Desde que era
criança, Karen Quinn tinha muita dificuldade na hora de engolir as pílulas. Não
importa se são vitaminas ou aspirinas, as pílulas sempre acabam presas na
garganta e ela entre em pânico.
"Eu engasgo com qualquer
coisa maior que uma uva passa. Quando quero tomar vitaminas de 'gente grande',
tenho que abrir a cápsula e misturar tudo com aveia, o que sempre estraga o
sabor. Por isso, faço o possível para sempre tomar aquelas vitaminas
gelatinosas", afirmou Karen, que é dona de uma empresa que prepara
crianças para provas.
A maioria das
crianças começa a tomar pílulas quando chega aos 10 anos de idade, de acordo
com a doutora Tanya Altmann, pediatra de Calabasas, na Califórnia, e porta-voz
da Academia Americana de Pediatria. Além disso, de 20 a 40 por cento das
crianças não conseguem engolir pílulas ou cápsulas de tamanho padrão, de acordo
com um estudo publicado recentemente pela revista científica Pediatrics.
"A idade não faz
muita diferença na capacidade de engolir pílulas. Os adolescentes podem ter os
mesmos problemas de uma criança de cinco anos. Isso provavelmente tem a ver com
a ansiedade e associações negativas com os remédios", afirmou a
pesquisadora líder do estudo, doutora Kathleen Bradford, professora de
Pediatria da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill.
Muitas pessoas nunca
superam o problema. A Harris Interactive relatou que 40 por cento dos adultos
norte-americanos têm dificuldades para engolir pílulas, mesmo que a maioria das
pessoas não tenha problemas na hora de engolir alimentos ou líquidos. Oito por
cento dos entrevistados contaram que não gostam da sensação da pílula grudada
na garganta, ao passo que 48 por cento afirmaram que as pílulas deixavam um
gosto ruim na boca, e 32 por cento contaram que as pílulas as fazem engasgar.
Um estudo envolvendo
1.051 adultos, publicado pela Revista Europeia de Farmacologia Clínica, obteve
números similares: 30 por cento das pessoas revelaram ter dificuldades para
engolir pílulas, e quase 10 por cento dos entrevistados haviam parado de tomar
medicamentos em decorrência do problema.
"As pílulas são
substâncias sólidas. Ao longo da vida aprendemos que precisamos mastigar tudo o
que é sólido. É preciso realizar uma mudança mental para relaxar a garganta e
engolir objetos que podem nos fazer engasgar", afirmou Leanne Goldberg,
patologista de fala e linguagem do Hospital Mount Sinai, em Nova York,
especializada em tratar problemas vocais e ligados à incapacidade de engolir.
Embora alguns
medicamentos possam ser moídos ou tomados em forma líquida, medicamentos de
liberação prolongada ou outros com determinados tipos de cobertura não podem
ser quebrados ou moídos.
"Cada pessoa com
dificuldades tem razões diferentes. Às vezes, é um paciente muito doente que precisa
tomar vários medicamentos e é assim que manifesta suas emoções. Outros podem
ter medo de engasgar e ficam ansiosos. E ainda há pessoas hipersensíveis",
afirmou Leanne.
Também existem outras
razões fisiológicas, como distúrbio de refluxo gastrintestinal, escleroderma,
uma espécie de cicatriz que pode enfraquecer o anel inferior do esôfago, sem
falar na aversão ao sabor das pílulas. "Questões emocionais ou de
ansiedade, geralmente oriundas de experiências anteriores também são um fator
importante", afirmou.
Contudo, simplesmente
as pessoas não gostam de engolir medicamento. Essa é uma das razões para que
métodos alternativos para o consumo de vitaminas e suplementos -- como spray,
pó, balas mastigáveis ou líquidos -- estejam se tornado tão populares.
Os autores do estudo
publicado na revista Pediatrics, que revisaram pesquisas sobre o consumo de
pílulas, determinaram que diversas técnicas -- terapia comportamental, copos
especializados, sprays aromatizados, instruções verbais e treinamento postural
-- podem ajudar crianças de apenas quatro anos a engolir com mais facilidade.
Esses métodos também podem ajudar os adultos.
As crianças podem
tentar começar colocando água na boca, por exemplo, colocando a pílula na boca
cheia de água -- ou também podem fazer o contrário. Com crianças pequenas,
imagens instrutivas também podem ajudar, exibindo a língua como um tobogã e a
pílula escorregando por ele e descendo junto com a água até a piscina, que é o
estômago, afirmou Kathleen Bradford.
Copos criados
especialmente para engolir pílulas, vendidos em farmácias ou pela internet,
ajudam o usuário a bebê-la -- o copo fica cheio de líquido e o medicamento é
colocado em um reservatório, para que o líquido e a pílula se misturem na boca.
Um estudo publicado
em 2014 envolvendo 151 adultos com até 85 anos de idade, publicado na revista
The Annals of Family Medicine, relatou que o método da garrafa pode ajudar na
hora de engolir pílulas maiores. O remédio é colocado na língua e os lábios
envolvem a boca de uma garrafa de plástico. Em seguida "a pílula é
envolvida em um movimento de sucção rápido que faz o medicamento ser engolido
de forma inconsciente", afirmam os autores.
O método da
"inclinação frontal" funciona com pessoas que evitam as pílulas.
Basta colocar a cápsula na língua, tomar um gole não muito grande de água e
inclinar o queixo para frente enquanto engole".
Os pesquisadores não
testaram esses métodos com crianças, mas "não há razão para crer que eles
não funcionem, já que as propriedades físicas da pílula obviamente independem
da idade do paciente", afirmou o principal autor do estudo, o doutor
Walter E. Haefeli, diretor do departamento de Farmacologia Clínica e
Farmacoepidemiologia do Hospital da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, em
uma entrevista por e-mail.
Tanya Altmann instrui
os pacientes a apertar um pedaço de miolo de pão até ficar do tamanho de um Tic
Tac e engolí-lo -- uma técnica que inventou quando ainda era criança para
aprender a tomar remédios. "Mentalmente, você sabe que o pão é macio, não
duro. Então não fica mais tão difícil de engolir", afirmou. Em seguida ela
instrui os pacientes a aumentar gradativamente o tamanho do miolo de pão, até
ficar do tamanho de um M&M. (O mesmo método funciona com balas e essa é uma
das poucas ocasiões em que um médico irá indicar o consumo de doces.)
A última opção é dar
medicamentos líquidos ao invés de pílulas aos pacientes, especialmente se o
sabor for tenebroso. "Se o gosto for tão ruim que não dá para engolir,
isso já serve de motivação suficiente para que o paciente prefira a
pílula", contou.
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