divisões de um laboratório farmacêutico focada em doenças
crônicas não transmissíveis, em parceria com a Abrata (Associação Brasileira de
Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e participação do CVV
(Centro de Valorização à Vida), trará ações digitais e de rua para combater os
estigmas da depressão. O trabalho tem ainda o apoio de músicos, esportistas e
influenciadores digitais que já passaram ou passam pelo problema, dividindo suas
experiências.
Os usuários de redes
sociais serão convidados a postar o ícone do girassol para mostrar que estão
dispostos a falar sobre o assunto #depressaosemtabu. Eles também poderão
conhecer o site
do projeto, que traz informações sobre o tema e orientações sobre a
identificação de comportamentos de risco em pessoas próximas.
"Queremos levar
informação às pessoas. Quem visitar o local será convidado a deixar uma
mensagem de coragem e apoio aos pacientes. Ao final, essas flores serão
recolhidas e doadas para uma organização não governamental, que as transformará
em buquês para serem distribuídos a pessoas que estão em tratamento",
explicou a neurologista da Upjohn, Elizabeth Bilevicius.
Depressão
e suicídio.
Segundo Bilevicius,
para tratar a depressão e evitar o suicídio, o primeiro passo é ver a doença
como um problema que precisa ser tratado. "Precisamos criar uma atmosfera
de confiança para o paciente se sentir à vontade para dizer que tem a doença e
legitimar o que ele sente. Essa é uma forma de encorajar a busca por ajuda
adequada, criando um ambiente social mais empático e melhor informado para
ajudar essa pessoa", disse.
De acordo com as
informações da Upjohn, mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a
distúrbios mentais e transtornos do humor. A depressão é o diagnóstico mais
frequente, aparecendo em 36% das vítimas. O aumento dos casos entre os mais
novos e com prevalência entre os homens faz da depressão a quarta maior causa de
suicídio entre jovens no país. Outras doenças que podem ser tratadas, como o
alcoolismo, a esquizofrenia e transtornos de personalidade, também afetam esses
pacientes e por isso afirma-se que o suicídio pode ser evitado na maioria das
vezes.
Dados da OMS (Organização
Mundial da Saúde) mostram que o Brasil é o país com maior percentual de
depressão na América Latina, chegando a 5,8% da população, o que corresponde a
12 milhões de brasileiros. A taxa é maior do que o valor global, que é de 4,4%.
Igualmente maior do que em outros países, a taxa de suicídio entre adolescentes
de 10 a 19 anos aumentou 24% de 2006 a 2015. A cada 46 minutos alguém tira a
própria vida no Brasil.
O psiquiatra Teng Chei
Tung, coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do IPq
(Instituto de Psiquiatria) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo) e vice-coordenador da Comissão de
Emergência Psiquiátrica da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), explicou
que a alta incidência entre os jovens está ligada à grande expectativa externa
e interna de que eles se comportem como adultos, mesmo sem ter ainda as
habilidades de um adulto, e à pressão de que o adolescente seja pleno, potente,
competente e reconhecido.
"Então ele faz as
coisas, erra e se frustra. Nessas frustrações os jovens podem entrar na
depressão. Os preconceitos são os mesmos e são agravados pela desinformação.
Para o jovem existe a influência do pensamento de que a saúde mental é só uma
questão social, existencial e psicológica", afirmou.
Teng disse que sentir
tristeza é normal e que a frustração sempre traz alguma tristeza passageira,
mas é preciso que as pessoas próximas fiquem atentas para perceber quando esse
estado já se tornou uma depressão. Segundo ele, a tristeza é algo que gera
introspecção, provoca reflexão e crescimento, mas o deprimido fica
introspectivo por vários dias e semanas.
"Um dos parâmetros
é quando há sofrimento excessivo e quando começa a causar real prejuízo. Afeta
as relações interpessoais, produtividade no trabalho, ou sofrimento individual,
ou seja, a pessoa está sofrendo mais do que que precisaria naquela situação.
Não é que não pode ter tristeza e emoção, mas isso não pode prejudicar a pessoa
a ponto de afetá-la fisicamente", destacou.
Para Teng, a melhor
forma de falar sobre a depressão é deixar claro que ela é uma doença que
apresenta alterações biológicas e fisiológicas, envolvendo fatores genéticos e
estruturais, o que significa que a pessoa nasce com a tendência de desenvolver
o quadro depressivo. O tratamento inclui, principalmente, melhorar o estilo de
vida. "Quem tem depressão precisa se equilibrar e cuidar da saúde, para
não ter de novo a doença", disse o médico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário