FONTE: , Raphaela Ramos, https://extra.globo.com/
A espiritualidade de uma pessoa pode interferir na sua saúde? É capaz de auxiliar na recuperação e tratamento de doenças? Pesquisadores no Brasil e no mundo têm explorado essas questões há alguns anos. E estudos recentes indicam que as práticas espirituais podem trazer benefícios para a saúde, sim: não apenas mental, mas também física.
A espiritualidade pode ser definida como um conjunto de valores morais, mentais e emocionais, que norteiam pensamentos e comportamentos. Ela pode, mas não precisa estar relacionada a uma religião, explica Roberto Esporcatte, presidente do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
— É um sentido maior, entendemos como valores que o indivíduo tem e que utiliza na convivência com ele próprio, com a família e a sociedade. Pode ter como base crenças religiosas ou não. É possível ser muito religioso, mas pouco espiritualizado. Por outro lado, a pessoa pode ter uma transcendência, conexão com uma força maior do universo, mas não seguir uma religião — afirma.
Frederico Leão, coordenador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a relação entre espiritualidade e saúde é milenar.
— Em determinados momentos isso fica mais próximo ou distante. Nos últimos tempos, houve distanciamento, mas a partir da década de 80 foram publicados trabalhos importantes sobre essa relação — explica Leão.
Segundo os pesquisadores, estudos nos últimos anos apontam que, de maneira geral, pessoas mais espiritualizadas, com maior com propósito de vida, vivem com mais qualidade e por mais tempo. Melhores níveis de pressão arterial e comportamentos sociais mais saudáveis, como menos consumo de álcool e cigarro, são alguns benefícios citados por eles.
Profissionais de saúde.
Os pesquisadores também destacam a importância de que a espiritualidade seja abordada pelos profissionais de saúde durante atendimentos médicos.
— Os pacientes querem falar sobre isso, traz conforto. Mas a maioria dos agentes de saúde não fala porque não tem treinamento. Essa prática traz benefícios, mas é preciso treinamento para saber conduzir — afirma Leão.
Esporcatte explica que, na maior parte das vezes, as pessoas mais espiritualizadas são menos estressadas, mais calmas, resilientes, gratas e têm uma dimensão de vidas material e não material que favorece o enfrentamento de doenças. Por outro lado, em alguns casos, essa relação pode ter influência negativa em tratamentos.
— Se o paciente faz uma leitura de que o adoecimento é uma punição, que tem culpa pelo que está passando ou que a religião não o ajudou a passar por isso, ele fica revoltado e faz um enfrentamento negativo. Pode aderir menos ao tratamento, seguir menos as orientações — afirma Esporcatte.
Afastamento na pandemia.
Na busca pela espiritualidade, cada um deve seguir o caminho que traz mais conforto, explica o especialista da SBC. Ele cita a meditação como meio de ter equilíbrio, com cunho religioso ou não.
— A pandemia tem gerado distanciamento da religiosidade e espiritualidade. Para muitas pessoas, a não frequência às reuniões religiosas está representando afastamento e perda desse momento de reflexão e vida social. Temos orientado que as pessoas busquem alternativas, como reuniões à distância, e que procurem manter uma sintonia de equilíbrio — conta Esporcatte.
Leão diz que o governo brasileiro engloba 29 tipos de práticas integrativas no Sistema Único de Saúde:
— A Organização Mundial da Saúde vem discutindo a dimensão espiritual e preconiza práticas integrativas e complementares, como medicina chinesa, ayurveda, homeopatia, acupuntura.
Benefícios da espiritualidade para a saúde
Estudos apontam uma série de benefícios para pessoas mais espiritualizadas:
- Melhores níveis de pressão arterial e menos doença cardiovascular
- Melhor funcionamento da parte metabólica
- Controle de glicose e do colesterol
- Melhor funcionamento do aparelho respiratório
- Comportamentos mais saudáveis, com menos consumo de álcool e cigarro
- Menos depressão
- Menor incidência de câncer
- Vivem mais tempo
- Menos uso de medicamentos e busca por atendimento médico
*** Fontes: Roberto Esporcatte, presidente do Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da SBC e Frederico Leão, coordenador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade do IPq/USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário