quarta-feira, 26 de maio de 2021

DISTÚRBIO DE APRENDIZADO DA MATEMÁTICA MERECE ATENÇÃO DOS PAIS NA PANDEMIA...

FONTE: , Constanca Tatsch, https://extra.globo.com/  

Seu filho tem dificuldade nas aulas de matemática? Muitas vezes ela é pontual e pode ser superada com um reforço ou mudança de metodologia. Mas se for algo persistente, é preciso considerar a possibilidade da discalculia, um transtorno de aprendizagem ligado especificamente à disciplina. A discalculia é um transtorno de neurodesenvolvimento: a pessoa nasce com essa dificuldade em compreender e interpretar números, sequências numéricas e símbolos da matemática. Geralmente a escola é a primeira a observar o problema. No entanto, com a pandemia, é importante que os pais também fiquem atentos. Não basta saber contar até dez, isso pode ser decorado, é preciso compreender que dez equivale a dez palitinhos sobre a mesa, por exemplo, relacionando quantidades com números, assim como conceitos de mais ou maior.

O transtorno é como um primo da dislexia, que é mais relacionada à leitura. Muitas vezes, mas não sempre, os dois vêm juntos.

— É importante informar que as crianças portadoras desse transtorno têm inteligência normal ou até acima da média, da mesma forma que os disléxicos, não há rebaixamento intelectual. A dificuldade é específica no cálculo da matemática e em lidar com os números. Isso tem a ver com a formação de circuitos cerebrais, uma desordem no caminho das conexões — afirma Gesika Amorim, pediatra especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental.

Acredita-se que até 5% da população sofram com algum grau de discalculia, que pode ser mais leve ou mais severa. Os primeiros sinais surgem no ensino fundamental, aos 6, 7 anos, mas em alguns casos aparece antes, aos 5 anos. No ensino médio, o transtorno já deve estar identificado.

Uma vez identificada, a criança com discalculia precisa de atendimento de uma equipe multidisciplinar de psicopedagogo, neuropsicólogo e até o fonoaudiólogo, como explica a professora Marta Relvas, autora do livro “Neurociência e os Transtornos da Aprendizagem”, publicado pela Wak Editora.

— A discalculia precisa de acompanhamento por profissionais, que com treinamento, como exercícios e atividades de estimulação cognitiva, conseguem ajudar o cérebro a criar “rotas alternativas” para o transtorno. Com isso, as pessoas podem viver normalmente e, no futuro, serem bem colocadas no mercado de trabalho — afirma Relvas.

Luiz Henrique tem 16 anos e sonha em ser veterinário. Tem talento excepcional com plantas, faz lindos arranjos, e bichos, mas não se dá bem com números: ele tem discalculia severa.

A sua mãe, a pedagoga Vanessa Braga Gomes, 44, moradora de Itaperuna, no noroeste do estado, conta que Henrique sempre esteve aquém nas turmas que estudava. Quando pequeno não conseguia contar até cinco, nem entendia a ordem dos números. Quando chegou a época da alfabetização, por volta dos seis anos, foi feita uma avaliação neuropsicológica por uma psicóloga especializada e identificada a dislexia e a discalculia severa.

— Nessa avaliação, ela mediu QI e habilidades para matemática, língua portuguesa, memória, todo o necessário para desenvolver na escolaridade. Ele tinha QI bom, até acima da média, mas ficou abaixo no resto. Ele não aprendia, e a matemática sempre foi um problema muito grande.

Ainda hoje, Henrique não sabe a ordem dos meses do ano, não consegue entender sequências ou ver horas. Faz operações básicas, mas agora, no primeiro ano do ensino médio, não executa equações de segundo grau ou raiz quadrada, por exemplo. Assim, tem currículo adaptado em matemática e nas disciplinas que dependem dela como química e física.

— Ele se achava burro porque não conseguia, mas quando diagnosticou a discalculia disse ‘graças a Deus porque não sou burro’ — conta a mãe.

Houve temor que Henrique não fosse alfabetizado. Foi passando de série e aprendendo um pouco a cada ano até que, aos 9 anos, aprendeu a ler de repente, como se “o interruptor tivesse sido ligado”, diz Gomes.

Vai à psicóloga onde faz jogos, aprende a trabalhar sequências, exercícios, e usa o ábaco para fazer operações. No colégio técnico agrícola tem aulas práticas que ensinam diversas atividades.

— É uma forma de pensar diferente. Talvez ele não consiga fazer uma faculdade, ou pode ser da mesma maneira que houve com a leitura. É inteligentíssimo com plantas e animais. O que queremos é que ele tenha viva bem e tenha autonomia.

Sinais da Discalculia.

 

O que é o transtorno de aprendizagem na matemática.

 

Os primeiros sinais aparecem entre seis e sete anos, na fase escolar:

- Dificuldade em contar números e avançar na sua complexidade;

- Não compreender alternância numérica, quem é par ou impar;

- Não entender unidades de dezenas e centenas;

- Não diferenciar os sinais de mais, menos, divisão e multiplicação;

- Dificuldade com sequências, mesmo dos dias da semana e meses;

- Não entender diferença entre quantidades e medidas.

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